Da Lagoa Azul, uma das 25 maravilhas nomeadas pelo National Geographic, já reportei e exultei no artigo anterior. Vão, mergulhem, rejuvenesçam nas águas azuis que parecem um absoluto filtro de Instagram. Tirem muitas fotos, mas lembrem-se que a experiência está nos sentidos, primeiro. Depois da tarde passada na Lagoa Azul (Blue Lagoon), preparei-me para dormir cedo, estava completamente rendida à sílica da Lagoa e à maravilha que me encheu os olhos e o sono. Atenção: o cabelo fica sete dias crespo por causa da água desta Lagoa. Não se assustem, mesmo que utilizem o condicionador que eles recomendam antes de mergulharmos.

Revigorada, acordei cedíssimo (coisa que nunca gosto em Portugal, mas por esse Mundo fora tem de ser) para uma tour de 12 horas. Visitar o vulcão Katla e a ice cave (caverna de gelo) não se trata só de percorrer estrada e paisagens até chegar a um destino. Tem a ver com várias paragens que, por si só, são destinos. Escolhi a Artic Adventures (mas têm também a Troll Adventures e a Viator, por exemplo) e o autocarro era muito confortável e seguro.

Eu prometi que iria desbravar mais sobre a caverna de gelo, o trilho. Mas há, antes, mais mistérios de frio e de prados dourados no meio do negro vulcânico. Até há uma praia de areia preta, uma das paragens durante a tour. Para quem sai da capital, Reykjavik, segue cerca de três horas (de carro ou em autocarro apropriado) até à cidade de Vik e, de lá, cerca de duas horas até encontrar outras das maravilhas megalómanas da Islândia: a caverna de gelo do vulcão Katla. Mas, antes das cavernas de gelo, vai ter um encontro especial com a maior cascata – Skógafoss – por ser misteriosa. É gigante e relembra-nos a pequenez do nosso ser físico. Do lado direito tem um trilho rodeado de verde e dourado pelo qual sobe e vai dar às traseiras da cascata. Pode entrar na cascata quase sem se molhar. Sim, é verdade. Passamos por detrás do dilúvio permanente de água como se fôssemos fantasmas.

Skógafoss
Skógafoss créditos: Sandra Figueiredo

É exasperante, no melhor sentido que possam encontrar, ver esta cascata na nossa frente. Um templo de água. Depois de ter viajado por quase toda a Ásia, aqui sim há um templo de água doce (gelada, embora). Entretanto, começou a chover, o que não me demoveu de todo. Eu já não sabia se chovia mais forte do que a queda impactante da cascata. Água e mais água, botas sequinhas.

Seguimos todos para ver cavalos simpáticos (pequenos e muito pomposos – parecem póneis), mas sobretudo para respeitar o horário da tour-safari no gelo. Atenção que assiduidade é com os islandeses. E silêncio também.

De entre os glaciares mais conhecidos, fui aconselhada a visitar, antes, Katla. A mais bonita, grandiosa e ‘de nos perdermos’ literalmente. Além disso fica mais perto da capital numa diferença de duas horas que vai poupar em relação a Jökulsárlón, a sul do glaciar Vatnajökull (aqui, no entanto, pode ver baleias e leões marinhos repousando em blocos de gelo).

Quando chega a Katla muda, de repente, do autocarro para um jeep e, sem contabilizar o amontoado de sensações, está a derrapar em trilhos de gelo e de areia. O condutor está sereno e isso assusta-me. Tração às 4 rodas e sobe umas colinas e montanhas breves, sem um ‘piu’. Muito normal para o nosso simpático condutor, embora silencioso se mantendo. Todo o grupo (máximo permitido: 12 pessoas) está a saltar dentro do jeep e a gritar com risos. Junto-me à animação e rio também. Aventura: têm-na garantida.

Chegará rápido os trilho. Ali é feito um briefing por um dos organizadores sobre todos os cuidados a ter durante o percurso e a caverna. Tudo minucioso. Colocamos as correntes nos sapatos e nas botas, os capacetes e agasalhamos o corpo. Seguimos pontes singelas de madeira entre pedaços de vulcão e começa a adensar-se a paisagem de gelo (não de neve) e de maravilhas negras do vulcão.

Islândia: perdidos numa caverna de gelo
créditos: Sandra Figueiredo

Temos um vulcão a palpitar debaixo dos pés e isso não me mete medo. Chegamos à antecâmara da caverna e há uma explicação muito importante sobre a ice cave. Esta caverna, assim como as outras, estão em constante mudança pois os glaciares mudam a todo o momento e pode haver quedas de pedras ou de maciço gelo. Nada disso aconteceu, mas tem de se prevenir. Além disso fico a saber que o aquecimento global, na perspetiva do guia, não é negativo para a Islândia e que as pessoas estão muito enganadas sobre as estruturas do planeta.

