Esta é uma cidade envolta de polémicas, mas a maior é o facto de tudo nela ser de dimensões avultadas. Não é de todo um destino turístico no Myanmar, apesar do país não ter muitos turistas de qualquer modo, mas os que cá vêm é pelo mesmo motivo que eu: curiosidade.

O que ouço é que é surreal lá estar. É intrigante o facto de as estradas terem até 20 faixas, sim 10 de cada lado, mas quase ninguém lá circula. Os edifícios são gigantescos e no entanto não se veem pessoas. A capital do Myanmar é mais conhecida como a cidade fantasma, e tive que lá ir para comprovar o quanto surreal ela aparenta ser.

É, na realidade, muito estranho lá estar. Apesar de números oficiais apontarem para cerca de 1 milhão de habitantes, ninguém acredita em tal número. Não há pessoas nas ruas. As estradas são boas e amplas, bem melhores do que no resto do país, mas, no entanto, circulam meia dúzia de veículos por lá.

Todas as pessoas que vejo são trabalhadores públicos, isto é, pessoas a tratar das plantas que decoram a cidade, a regar, a tratar da vegetação junto às faixas de rodagem, não vejo mais ninguém a não ser estes trabalhadores que cuidam de uma cidade que aparenta ser para ninguém.

Dou por mim a pensar que isto é irrisório, surreal e não faz sentido nenhum. Um país com tanta população ainda sem acesso a electricidade e condições sanitárias, e o governo gastou milhões de euros a construir uma cidade vazia, fantasma… Dá que pensar!

Esta cidade foi construída pelo governo na altura militar, com propósitos militares. Dizem que as tantas faixas de rodagem foram feitas a pensar na eventualidade de poderem lá aterrar aviões. A capital passou em 2006 a ser esta. O parlamento fica nesta cidade e é gigantesco, é ao redor dele que se encontra esta estrada com 10 faixas de cada lado, e uma mota, a minha.

Estradas vazias créditos: While You Stay Home

Paro para uma foto, mas afinal há mais um condutor por aqui. Pára ao meu lado e dá-me a entender, no seu inglês básico, que não posso parar ali. Existem postos com policiais mais à frente e dou-lhe ouvidos. Não quero cá chatices. Não dá mesmo para explicar, ou os leitores nunca irão entender o qual surreal parece este sítio através de palavras. É toda a sua envolvência, silêncio, vazio que fazem desta cidade um sítio estranho, e tudo isto são “feelings” que se sentem no local. Li bastante antes de lá ir, mas lá estar é realmente outra coisa.

Os hotéis têm um ar novo e requintado. Não há acomodações low-cost. O hotel onde fico é bem grande. Não tem ninguém. Um silêncio ensurdecedor envolve-o, e ser a única pessoa num restaurante de grandes dimensões onde o silêncio reina é, no mínimo, caricato. Senti que a única empregada que lá estava me conseguia ouvir a mastigar a comida lá do outro lado do restaurante. Para chegar ao meu quarto tenho de andar 4 minutos. Quando lá cheguei até tive direito a carrinho de hotel para me levarem até ele, já que não era assim tão perto.

Todos os outros edifícios que vejo enquanto lá ando de mota são também de dimensões avultadas. O pagode principal, dizem que é uma imitação do Shwedagon em Yangon, está envolvido por um complexo gigante, com meia dúzia de pessoas. Portanto, em nada se assemelha à vivacidade do seu parente em Yangon. É estranho estar aqui também. Penso que foi o templo com mais área vazia em que já estive.

créditos: While You Stay Home

A surrealidade da cidade tem fama além-fronteiras e até o conceituado programa Top Gear foi lá gravar episódios na qual chama de “bizarra capital do Myanmar”. Pudera, com tanto espaço para conduzir, não vejo sítio mais apropriado para corridas a alta velocidade e para testar carros de alta cilindrada. Um paraíso para amantes do asfalto.

Esta cidade foi, sem dúvida, um sítio diferente de todos os outros em que já estive até hoje. Não sei que outro local pode dar este sentimento surreal sobre a sua existência.

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