Há pouco mais de 20 anos, o veado foi reintroduzido nesta montanha, que abrange municípios dos distritos de Coimbra (Lousã, Góis, Miranda do Corvo e Penela) e Leiria (Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos), estimando-se que a população local deste cervídeo ronde atualmente os mil animais.

Logo que as temperaturas começam a baixar, em setembro, a brama dos veados, com os machos a emitirem sons para atrair as fêmeas durante a noite, envolvendo-se em lutas para afastar os adversários, é um dos mais belos acontecimentos da natureza nas florestas temperadas da Europa.

Ocorrem nesta época, em toda a Serra da Lousã, caminhadas e outras atividades em torno da brama organizadas por autarquias, associações e conselhos diretivos de baldios.

A Agência para o Desenvolvimento Turístico das Aldeias do Xisto (ADXTUR) também promove o novo potencial turístico endógeno.

“Este é um espetáculo impressionante e único!”, promete a ADXTUR no seu portal da internet.

No concelho de Miranda do Corvo, a Associação de Jovens de Vila Flor e Meroucinhos (AJVFM) tem assumido a Caminhada Serra a Bramar como cartaz cimeiro do seu programa de atividades.

Para a edição deste ano, hoje, a AJVFM conta com cerca de 100 caminheiros, sendo “muitos deles” oriundos de outras localidades do país.

Cada pessoa paga nove euros de inscrição, revertendo um euro para os Bombeiros Voluntários de Miranda.

A concentração, seguida de jantar, está marcada para as 19:00, na sede da coletividade, quando o sol já se esconde atrás da pequena serra da Torga (que o escritor Miguel Torga via de sua casa, em Vila Nova, no tempo em que encetava a carreira médica nesta freguesia).

Os participantes são depois levados de autocarro para o local do início do percurso, em plena Serra da Lousã, onde os compartes possuem os ancestrais baldios, refúgio dos veados.

“Temos de fazer silêncio”, afirma à agência Lusa Anabela Bacalhau, da organização.

No ano passado, segundo a presidente da assembleia geral da AJVFM, a brama “ouviu-se muito bem”, ao contrário de uma edição anterior, em que “choveu muito” e entre os caminheiros não foi acatada a regra do silêncio.

Divididos em grupos, os visitantes andam algumas horas na floresta sob orientações de um guia.

Se as noites são de luar, têm talvez a sorte de avistar veados nas clareiras e presenciar mesmo as disputas violentas entre machos, que podem pesar 170 quilos.

“Esta é a melhor época para vermos os veados”, confirma à Lusa Rita Ribeiro, da Lousitânea – Liga de Amigos da Serra da Lousã, que repete este ano o programa Brama dos Veados, nos dias 30 de setembro e 01 de outubro.

Cada caminheiro paga 10 euros à associação, com sede na Aigra Nova, concelho de Góis, uma das 27 povoações do interior da região Centro integradas na rede turística Aldeias do Xisto.

“Se fizerem barulho, as pessoas terão mais dificuldade em ouvir” os machos nos seus rituais de afirmação sexual e de demarcação do território, refere.

O sucesso da iniciativa depende de vários fatores, incluindo as condições atmosféricas.

“Recomendamos silêncio e o uso de roupa escura”, esclarece Rita Ribeiro.

Para cada noite, entre as 21:00 e as 03:00 da madrugada, a Lousitânea aceita apenas 10 inscrições, podendo agendar mais caminhadas se o número de interessados o justificar.

“Conseguimos ouvir sempre os veados”, assegura a mesma responsável.