A ex-hospedeira de bordo da TAP tem formação em teatro e dança, mas resolveu ingressar na aviação numa fase de maior dificuldade em encontrar trabalho na área artística. Em casa, tinha o exemplo da mãe, que também é hospedeira de bordo, embora, numa fase inicial, Joana não quisesse seguir esta profissão. “Nunca tive vontade. Até pensava que isso não seria para mim”, conta ao SAPO Viagens.

Contudo, com as voltas da vida, viu-se “apanhada” pelo bichinho da aviação e apaixonou-se pela profissão. “Logo durante o curso, lembro-me de dizer que me tinha apaixonado muito mais do que aquilo que eu estava à espera”. O facto de ser uma profissão onde podia desenvolver a comunicação interpessoal e de não ter rotinas foi decisivo para ter abraçado uma carreira na aviação.

Depois de quase três meses na companhia EuroAtlantic, Joana entrou na TAP, onde ficou durante dois anos a trabalhar nos voos de médio-curso. Até que começou a pandemia e tudo voltou a mudar. “O choque foi gigante”, recorda. “Fiz o último voo para Roma antes de entrarmos no primeiro confinamento em Portugal”. “Já estava tudo caótico em Itália, mas nós ainda estávamos sem saber o que nos esperava” até porque “estávamos na expectativa de sair numa próxima lista de nomes para efetivar”. Não aconteceu e, quando recebeu a carta de despedimento, sentiu um “balde de água fria”.

“Temos sempre aquele período de pensar ‘oh, meu deus, o que é que eu vou fazer agora?’. Eu achei que eu ia ficar ali para o resto da minha vida”, mas, depois, passado o choque inicial, é preciso “pensar no que vamos fazer”.

“Achei que a forma mais fácil, dado o estado em que estávamos e ainda estamos seria ir buscar a formação que eu já tinha na parte de teatro e de dança”. Assim, depois do contacto com escolas, começou a nascer o projeto de desenvolver um clube de dança para “os miúdos espairecerem, visto que também estão a ser muito afetados pela pandemia”. Neste momento, Joana está a estruturar o projeto para poder entrar em ação logo que seja possível.

créditos: DR

“A maior da parte das pessoas da aviação com quem contactei neste momento perdeu o emprego”, refere a jovem de 25 anos. Sabia que estava "numa faixa etária mais volátil" e que, por isso, “seríamos os primeiros a ir embora”.

“Foi preciso haver um sentimento muito grande reinvenção. Temos muitos colegas a mudarem completamente de campo, de área”, comenta, dando como exemplo o setor imobiliário, que foi muito procurado por antigos hospedeiros.

“Acaba por ser uma lição: acomodarmo-nos não é propriamente a melhor hipótese. Nada como ter novas ferramentas, até porque todos nós podemos aprender, independentemente da idade ou da fase da vida em que estivermos”, realça.

Reconquistar a confiança das pessoas

Regressar à aviação quando a pandemia terminar está, para já, fora dos seus planos. “Primeiro, estava convicta que ia voltar porque achei que esta não era a melhor forma de fechar o ciclo. Agora, confesso que tenho muitas dúvidas”. Não só pela veia artística ter falado mais alto, mas também pelo panorama do setor que não é muito animador.

Joana acredita que ainda vai demorar até a situação voltar ao que era antes, se é que, em alguns casos, voltará. “No médio-curso, tínhamos grande parte do negócio da aviação em viagens de trabalho, voos para Luxemburgo, Bruxelas, por aí fora…”. Agora, com a disseminação do teletrabalho e das plataformas que permitem reuniões à distância, Joana tem dúvidas se as empresas vão voltar a investir em viagens de negócios.

Quanto às viagens de lazer, a ex-hospedeira de bordo reconhece que “a vontade das pessoas de viajar é muito grande”. No entanto, “não sei até que ponto que quando abrir, quando for possível viajar, haverá um sentimento de confiança que permita às pessoas ir”, conclui.

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