Foi aí que nasceu o meu interesse por viagens de comboio, e não podia falhar em fazer a viagem de comboio mais bonita de Portugal, aquela que segue o rio Douro. Existe até um comboio turístico que faz esta viagem. Um comboio de aspeto antigo no qual não andei.

Sim, é verdade, fiz a viagem mais bonita de comboio de Portugal, mas num comboio normal com serviços diários e que liga o Porto ao Pocinho. A razão de querer fazer esta viagem era mesmo pelas vistas, portanto fazê-la a bordo deste comboio mais em conta foi a minha opção.

Não estava à espera que o comboio tivesse o aspeto que tem. Penso que entrei no comboio inter-regional mais bonito. É imponente a sua frente azul de aspeto vintage, mas muito bem conservada. Tem aspeto de comboio velho e só por isso adorei-o já mesmo antes de entrar. As portas não são automáticas e os assentos têm um aspeto antigo também. As janelas conseguem-se abrir, coisa que não fiz devido à temperatura exterior. Uma coisa aprendi: a melhor altura para fazer esta viagem é no verão quando, provavelmente, poderia saborear o vento. Sendo assim, neste dia nublado, o melhor era mesmo que as janelas estivessem todas fechadas.

Havia lido que o trecho mais bonito desta linha ferroviária vai de Mosteiro (a primeira paragem que se encontra com o rio Douro) até Pinhão. No entanto, não fiz este trecho todo. Decidi sair onde mais ninguém saiu, numa estação desértica, chamada Covelinhas.

De Mosteiro a Covelinhas este passeio de comboio já valeu a pena. As vistas são incríveis e em constante mudança. É mais perto da Régua que se começam a ver os socalcos das vinhas desenhados nas montanhas que nos invadem a emoção, e com isso mais cores pintam a paisagem que já se veste com vários tons de avermelhados.

Na estação de comboio da Régua estavam já muitos turistas e umas senhoras com cestas na mão a vender doces. Por momentos, lembrei-me das viagens de comboio no Myanmar e como elas já terão sido muito parecidas com as de Portugal, mas há muitos anos.

Saí em Covelinhas porque vi no mapa que existe um miradouro não muito longe, o Miradouro de São Leonardo. Seriam duas horas de caminho até lá chegar, mas sem problemas, pois tenho o dia todo.

Não sabia o que esperar de Covelinhas, mas surpreendeu-me pela positiva. Na verdade, não se passa nada aqui, não se veem carros passar, nem tão pouco pessoas, mas já da estação a vista é bonita. O rio está ali ao lado e as suas margens são um deleite para os sentidos. Só se ouve o chilrear de pássaros. Fiquei lá por uns momentos com a certeza de que tinha escolhido bem a minha paragem.

Ponho-me a caminho de São Leonardo e quanto mais ando, mais bonito o local se torna. Dou por mim a pensar que estas casas na encosta têm uma vista maravilhosa e do quanto não me importava de também ter uma casa ali. Acordar todos os dias com aquela vista deve ser gratificante. O local é muito sossegado e silencioso fazendo com que o chilrear seja o som mais comum de ouvir.

Vou em direção ao miradouro de São Leonardo pelas montanhas cobertas de vinha e oliveiras. Existe um caminho chamado “Caminho dos Castelinhos”, mas que deve ser tão usado como uma máscara em tempos pré-COVID.

A viagem de comboio mais bonita de Portugal
créditos: While You Stay Home

O caminho já mal se vê, está tomado por ervas e pedras soltas que não facilitam nada a sua subida. É na realidade um caminho bem ruim que a certo ponto deixa de ser visível. Mas, as vistas, até deixar de poder ver o caminho bem marcado no chão, são de louvar. Sinto que não tenho de chegar até ao miradouro marcado no mapa para ter o melhor desta vista. Portanto, não o fiz. Fiquei a meio do caminho e perdi-me entre labirintos de videiras que me levavam a vistas magníficas. Encontrei o meu spot no meio da vinha e lá fiquei.

No caminho de volta para o comboio julguei que ir por entre as vinhas seria mais rápido, mas depressa convenci-me do contrário. O emaranhar de vinhas é tanto que decidi que tinha de voltar por onde já tinha andado, caso contrário iria levar uma eternidade a sair dali. Só existe um café por perto, mais nada. Paro para comprar uma água e sigo para a ferrovia. Não sem antes ver um comboio atravessar a zona mais lá no alto. Um momento bonito de apreciar, e uma boa foto que não consegui tirar.

Completamente só na estação, espero que o comboio venha mesmo, pois o próximo só passa em duas horas. Penso que foi o facto de tudo me parecer tão desértico que me fez pensar nessa opção de o comboio nem passar. O facto de ele ter-se atrasado mais de 15 minutos também não ajudou.

No total este comboio ainda anda durante 1h junto ao rio Douro, portanto uma hora acompanhada de paisagens lindíssimas. Pena que na viagem de volta já estava a anoitecer e não consegui ver nada além da escuridão. Mesmo assim, este comboio foi digno do título de viagem de comboio mais bonita de Portugal e Covelinhas foi uma ótima surpresa.