Por Liliana Ascensão, líder de viagens em The Wanderlust. Foto de destaque: Miriam Augusto

Kuala significa “junção” em língua malaia, e Lumpur significa “lama”. Foi na confluência lamacenta entre o Rio Klang e o Rio Gombak que se fundou a cidade capital da Malásia, Kuala Lumpur. Há vários outros lugares de designação kuala, como Kuala Tebing na entrada do Taman Negara (literalmente, Parque Nacional) tal como há mais junções e encontros na Malásia.

Eis as 5 maiores idiossincrasias resultantes:

1. As cidades exóticas

O estreito de Malaca foi cobiçado por navegadores desde que as primeiras barcaças preparadas para cruzar oceanos tocaram a água. Lugar estratégico para o controlo de rotas comerciais entre o Ocidente e o Oriente, primeiro foi visitado por dignatários Chineses, mais tarde ocupada pelos Portugueses, derrotados pelos Holandeses, seguidos dos Ingleses e ainda os Japoneses, todos deixando uma pegada histórica e um legado cultural.

Malaca
Malaca, uma cidade muito diversa, aqui a lembrar os canais do Amstel na Holanda créditos: Liliana Ascensão

Hoje, ainda à entrada do oriente, Kuala Lumpur tem um dos maiores tráfegos aéreos mundiais. Em 2017, ficou na 23º posição do ranking do Airports Council International, à frente de Londres, com 59 milhões de passageiros. É uma das cidades mais cosmopolitas do Sudeste Asiático, com dezenas de milhares de viajantes diários em turismo ou negócios a lá passarem, tornando-a rápida e intensa.

Vista da metropole Kuala Lumpur com as as torres Petronas
Vista da metropole Kuala Lumpur com as as torres Petronas créditos: Liliana Ascensão

2. As ruas da harmonia

A sociedade malaia foi moldada por encontros culturais resultantes de ondas de migração de mercadores, trabalhadores e viajantes de todo mundo, e conta mais de 500 anos de coexistência étnica e religiosa. A maioria da população é muçulmana, seguindo-se o budismo mahyana, o cristianismo, o hinduísmo e religiões tradicionais chinesas, como o confucionismo ou taoismo, havendo ainda espaço para o animismo e o sikhismo.

Mesquita
Mesquita Malaia numa das "Harmony Streets" créditos: Miriam Augusto

A religião oficial é o islão na corrente sunita, e apesar de parecer que a realidade está gradualmente a mudar, a liberdade de culto é garantida pela constituição federal. As datas mais especiais para cada religião, Eids, Natal, Ano Novo Lunar e Deepavali são todas feriados nacionais para todos os malaios. As comunidades da diáspora do passado de armênios e judeus também são lembradas em locais históricos e nomes de ruas.

Em Malaca e Penang existem ruas apelidadas de “Harmony Street” onde se encontram, a escassos metros uns dos outros, 4 ou 5 lugares de culto ativos de diferentes religiões. Uma mesquita ao lado de uma igreja, em frente ao templo budista, a uns metros do templo hindu são uma realidade nestas cidades, onde o respeito saudável pelas crenças e o direito de culto é uma janela de esperança na humanidade.

Ritual de oferenda
Ritual de oferenda num templo Taoista, enquanto se escuta vindo da mesquita vizinha o Adhan, chamando os muçulmanos para oração créditos: Liliana Ascensão

3. Os Peranakan ou Baba Nyonya

Os termos serviam para distinguir chineses nascidos na China dos descendentes de imigrantes provenientes do Hoklo Chinês que foram para o arquipélago Malaio no século XV, mas com o tempo passaram a identificar uma maioria de mestiços. Os encontros inter-raciais mais comuns são o chinês com malaio, e existem também Peranakan árabes, indianos ou holandeses.

Comida de rua
Comida de rua de inspiração chinesa créditos: Liliana Ascensão

Tradicionalmente são descendentes de privilegiadas famílias de mercadores ou comerciantes e, apesar dos traços da cultura chinesa estarem muito presentes, vivem de encontros felizes com outras culturas, que envolvem da arquitetura à indumentária, passando pela gastronomia, que é todo um capítulo por si só, com especiarias dos quatro cantos do Mundo.

4. Os idiomas que se usam em cada conversa

Os malaios são multilíngues. Os principais grupos étnicos da Malásia compreendem malaios, chineses e indianos. A língua oficial é o bahasa malaio, que é a língua materna do grupo étnico malaio, mas a educação primária pode ser encontrada também em mandarim, da China, e tamil da Índia. O malaio, o mandarim e o tamil têm também variantes dialectais, o chinês hokkien também tem muitos falantes, e longos anos de exposição a vários idiomas originou ainda o baba malaio, dos Baba Nyonya.

Sob a influência britânica, aqueles que frequentaram a escola aprenderam inglês compulsivamente, e algumas famílias privilegiadas ainda o usam em casa. O inglês pode até ter preferência sobre o malaio, em contextos oficiais. Todos aprendem o idioma dos seus ancestrais, que pode ser mais do que um. Ainda se encontram escassos falantes de português e a maioria muçulmana sabe algo do idioma arábico pelo estudo do Alcorão.

Sociedade multicultural
Uma sociedade multicultural, com as gerações mais novas a privilegiarem o inglês também na música créditos: Liliana Ascensão

Os Orang Asli (literalmente "povo original” em malaio) são os povos indígenas e os habitantes mais antigos da Malásia peninsular. Existem oficialmente 18 tribos com 2 grupos linguísticos, o primeiro de línguas austro-asiáticas e o segundo de línguas malaios aborígenes, que fazem parte da família da língua austronésia. Hoje, muitos Orang Aslis também conhecem a língua malaia oficial, o que lhes permite frequentar o sistema de ensino.

Mulher indígena
Mulher indígena numa aldeia Orang Asli créditos: Liliana Ascensão

5. A galeria viva de Street Art de Georgtown

O projecto de Street Art de Georgetown em Penang é um dos melhores exemplos de como uma cultura pop moderna pode coabitar em zonas históricas preservadas pela UNESCO.

Street Art de Georgtown
Grupo de viajantes The Wanderlust num dos murais interativos de George Town créditos: Liliana Ascensão

George Town tornou-se um património mundial da UNESCO em 2008, considerado um museu vivo, lar de multiculturalismo e diversidade. Após este reconhecimento surgiram vários projetos que procuram refletir esse multiculturalismo dos habitantes de George Town, e o mais famoso é o trabalho encomendado ao Lituano Ernest Zachare, uma galeria de street art de murais ao ar livre. Como resultado, a cidade tornou-se mundialmente famosa, e converteu-se num lugar de confluência da intangível cultura antiga dos artesãos com a moderna dos instagramers, e destas com a tangibilidade dos edifícios históricos.