Viajar para as Filipinas é um desafio. Aconselho a aproveitarem duas semanas e irem por Hong Kong (viagem muito económica desde Lisboa), depois, de lá, rumo ao paraíso! Paraíso azul e verde, quente, natureza pura. Mas preparem-se que, além dos voos aéreos e de aeroportos com galinhas engraçadas e barcos que balançam ao sabor de tufões (mal se notam!)… aposto que chegarão estafados. Mas vale tudo a pena. E, a esta altura, pensam que a Sandra tem algum síndrome de viagens que permite descurar tufões. Não, é que alguns não se notam e é muito comum por aquelas bandas. E eu adoro momentos de tempestade tropical. Sou aquela exploradora nata.

Uma nota: ao contrário do que alguns bloggers dizem, há voos constantes e seguros para Caticlan, por exemplo. E fazem sempre escala em Manila. Manila é brilhante e misteriosa. Se em Hong Kong vos disserem que terão de trocar a bagagem no terminal de Manila… sim, vocês terão de pegar as vossas malas que virão do anterior ‘destino’ e literalmente mudar de ‘passadeira’ para que elas sigam para o porão do próximo avião! Não se enganem a fazer essa mudança. Eu ri-me imenso desta situação pois não sabia que era mesmo literal que eu teria de mudar de bagagem no terminal de Manila, quase me misturando com malas e passadeiras coladas umas ao lado das outras. Por pouco ia caindo na passadeira. Foi um momento cómico e acolhedor porque fazia um sol lindíssimo em Manila, era brilhante, vista do aeroporto. Edifícios gigantes, muito moderna. Pensei nos documentários sobre os prisioneiros estrangeiros em Manila, sabem do que falo! Pensei no problema do tráfico, precisamente muito controlado naquele aeroporto. Nisto foquei-me no rosto contraído da maioria das pessoas ground force. Manila é a maçã proibida, seja para o pecado do tráfico, seja para o prazer das praias-paraíso.

Manila
Manila créditos: Unsplash

Ora feito o trabalho de ‘concierge’ e trincada a maça do pecado, digamos, voei para Boracay e fiz muito bem. Muitas pessoas, em blogues, desaconselham e por motivos não verídicos. Primeiro, Boracay é muito mais acessível em termos de transportes e tempo ‘poupado’ desde Caticlan (aliás desde Manila, a capital) e, segundo, tem três zonas numa praia maravilhosa. As três zonas ou postos correspondem a: uma zona mais eclética com resorts mais luxuosos e perto de umas rochas lindíssimas, depois a zona festivaleira em que duvido que se durma de noite com o abençoado barulho da música, por fim a zona que escolhi: a calmaria da zona 1 (ou posto 1) e acomodações simples, mas muito boas. Limpeza é palavra de ordem. E é amoroso de se ver diariamente, a troco de nada, a simpatia não contida nos sorrisos escancarados dos filipinos e filipinas… Todos são simpáticos, elas são lindíssimas, as crianças vêm fazer castelos na areia connosco. Algumas, claro, pedem-nos coisas. Por vezes pedem em jeito de: “gosto muito da tua blusa, eu não tenho nada em casa…”.

E queria parar neste ponto a que chamo imunidade ou humanidade no seu esplendor: fiz um castelo na areia com uma criança que não saiu a tarde toda de perto de nós. Ela observava as nossas coisas com vontade de as ter. Então decidi perguntar-lhe qual era o maior sonho dele. O menino, de olhos pousados no castelo que se ia fazendo e desfazendo com o azul da água quente do mar, confessou-me o que pareceu ser algo muito comum nas Filipinas: “Quero sair daqui e ir para a América”. Eu toquei-lhe no queixo e perguntei-lhe pelos pais, ele encolheu os ombros. Depois decidi mudar o assunto e perguntei pela escola. Ele disse que não gostava da escola dele. Quase me pareceu a conversa menos bem sucedida do Mundo. Mas não! Não podia ser na frente do mar mais bonito que algum dia vi. Por fim eu disse-lhe: “Sabes que o teu país, esta praia, é muito procurado pelos americanos? Não sabias que vives no paraíso?”. Ele ficou a olhar para mim e esboçou o sorriso que combinou com o pôr-do-sol mais alaranjado que eu já vi. Consegui, consegui dar alegria à criança desacreditada das Filipinas!

