Quando planeei o meu gap year, soube que queria experienciar ambientes drasticamente diferentes uns dos outros. Para além de intercalar o tempo "lá fora" com o tempo em Portugal, queria que os meus destinos contrastassem entre si. Escrevo este texto em Santa Bárbara, na Costa Rica, num dos meus últimos dias aqui, perto da capital San José, antes de me mudar para ao pé da praia por uma semana. O contraste é evidente.

Depois de um mês de voluntariado em Cabo Verde, de vender kiwis, de ajudar a montar uma exposição de arte contemporânea em celebração do bicentenário da independência do Brasil, tirar uns quantos cursos, passar duas semanas a conhecer a parte francesa da Suíça, escrever um livro infantil e começar a aprender hindi... É certo que o meu gap year está cheio de experiências originais.

Mas a Costa Rica foi, desde o início, o meu sonho e o meu foco. Está quase a chegar ao fim o meu programa como professora de inglês aqui e, ao despedir-me de uma das turmas, não consigo deixar de pensar se isto de viajar e conhecer tantas novas pessoas não será ligeiramente masoquista. Toda a parte de ter de ir embora não me cai bem.

Este país absolutamente repleto de natureza e animais únicos, até nas cidades, é uma maravilha de se conhecer, bem como todas as pessoas. Mas a efemeridade da experiência também traz um outro valor.

Mercado Artesanal de San José
Mercado Artesanal de San José, Costa Rica créditos: Maria Pires

Digo sempre que, quando se está fora, os dias têm o dobro do tempo, mas os meses passam a correr. Impressionante o quão facilmente nos conseguimos sentir em casa num lugar tão distinto. E distante. Nunca estive tão longe de casa, e, mesmo que as saudades sejam muitas, sinto-me de coração cheio pelo trabalho que aqui faço, com os outros e comigo mesma.

É espetacular ter a oportunidade de viver em ambientes tão únicos e distintos uns dos outros. Andar de slide por cima de uma cascata é simplesmente brutal, mas a minha parte favorita tem de ser o quão conectada me sinto a tudo e todos em meu redor.

Todos assumem que sou de aqui, o que é engraçado. Descobri que improviso um espanhol surpreendentemente bom e que talvez queira continuar a ensinar crianças no futuro, algo que nunca pensaria sem esta experiência.

Pôr do sol em Santa Bárbara
Pôr do sol em Santa Bárbara créditos: Maria Pires

Todos os dias dou por mim a subir a rua para a escola, e detenho-me no parque municipal nem que seja por uns minutos apenas. Vejo sempre esquilos, pássaros ou reparo em flores e árvores que nunca tinha visto. Sinto-me parte de um todo, em vez de um pontinho a vaguear por aí, como antes era o caso.

Traz-me uma felicidade enorme acordar todos os dias e saber que, mesmo com o stress dos planeamentos, a exaustão dos voos, os contratempos inevitáveis e por vezes assustadores (como na semana passada, quando fiquei perdida no meio do nada a seis horas de casa, sem dinheiro nem bateria, que giro que foi), penso diariamente que este gap year foi a melhor decisão da minha vida.

E vi macacos à solta nas árvores, portanto se isso não vos convence, então não sei.

Projeto “O girassol em viagem”

Durante 8 meses a Maria Pires vai se aventurar em cursos, formações e experiências de voluntariado nacional e internacional em Cabo Verde. A Maria foi a vencedora da segunda edição do “Emunicipa-te” em Oeiras, um projeto de bolsas municipais de gap year.

Emunicipa-te

O Emunicipa-te é um concurso promovido pela Associação Gap Year Portugal e financiado por câmaras municipais, neste caso, a Câmara Municipal de Odemira, que premeia um/a ou dois/duas jovens com uma bolsa para realizarem o seu gap year de 6 a 10 meses. Se a candidatura for individual o prémio é de 5.000€ e se for conjunta o prémio é de 6.500€. O regulamento pode ser revisto e a candidatura pode ser feita no site da Gap Year Portugal. Vai ser valorizado, por exemplo, o rigor na elaboração do orçamento, a motivação, incorporação da sustentabilidade como uma prioridade, a originalidade do projeto, entre outros.