O Parque Nacional da Peneda Gerês está para Portugal, como o Parque Natural de Baixa Limia-Serra do Xurés está para Espanha. Visitar os dois é fundamental. A cumeada da montanha divide fronteiras, e o lado espanhol continua a ser um dos mais inexplorados. É nele que desta vez centramos uma rota que contempla maravilhas históricas, arqueológicas e gastronómicas, ao longo de fabulosas estradas para percorrer de mota.

Roteiro em duas rodas: à descoberta da inexplorada Serra do Xurés
A primavera a tornar a paisagem do Gerês e do Xurés ainda mais bela créditos: Quilómetro Infinito

Saímos pela manha da Casa da Lata Agroturismo que elegemos para uma estadia de duas noites para um roteiro circular na região. Uma quinta de turismo rural na região de Amares com o Parque Nacional da Peneda Gerês na sua vizinhança. Não é a primeira vez que visitamos a região e, por isso, naquela manhã em que o sol já nos ilumina com vigor, o nosso rumo leva-nos diretamente ao lado espanhol e à Serra do Xurés.

Roteiro duas rodas: à descoberta da inexplorada Serra do Xurés
Roteiro de viagem de mota pela Serra do Gerês e Xurés créditos: Quilómetro Infinito

Estão 10 graus às 9 da manhã. Abro a viseira do capacete para sentir aquele ar fresco a bater no rosto. A recém pavimentada estrada N101 que une Vila Verde a Ponte da Barca, faz as delícias do caminho mais direto, entre curvas e contra curvas por um túnel de vigoroso arvoredo. Espreitando sempre as latadas de videiras que na primavera começam a despertar, e as esplendorosas glicínias que contornam de lilás muros e fachadas.

É quando encontramos a N203, que nos levará a Espanha em poucos quilómetros de muitas curvas, que o soberbo rio Lima dá o ar de sua graça. E se há um ano atrás, nesta mesma região, testemunhávamos uma das catástrofes ambientais que o esvaziamento severo da Barragem do Alto Lindoso provocou, um ano depois o nível das águas do Lima volta aos tempos áureos, depois um inverno chuvoso. A vila de Aceredo que ficou então exposta, está novamente submersa pelo rio que flui vigoroso, de águas que espelham o céu azul e a vegetação em redor.

Entrada na Baixa Límia Serra do Xurês

Em cima de uma das mais altas pontes que conhecemos, paramos por momento para contemplar tamanha beleza natural. Nas águas do rio, o pólen amarelo dos pinheiros cria contornos únicos, anunciando com afinco que estamos em plena primavera, e sua explosão de cor.

Os banhos termais de Lobios estão ali ao lado, mas esta rota é para lugares por nós inexplorados. Por sua vez, para quem ainda não conhece é um desvio recomendável. Seguimos para norte, e para a Bande, para conhecer o acampamento romano e termas romanas de águas quentes.

Roteiro de viagem de mota pela Serra do Gerês e Xurés
Rio Lima créditos: Quilómetro Infinito

Aquis Querquennis, o acampamento militar romano em Bande

Aquis Querquennis foi um acampamento militar romano localizado em Os Banos, no concelho de Bande, Galiza. Ocupado até meados do século II, foi provavelmente construído como apoio à construção da Via XVIII que unia Bracara Augusta (Braga, Portugal) a Astúrica Augusta (Astorga, Espanha).

Os mestres arquitetos romanos construíram uma espaço de três hectares repleto de infraestruturas, de forma retangular entre robustas muralhas. Torres defensivas ainda se distinguem entre as portas da muralha construída em granito, a litologia dominante na região. Está brilhantemente instalada nas margens do rio Lima, com uma exposição solar privilegiada, e próxima às nascentes termais de águas quentes da região.

Termas Romanas de águas quentes de Bande 

A uma curta distância de caminhada (ou de mota via estrada) de Aquis Querquennis, um dos mais bem preservados acampamentos romanos na Ibéria, estão as termas romanas de águas quentes com águas que ali jorram entre os 36º e 48º graus. Um elemento de vital importância para a civilização romana pelos efeitos terapêuticos e recreativos. Expostas ao ar livre, ainda hoje são usadas gratuitamente, e representam um dos ex-líbris da província de Ourense.

Porque estão situadas nas margens do rio Lima, cujo caudal é diretamente afetado pela Barragem das Conchas e Alto Lindoso, a maioria dos meses do ano encontram-se submersas. Assim, para garantir que a visita não seja em vão, recomenda-se que seja realizada no verão ou no outono. Nós, que chegámos na primavera, descobrimos ser cedo de mais para as apreciar.

