Quem diria que um dia seria possível deslocarmo-nos de uma ponta do globo à outra através do céu? É muita inovação, contudo, há algo que não nos parece tão sofisticado: os cintos de segurança para os passageiros.

O site Atlas Obscura (AO) debruçou-se sobre o tema e existem algumas razões para que estes cintos de segurança assim se mantenham desde a década de 70. O tipo de risco que os passageiros enfrentam e as questões monetárias são os principais motivos. Descubra a seguir.

Cinto de segurança de dois pontos

O cinto de segurança mais utilizado nas cabines de avião para passageiros nos dias de hoje já era antiquado em 1972, altura em que a sua existência passou a ser obrigatória nos aviões comerciais devido a uma maior preocupação e regulamentação da segurança na aviação. É conhecido como cinto de segurança de dois pontos, pois atua ao nível subabdominal e distribui a força em si exercida apenas em dois pontos de apoio.

O cinto de segurança padrão (utilizado nas classes económicas e em grande parte das restantes classes dos voos comerciais) ou o cinto de segurança de dois pontos/abdominal também era utilizado pelos automóveis comerciais no passado. A partir de 1959, começaram a ser substituídos pelos cintos de segurança de três pontos, que atuam tanto na zona do quadril como na área toráxica.

Atualmente, o cinto de segurança de três pontos é utilizado na maioria dos automóveis. Apenas, os assentos do meio dos carros utilizam o cinto de dois pontos. Já no transporte aéreo, o cinto de dois pontos é utilizado em toda a cabine para passageiros da classe económica mas também se encontra na primeira classe e classe executiva, dependendo do modelo do avião.

Embora o orçamento pese, não se opta pela utilização deste tipo de cinto de segurança apenas por ser mais barato. A distância entre os assentos nesta área influencia, bem como outros fatores. Por exemplo, no automóvel o cinto (alça) de ombro está preso ao quadro do carro, que é uma parte muito resistente do veículo. Num avião, caso se utilizasse um cinto de ombro, teria que ficar preso à parede (ou à antepara), que é menos robusta. Também podia ficar preso ao assento, no entanto, seria necessário reforçá-lo, aumentando o peso, algo que também não se pretende.

Talvez a única alteração em décadas que tenha existido nos cintos de segurança de dois pontos dos aviões tenha sido no material que passou a ser menos elástico. Esta alteração no material fez com que estes cintos se tornassem “deliciosamente” baratos para as companhias áreas mais atentas ao orçamento.

Amy Fraher, autora do livro The Next Crash: How Short-Term Profit Seeking Trumps Airline Safety, acredita que se continuam a utilizar estes cintos de segurança “antiquados” por respeitarem os requisitos mínimos de segurança, serem certificados pela Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos (FAA), serem leves e baratos.

Em comparação, a segurança do avião não é como a do automóvel. Os objetivos diferem. O objetivo principal do cinto de segurança num avião não é o de salvar a vida do passageiro caso o avião caia, visto que, nesta situação pouco provável, o cinto não consegue ajudar muito. Já em caso de acidente num carro, a utilização do cinto de segurança pode fazer a diferença e salvar a vida do passageiro.

Os cintos de segurança utilizados pelos passageiros durante os voos servem para mantê-los seguros durante eventos menores e mais comuns como as turbulências e colisões nas pistas. Nestas situações, o passageiro não quer estar vulnerável, sem segurança, num veículo demasiado rápido onde corre o perigo de bater com o corpo em paredes, tetos, cadeiras e outras pessoas.

A forma como os aviões se movem, comparativamente aos automóveis, é outra razão pela qual aquele tipo de cinto de segurança simples faz sentido. Os acidentes de carro normalmente envolvem movimentos para a frente, para trás ou para os lados, uma vez que os carros geralmente continuam no chão. Tendo em conta este risco, é provável que vá querer ter um cinto de ombro, pois vai impedir a parte superior do corpo de saltar por causa da aceleração ou desaceleração súbita.

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Já nos aviões é provável que queira proteger-se do movimento para cima e para baixo, como com a turbulência. E o cinto de ombro não é muito adequado para tal.

De acordo com o AO, o importante é ter em conta a métrica “pitch”, que é a distância entre o seu assento e o assento da frente (ou a parede da frente ou do lado, ou o quer que esteja à sua volta). Assim, quanto mais espaço existir entre assentos ou assento com parede, por exemplo, mais pontos serão exigidos no cinto, para diminuir o risco da cabeça bater em algo.

Assim, como na classe económica o espaço entre os assentos é mais reduzido, continua-se a usar o cinto de dois pontos. Já na primeira classe ou executiva, como há mais espaço entre os assentos, recomenda-se o cinto de segurança de três pontos, embora nem sempre seja usado.

Para os pilotos e tripulação, há mais exigências. Um piloto tem muito espaço para se movimentar e muitas outras coisas para bater no caso de um acidente ou perturbação. Habitualmente, os pilotos utilizam cintos de segurança com cinco pontos de fixação, que são semelhantes aos que se veem no cockpit de um carro de corrida. Em aviões de pequeno porte também se utilizam cintos de segurança de ombro.

A falta de estudos e informação que mostrem o impacto na segurança da utilização de cintos de três pontos na classe económica faz com que as companhias não avancem ou invistam em diferentes cintos de segurança.

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