Boracay
Boracay créditos: Unsplash

A verdade é que é um país paupérrimo e que, como sabemos, sofre imenso de tráfico humano e de droga. O tráfico sexual é o mais evidente, é penoso e ainda longe de estar combatido. A pobreza era mais evidente por detrás da linha dos resorts onde estávamos. Mas vale a pena percorrerem as ruas e comprarem souvenirs, sobretudo artesanato. Verem a parte mais florestal que a praia esconde. Comunicar com o povo que é francamente amistoso. Elas tecem muitos elogios às turistas, é bonito de se ver. E falam todos muito bem Inglês. Têm outra caraterística: são ótimos na área hoteleira. Muito organizados e sempre atentos ao que possa faltar ou ao que nos possa surpreender. Recomendo que, seja qual for o vosso hotel, reservem lá as tours pois não precisam fazer isso a partir de Portugal. Diving é obrigatório, os corais são outro paraíso debaixo do mar. Apanhem sol, estirados no convés dos barcos, deixando a língua de areia ao longe e voltem a ela só no final do dia. Tal como quando a lua volta ali às 18h. Boracay é também conhecido pelo cair do sol mais bonito do planeta. Podem escolher mais desportos aquáticos, aliás nos postos 1 e 2 é onde mais encontram opções.

O pequeno-almoço era uma das coisas que mais gostava. Não pela comida em si que é boa, muito saudável, mas pelo mar na minha frente, verde e azul. Contudo, antes dessa primeira alvorada, cheguei totalmente molhada ao hotel que reservara frente ao mar. Ao oceano! Era noite, eu estava cansada da viagem de barco aos solavancos (parecíamos imigrantes ilegais!) e mais uma viagem de tuk-tuk… e arrastar as malas até ao areal. Total de viagens desde Manila: três. Desmaiei de cansaço após celebrar o 31 de Dezembro de 2018! Fazia um calor maravilhoso à meia noite e todos dançavam e cantavam com uma felicidade de ano novo! Eu subi até ao quarto e, embalada pela felicidade ali à porta, adormeci. Quando acordei tinha a gratidão do dia 1 na frente: o mar esverdeado a embater contra árvores cheias de camas de rede… e mesmo na beira dos meus pés, enquanto comia.

Boracay
Boracay créditos: Unsplash

Outra coisa curiosa, mas só consegue fazer como tour: ser sereia por umas horas! E nadar como elas no mar e numa piscina preparada para os turistas! Parece estranho, mas as mulheres adoram. Claro que eu quis também ser Ariel por um par de horas. Enverguei o fato e aprendi a nadar no mar como se fosse mesmo uma sereia. Entretanto, na piscina, tínhamos uma coach adorável e linda a ensinar-nos os movimentos.

Sereia por um dia

Fiquei cansada rapidamente de nadar como um peixe na parte da piscina e nisto vejo que tinha atravessado um tufão durante aquelas horas. Acreditam que, ali, mal se apercebem disso? Só reparei porque estava com lama na roupa deixada longe da piscina e porque o caminho até ao hotel estava mais vazio e a areia muito molhada. Perguntei à coach das sereias e a resposta pitoresca: “Ah, sim aquilo foi um tufão. Normal.” É que eu nem senti o ‘ponto de exclamação’. Porque é normal para eles! Sabemos, no entanto, que há tempestades nas Filipinas que podem dizimar populações. Receei pela altura em que fui, logo após o Natal. Mas, também confesso que ter sentido que vivi um tufão foi uma adrenalina tropical que nunca senti! Logo depois das nuvens, veio aquele sol alaranjado e as águas verdíssimas. As praias filipinas são assim: várias estações num dia.

Sabemos que é desaconselhado, ainda, sair do continente. Mas, com as medidas de prevenção e seguros de viagem, não deixem que o tempo passe e o paraíso fique tão longe como já o é por si. Mais de 14 horas de viagem valem a pena, mas mais meses não. A vida é um dia, nas Filipinas… a vida é todos os dias. Embarquem comigo e garanto-vos que trarão vírus de felicidade pura!