Enquanto ouço isto, sorvo o frio pelo nariz, boca e ouvidos. Destapo um dos três casacos para sentir mais vida naquele momento. É um frio seco, diria. Pensava que estaria mais frio como me disseram em Portugal. Depois, vem um silêncio das montanhas de gelo azuis e cinzentas. Capto mais fotografias, só à paisagem. Um silêncio que ensurdece, que se ama. E que me fez pensar: milhares bem gastos!

Lembro-me que estou no meio de dois continentes, pois piso o intervalo das placas tectónicas da Europa e da América. Isso, assim mesmo. Há quem mergulhe nessa zona para observar as placas tectónicas.

Depois entramos na caverna, na verdade há mais do que uma entrada e a cada passo as cores mudam… parece algo preparado para o turista e não é. E eu que sou uma pessoa de 'cheiros', procuro cheiros e não encontro. O gelo corta tudo, só vejo cores a mudarem como cristais. Algo mostra, de novo, que eu devo ser submissa ao planeta: olho para baixo e está, a determinado momento, o mar a passar em corrente absurda, por baixo dos meus pés. A centímetros.

Tudo isto é seguro porque temos vários guias e um deles fica sempre no final do grupo a verificar se todos andam bem e se não há percalços. Embora houve um e foram os portugueses a cometê-lo.

E conseguimos fintar o guia da retaguarda, nem eu sei como. Ficámos sozinhos na parte mais interior e azul da caverna, com o mar a passar por baixo furiosamente. Querem que confesse: não tive receio de ficar perdida, estava tão feliz com aquele momento a sós (claro, com o meu amor) com a natureza gelada, sem ruídos em várias línguas. Fechei os olhos e apreciei.

Islândia: perdidos numa caverna de gelo
créditos: Sandra Figueiredo

Alertas a não descurar numa viagem à Islândia

- É comum haver chuva nestas paragens, por isso leve corta-vento e uma muda de roupa. Recomendo fortemente.

- Calçado que não seja sapatilhas.

- Estar no ponto de pick-up 15 minutos antes e de acordo com os pontos escolhidos quando reservam as vossas tours (isto para quem opta por não alugar carro). Sinceramente não recomendo tal aluguer por segurança nas estradas, considerando estações frias. O meu ponto principal foi sempre, para todas as tours: Vatnsmýrarvegur, 101, Reykjavík.

- Pode fazer a excursão a Katla (com a cascata, com a praia negra, com o avistamento dos famosos cavalos ‘vikings’) e ainda terá tempo para a caminhada até às auroras boreais. Caso ainda não as tenha experienciado.

- Para a tour das auroras polares ou borealis, os organizadores informam até às 17h se as condições meteorológicas são favoráveis para se ver auroras (não só ver, como fazer as quatro horas de caminhada e avistamento). Se não se conseguir, adiam para o dia seguinte e garanto-vos que são reembolsados em pleno caso nem assim consigam.

- Chamadas internacionais (apesar de saberem, vale o lembrete) sempre com o preço das chamadas nacionais (em Portugal). E devem utilizar bastante o telemóvel para confirmar, a todo o tempo, as tours e os horários das boreais.

- É uma viagem caríssima considerando se quer viajar a sério e explorar. Portanto corte nas despesas de alimentação em restauração. Mesmo nas lojas de conveniência é tudo muito caro (umas seis peças de sushi ou uma sandes... uma módica quantia de cerca de 20 euros, cada). Atum em lata pareceu-me uma riqueza portuguesa levada na bagagem. E levei três folares, é verdade.

- Não se preocupem em caminhar no gelo, pois as operadoras de tours têm equipamentos próprios (correntes para os sapatos e os capacetes de proteção).

- Pontualidade sempre.

- Pouco barulho e muita limpeza nos hotéis e nas tours.

- Nunca se afastem do grupo na caverna de gelo, pois não se trata de uma ice cave só. Mas de várias entradas e antecâmaras. Assim como 1km de caminho pelo vulcão.

Ora nós perdemo-nos do grupo porque os sentidos nos distraíram. Foi tramado (depois de eu começar a refletir sobre o perigo às 18h… quase a escurecer naquela zona), mas encontrámos um guia espanhol e alguns portugueses a turistar na mesma caverna e que nos ajudaram a voltar ‘ao ninho’. O nosso guia gritou-nos, literalmente. Senti-me na grande série Vikings. Mas eu era a marota que fez asneira, não era o Ragnar, nem o Floki.

Islândia é para já!