O plano é percorrer de mota o perímetro da Índia, visitando as "cidades de Gama" e explorando os pontos mais emblemáticos da cultura e raízes do povo indiano ao longo de cinco semanas, durante os meses de abril e maio deste ano. Entrevistámos, por e-mail, o Miguel Rodrigues, um dos elementos do grupo, que nos pôs a par dos preparativos para a grande viagem.

Como surgiu a ideia de viajar pela Índia de moto? E de associar essa viagem às comemorações dos 500 anos da morte de Vasco da Gama?

Miguel Rodrigues: A ideia inicial era sairmos de Lisboa com destino a Cochim (Sul da Índia) mas, devido à situação atual do conflito Israel/Palestina que fez agravar o sentimento anti-ocidental nesta região, para além da reativação do conflito entre Irão e Paquistão na zona do Baluchistão, fomos obrigados a alterar a viagem.

Queremos que o projeto mantenha ambição e grandeza, atento que é um tributo a um grande, senão o maior, navegador português, daí termos decidido fazer o perímetro à Índia visitando as "cidades de Gama", Damão, Diu, Calicute, Goa e Cochin.

Nos últimos anos, dois de nós, eu e o Hélio, temos feito viagens de aventura em mota dedicadas aos nossos navegadores. Penso que para um aventureiro não há melhor fonte de inspiração que os nossos heróis dos mares.

Quem gosta de aventura e de levar consigo a portugalidade tem sempre algum projeto em mente. Este ano de 2024 faz 500 anos que Vasco da Gama morreu em Cochin, e para nós não poderia haver melhor data para edificarmos um projeto que ombreasse a aventura de Vasco da Gama.

Sé de Santa Catarina
Sé de Santa Catarina em Goa Velha, Índia créditos: Flickr/Adam Jones (cc)


O que podemos saber sobre o vosso grupo?

Este grupo é um concentrado de gente boa! Três de nós (Miguel, Hélio e Pedro) conhecemo-nos por via das BTT’s, onde fazíamos parte de um grupo mais extenso de praticantes da modalidade, tendo feito várias aventuras juntos e nascendo daí uma amizade e grande cumplicidade em projetos de aventura.

Já o Luís Toscano foi meu colega na banca e desde então nasceu uma amizade que perdura até aos dias de hoje. Todos nós estamos com idades acima dos 50 e temos experiências profissionais diferentes, sendo que o Hélio e o Pedro estão ligados à engenharia automóvel, e eu e o Luís Toscano à banca.

Que outras viagens similares já fizeram?

Cada um de nós tem níveis de experiência diferentes, no entanto todos comungamos da mesma paixão: motas e aventura!

Dos quatro (Miguel, Hélio, Pedro Costa e Luís Toscano), eu e o Hélio somos os que mais quilómetros têm em conjunto em viagens de aventura, sendo que as últimas foram inspiradas e dedicadas a navegadores portugueses.

Em 2020 fizemos uma viagem pelo Chile e Argentina num tributo a Fernão de Magalhães. Iniciamos a viagem em Santiago do Chile rumando ao estreito de Magalhães onde fomos recebidos pelo Alcaide de Punta Arenas. Regressamos pela costa do Atlântico, com paragem em Puerto de San Julian tendo sido recebidos de forma muito calorosa pela Alcaide local. Interessante referir que Puerto de San Julian foi o local onde a frota de Magalhães esteve parada cerca de três meses à espera de melhor tempo, e onde deixou fortes marcas da sua passagem. É impressionante a importância do nome “Magallanes” nestas latitudes! Deu nome a uma região, a uma dieta, a uma raça de pinguins, “batizou” os habitantes da zona como “Patagões”, que deu nome à Patagónia, cristianizando toda esta zona do globo.

Em 2022, aventurei-me a fazer o perímetro da Austrália, num tributo ao navegador Cristóvão de Mendonça, que terá sido o primeiro europeu a descobrir a Austrália. Grande parte desta viagem foi feita a solo, sendo que no último quarto de viagem o Hélio juntou-se para fazer a viagem de Perth até Melbourne com uma incursão ao monte Uluru.

Aqui realço a afetividade da comunidade portuguesa, bem como o seu empenho na divulgação da nossa cultura e história. Quando lá cheguei já tinham feito a comemoração dos 500 anos da descoberta da ilha por Cristóvão de Mendonça, sendo que aqui em Portugal, infelizmente, poucos são os que conhecem o nome deste navegador alentejano, quanto mais que fez 500 anos que descobriu a “ilha do Ouro”.


Quais são os maiores desafios que supõem que vão enfrentar numa viagem deste género? Já têm tudo fechado ao nível do alojamento, por exemplo, ou é algo que terão de ver mais em cima do acontecimento?

Sem dúvida o trânsito, pois temos conhecimento que é caótico e perigoso. Admito que tenhamos que ter alguma habituação pois, pelo que conseguimos apurar, muitos condutores não têm carta de condução, conduzindo de forma empírica e sem regras. Este será um grande desafio, seguido da alimentação.

Neste momento ainda não temos definido o ponto de partida, dado que ainda não está fechado o local onde vamos ter acesso às motas. Estamos a contactar uma marca local com representatividade internacional no sentido de aferir o interesse em nos disponibilizar as motas para a viagem.

Cochin
Redes de pesca no horizonte de Cochin, Índia créditos: Flickr/Mike Finn (cc)

Este tipo de viagem tem uma componente de navegação à vista, pois não temos a perceção do progresso em distância no dia-a-dia, atendendo ao trânsito e às estradas. Admito que em alguns dias possamos fazer 500 km, mas haverá outros em que, quer pelo trânsito quer pelo clima, possamos ficar aquém deste número.


Que apoios procuram para esta aventura?

Para um projeto destes precisamos de parcerias institucionais, comerciais e patrocinadores. As parcerias institucionais estão já garantidas com o apoio da CM Sines, Agência de Turismo do Alentejo, Casa da India e CM Lisboa. Temos como parceiros comerciais a Sonae Sierra a qual nos disponibiliza área num centro comercial de grande fluxo de visitantes para expor um stand onde os aventureiros poderão partilhar a aventura.

Nesta fase estamos a contactar e a convidar empresas que pretendam associar-se ao projeto na vertente de patrocinadores, o que é sempre a fase mais difícil, mas crucial para pôr uma aventura destas em marcha.

Como podemos seguir a vossa viagem?

Iremos ter uma presença ativa nas redes sociais habituais, tais como Facebook, Instagram, YouTube e TikTok. Esta presença está ainda a ser construída, uma vez que nenhum de nós é proficiente nestas ferramentas. Ficará a certeza que, assim que estiverem prontas, haverá muitas histórias e muitas imagens para partilhar!

Podem acompanhar a viagem Rota de Gama através do instagram, facebook e youtube.