No entanto, tal como expliquei no texto anterior, deixaram-nos cá ficar mas em regime de isolamento. Disseram-nos que se quisermos ficar não podemos sair, a não ser para o essencial. Tudo bem, era mesmo isso que queria, isolar-me e sentir-me segura, já que assim o vírus não entra. Não quero, de todo, apanhar o vírus e sinto que ao isolar-me isso não vai acontecer.

No entanto, o número de casos no Laos já subiu para mais de meia dúzia. São pessoas que trabalham na área do turismo, mas desconfio que existam mais casos que não estão a ser contabilizados.

Por cá, circula um vídeo de uma das infetadas deitada numa cama sem conseguir respirar e sem cuidados nenhuns. Literalmente! Está simplesmente deitada numa cama, num local chamado de hospital. Dizem-me que ninguém lhe toca. Os médicos têm medo de se aproximar e ficarem infetados. Isto mostra o quão precário é o sistema de saúde aqui, em que até os médicos têm medo de trabalhar. Estão à espera de uma equipa especializada da China que vem para ajudar. E veio, efetivamente, rápido.

Medo, pouca informação e sistema de saúde precário. Como é estar em isolamento social no Laos
A loja onde estava a trabalhar créditos: While You Stay Home

Na casa onde estou, o irmão do casal com quem vivo está a estudar enfermagem e foi chamado a ajudar no combate ao vírus numa das províncias do país que tem um caso. Já disse que pensa em cancelar a inscrição do curso pois tem medo de ficar infetado também.

Estou eu e mais uma voluntária aqui com esta família em casa em regime de isolamento. Saímos para comprar comida e não pretendemos sair mais até a mesma acabar. No entanto, já se houve falar da possibilidade de os mercados fecharem.

Eu não sei o que significa para eles isolamento social, mas temo que o conceito não seja o mesmo que o nosso. Vejo-os num entra e sai constante, visitam os amigos, pais, etc. Isto não me parece um isolamento social.

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Temo que Laos não consiga controlar a epidemia, caso o número de infetados comece a subir muito mais. Temo que os habitantes locais não consigam fazer o básico que é o isolamento social e temo que nem saibam as regras para evitar a propagação do vírus.

Para agravar este facto, está muito enraizada na cultura do país o comer com as mãos. Toda a gente come com as mãos e as metem todas no mesmo prato. Até pratos de sopa são partilhados com todos e se veem mãos a serem enfiadas lá dentro. Ora, isto a mim já não me faz confusão porque já estou habituada à cultura da Ásia, mas, neste momento, começa a fazer. Ver isto faz-me acreditar, mais uma vez, que os laonianos não serão capazes de abrandar o contágio do vírus, visto que as mãos parecem ser o grande veículo de transmissão.

Se com este isolamento me sinto finalmente segura? No início, pensei que sim mas, agora, já não. Se alguém do círculo deles apanha o vírus, eles vão apanhar também, e o pior é que o círculo são pessoas que trabalham num restaurante que ainda está aberto e que, portanto, contactam com várias pessoas por dia.

Ao menos no bungalow onde estou mais ninguém entra, a não ser eu e a outra voluntária. Com sorte ninguém fica infetado...

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