Albufeira do Salas e a rota da Pré História no Xurés

O roteiro em torno do parque natural leva-nos agora pelas encostas serranas até à Albufeira do Salas. Por lá, e com os olhos postos no horizonte montanhoso do granito no Gerês, encontramos uma região repleta de dolmens e monumentos megalíticos. Aqueles lugares arqueológicos que nos encantam visitar porque sempre se localizam em cenários especiais.

Albufeira do Salas, Xurés
Albufeira do Salas, Xurés créditos: Quilómetro Infinito

Dolmen Casiña da Moura

Ao sair da aldeia de Maus de Salas, com as canelas inteiras depois de sermos perseguidos por um rafeiro mais enervado, viramos à direita e observamos o primeiro monumento megalítico que nos salta ao caminho: Dolmen Casiña da Moura. Um exemplo completo de uma anta com a câmara poligonal formada por sete lajes de granito, suportando uma outra laje de grandes dimensões. Este monumento megalítico, foi removido da sua localização original. Provavelmente por alguma intervenção na Barragem do Salas. Aquelas práticas que me custam a entender. Se estas construções são tidas como locais de sepulcro, quer dizer que levaram a campa e deixaram o defunto?

Numa visita num dia de sol radiante, o nosso passeio por entre estes pedregulhos teve um encontro imediato com uma cobra que apanhava banhos de sol tranquilamente. Vamos ali lavar as mãos àquele ribeiro? Dizia o João que não demorou muito a soltar um grito afeminado. Tal bicharoco, do qual não é muito fã, apanhou-o de desprevenido fitando-o com ar antipático.

A nossa visita pelos monumentos seguintes foi repleta de maior cuidado nos lugares onde metíamos as mãos. E é verdade que fui espreitar pela mota, braços de suspensão e rodas se não havia por ali uma prima à espera de boleia para umas belas curvas.

Dolmen Casiña da Moura
Dolmen Casiña da Moura créditos: Quilómetro Infinito

Mamoa Casola Do Foxo

Entre tantos outros dolmens/mamoas na região, a Mamoa da Casola do Foxo é a visita que se segue. Uma das que se encontra ainda muito próxima da sua estrutura original. Está inserida nas margens da barragem, com um deslumbrante vislumbre para um mágico horizonte. É primavera, sem dúvida. O Gerês e o Xurés, seja ele o espanhol ou o português, estão com a urze em flor. O lilás é agora a cor predominante.

A pequena estrada que ali nos leva não se destaca pela qualidade do piso, ou pela particularidade de dar largas à condução. Por sua vez, compensa ao conduzir-nos para um cantinho inexplorado de paisagem de tirar o fôlego.

Mamoa Casola Do Foxo
Mamoa Casola Do Foxo créditos: Quilómetro Infinito

Foxo do Lobo do Salas

É também junto à Mamoa Casola do Foxo que está o Foxo do Lobo. Uma das muitas armadilhas que durante séculos foram utilizadas para caçar lobos. São geralmente encontradas com um formato de V, duas paredes que convergem num vértice e formam uma fossa. Mas a do Foxo do Lobo do Salas é circular, contrariando a tendência. Com altas paredes de pedra, o Foxo do Lobo foi construído de forma a que o animal pudesse facilmente entrar por um dos seus lados, mas impossível dele sair. Numa forma de poço.

Hoje em dia, o local foi restaurado e encontra-se preservado. Adicionando mais um lugar de interesse a uma rota de viagem de mota pela Serra do Xurés.

Albufeira de Salas – Foxo do Lobo
Albufeira de Salas – Foxo do Lobo créditos: Quilómetro Infinito

Tourém e Pitões das Júnias, Terras de Barroso

De saída do espanhol Xurés, é na fronteira de Tourém que entramos novamente em Portugal. Com esperança de voltar a ver as varandas de casario de granito com o milho entrançado pendurado. Chegámos cedo demais. Imagino que só lá para o verão se volte a apreciar a arte de entrançar o milho, expondo-o nas fachadas soalheiras das casas, para que seque corretamente.

O rumo é à aldeia de Pitões das Júnias no concelho de Montalegre. Instalada num planalto do Gerês Transmontano e Terras de Barroso, um dos melhores restaurantes da região que faz-nos lá voltar em todas as vezes que estamos na vizinhança: Restaurante Casa do Preto.

É final de tarde e hora de terminar o dia no mesmo lugar onde começou. Seguimos pelo traçado da CM1276. Um itinerário menos conhecido que acompanha o curso do Cávado no alto da montanha. Na outra margem, está a N103 cujo traçado ali é, para nós, menos sugestivo. Encontra-se entre muitos aglomerados populacionais movimentados e isso tira sempre o encanto a quem viaja de mota para apreciar paisagens.

Quer saber mais sobre esta viagem e ver o mapa deste roteiro? Siga este link e descubra mais informações.

Artigo originalmente publicado no blogue Quilómetro Infinito