É uma terra sem gente. Perdizes e veados descobrem-se, por vezes, em caminhos do entardecer. Fogem de coutadas de caça.

Alares
créditos: andarilho.pt

A calma e a passividade dos que por cá ficaram escondem os anos agitados da Guerra dos Montes. Os sete anos de uma luta desenfreada entre povos de várias comunidades locais, sobre a posse e o usufruto da terra, de alguns montes isolados.

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Alares créditos: andarilho.pt

A Guerra dos Montes começou em 1923 e só terminou em 1930 com a distribuição de várias parcelas de terra por sorteio. Quem vivia em Alares, uma encosta fértil com várias linhas de água, teve de sair.

Alguns dos habitantes fundaram a aldeia de Soalheiras, a cerca de 3km de distância, numa encosta mais profunda.
Adianta Arlindo Gardete, que encontrei em Soalheiras, que “parte veio para aqui, outros para Cegonhas e outros para Monforte da Beira.”

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As primeiras casas de Soalheiras créditos: andarilho.pt

A conversa tem lugar próximo de um conjunto de pequenas casas térreas de granito. “Era onde antigamente metiam os animais. Ainda têm dono, os herdeiros. Mantêm a traça do xisto porque estas foram as primeiras casas feitas aqui. Ainda há algumas de xisto mas poucas porque quem faz casas já é diferente, já é nova.”

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O xisto é também a principal matéria-prima usada na construção das casas térreas de Alares. Arlindo Gardete e outro residente em Soalheiras, mais idoso, explicam-me o caminho e antecipam o que vou encontrar: “Alares está em ruínas. Se calhar não se vê lá uma casa de pé. Já caiu tudo. Os telhados estão por terra, as paredes também. Aquilo ali era só pedra e barro, como era antigamente.”

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No entanto, seduz muitos visitantes, “há muita gente que vai ver os Alares e a Cobeira. Principalmente no Verão. Aqui nós chamamos de turistas.”

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Também fomos "turistas". Há um percurso pedestre e de carro é preciso perícia para subir encostas ingremes de terra batida e esventrada pelo uso. Cheguei ao pôr-do-sol e é deslumbrante. Uma extensão enorme de linhas de pedras que delimitam caminhos e casas.

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De habitação ou de guarda de animais. É o esqueleto de uma aldeia com dezenas de habitações que se estende ao longo de uma encosta suave. O brilho refletido do pôr-do-sol nas pedras dá um pouco de vida ao lento adormecimento de Alares.

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Outro sinal de vida, interrompida há quase um século, são tampos de panelas e mais alguns objetos de uso doméstico.

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Cobreira, outro dos montes envolvido nos conflitos, também está praticamente abandonada segundo me disse Arlindo Gardete. “Cobreira é mais para baixo. As casas também estão abandonadas. Há uma casa ou duas feitas em condições e uma pessoa que vive numa herdade.”

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Todos estes lugares estão agora despovoados. Não há conflitos sobre a posse da terra, mas também não há gente. “Uns emigraram para o estrangeiro e outros foram para Lisboa. Agora aqui são poucas as pessoas e já de idade. Provavelmente, têm mais casas do que moradores. No Verão é que tem muita gente. É como as formigas, como se costuma dizer. É em Agosto na altura da festa.”

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Soalheiras créditos: andarilho.pt

Os que residem com alguma assiduidade ou em permanência vivem das reformas ou do cultivo. “Só há um senhor que tem gado, de resto vivem à base da reforma”. Arlindo Gardete vem “de vez em quando. Ao fim de semana, férias... quando posso. Isto aqui é o sossego.”

Este é um dos motivos porque em alguns lugares há novos moradores, como é o caso de um pequeno aglomerado de casas, talvez meia dúzia, e que estão quase todas arranjadas.

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Couto dos Correias créditos: andarilho.pt

É o Couto dos Correias.Aquilo foi tudo remodelado. Tem pessoas que não são daqui, alguns são da zona de Coimbra. Dizem os antigos que aquilo era de uma família, dos Correias, e por isso ficou com o nome de Couto dos Correias”.

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Arlindo Gardete créditos: andarilho.pt

Da Guerra dos Montes, um século depois, a mesma terra, é agora procurada pela Paz dos Montes.

Alares - guerra e paz nos montes faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.

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