Bilhete-postal enviado por Isabel Gambino

Sábado cheguei ao aeroporto “comme il faut” de fato e botas de salto, um saco de viagem e um imenso orgulho. Tinha sido convidada por uma prestigiada fundação, para ir a Londres dar testemunho do empreendedorismo feminino, numa conferência mundial de e para mulheres.

Reparei que os meus companheiros de viagem estavam de sapatilhas mas atribui isso ao facto de viajarem com tanta frequência que lhes conferia um ar desportista.

A aventura começou no “check-in” em que o meu nome não constava na lista de passageiros apenas porque o meu voo foi marcado para o dia seguinte. Para que viajássemos todos juntos, foi adquirida na hora, uma passagem a um preço exorbitante.

Chegados a Londres, seguimos religiosamente passo a passo, ou melhor, estação a estação o itinerário do metropolitano, em que teríamos que mudar de linha várias vezes até ao hotel nos limítrofes da cidade. Porem, uma das estações encontrava-se fechada para obras e, nas trocas e baldrocas, perdemo-nos no emaranhado de linhas, escadas rolantes, corredores, ligações e, 2h depois, os meus pés metidos nas botas de salto berravam e duplicaram de volume e o meu triste saco de viagem, pesava toneladas nas mãos. Finalmente chegámos ao hotel, fantástico mas já sem o restaurante aberto. Lá conseguimos uma pizza no bar.

No dia seguinte, com um pequeno almoço supimpa, seguiu-se um passeio maravilhoso essencialmente a pé, pelos locais emblemáticos da cidade. Adorei tudo o que consegui ver e até me cruzei com o carro anfíbio que até então desconhecia.

A ultima paragem foi em Baker Street para ver a casa de Sherlock Holmes e, mesmo com umas botas de combate super confortáveis e já muito usadas, os meus pés massacrados ansiavam por qualquer coisa para aliviar a tortura. Acabámos na China Town e todas comprámos uns sapatinhos de lona e por lá jantámos exaustos (sim havia um elemento masculino no nosso grupo, o fotógrafo).

Segunda-feira o objectivo da viagem foi cumprido e a conferência confrontou-me com uma realidade que todas conhecemos mas que nos passa rente, de mulheres de ponta a ponta do planeta, que se deparam ainda e sempre com as barreiras impostas por um mundo onde impera o poder masculino mas, que sem a magia que todas nós temos de conseguir o impossível, de lutar, de sobreviver e vencer, nada neste mundo seria real. São mulheres as maiores empreendedoras do mundo; começam em casa a gerir um magro rendimento e acabam a gerir negócios altamente rendíveis. Mulheres que com um pequeno crédito e muito engenho, mexem com a economia local.

Como me orgulho do meu percurso como empreendedora e como me orgulho de ser mulher.

Nós somos mesmo poderosas!