Os contornos em que é celebrada a efeméride dos 50 anos do Carnaval Luso-Brasileiro da Bairrada, de certa forma, retratam o que tem sido a história de um dos mais populares eventos carnavalescos no centro de Portugal Continental – uma tarefa permanente de ultrapassar as contrariedades. Até as da vaca ou de Salazar. Se ler o artigo até ao final, vai perceber porquê. Primeiro a edição virtual do carnaval deste ano.

Carnaval da Mealhada
Carnaval luso-brasileiro da Bairrada © CM Mealhada créditos: andarilho

As iniciativas prolongam-se até dia 16 e são da autoria da Associação do Carnaval da Bairrada, do município e de várias escolas de samba, entre elas, a escola Sócios da Mangueira da Mealhada, a primeira a ser constituída.

Destaca-se, este sábado, uma “mangueira” que atravessa o Atlântico. Às 18.30h começa um diálogo entre dirigentes da Sócios da Mangueira e a Mangueira do Rio de Janeiro.

Carnaval da Mealhada
«Abraçamos o Carnaval» créditos: andarilho

À noite, a partir das 22h, no Instagram da Associação, autarcas da Rede de Cidades do Carnaval da Região Centro participam no «Abraçamos o Carnaval» e segue-se um encontro de representantes das escolas de samba Amigos da Tijuca, Batuque, Real Imperatriz e Sócios da Mangueira.

Na noite de Domingo é o Carnaval Trapalhão na página de Facebook dos Sócios da Mangueira com os músicos Francisco Saldanha e José Cid.

Na noite de terça-feira, dia de Carnaval, regressa a nostalgia com as memórias dos 50 anos do Carnaval Luso-Brasileiro da Bairrada.

Carnaval da Mealhada
créditos: andarilho.pt

A vaca ou Salazar na origem do Carnaval Luso-Brasileiro da Bairrada

Foi em 1971 que começou a fase actual do Carnaval Luso-Brasileiro da Bairrada. Curiosamente tudo se deve à Santa Ana, à determinação de um militante comunista e à morte de Salazar.

A festa da padroeira da Mealhada é a 26 de julho e em 1970 teve de ser adiada porque morreu Salazar exactamente num dos dias das festividades.

Carnaval da Mealhada
Luís Marques créditos: andarilho

Nesse ano, o principal dinamizador da festa foi Luis Marques, militante do PCP na clandestinidade que apontava outra razão para o cancelamento. Conta Nuno Canilho, vereador de Cultura da Câmara da Mealhada, que quando perguntavam a Luis Marques o motivo porque não havia a festa ele respondia que era por causa da vaca. No dia anterior tinha havido uma garraiada, a vaca fugiu e morreu trucidada por um comboio.

Carnaval da Mealhada
Nuno Canilho, vereador de Cultura da Câmara da Mealhada créditos: andarilho

Fosse por causa da vaca ou de Salazar, o que ficou registado foi o défice nas contas da organização devido ao cancelamento da festa. Para anular o prejuízo promoveram outro evento e apostaram num desfile carnavalesco. Lembraram-se de convidar estudantes brasileiros que andavam em Coimbra. Eram conhecidos pela alegria que transmitiam em festas particulares.

Carnaval da Mealhada
créditos: andarilho

É desta participação efusiva e bem sucedida dos estudantes brasileiros que nasceu o carnaval luso-brasileiro da Bairrada. A iniciativa repetiu-se até 1974. Com a revolução houve um intervalo e regressou em 1978 com um actor brasileiro a assumir o papel de rei do carnaval.

Carnaval da Mealhada
créditos: andarilho

O primeiro foi o Jaime Barcellos, o Dr. Ezequiel  da novela Gabriela Cravo e Canela. No ano seguinte foi, “a histeria colectiva” com Tony Ramos . Sucederam-se vários atores brasileiros.

É também em 1978 que surge a primeira escola de samba na Mealhada, os Sócios da Mangueira. Um grupo de jovens decidiu seguir os passos dos estudantes brasileiros de Coimbra e no ano seguinte já desfilavam no carnaval. Nas últimas décadas surgiram mais escolas de samba e passou também a ser tradição organizar o "Carnaval das Crianças"