Despedimo-nos do nosso quotidiano, assim que entramos neste hotel. De repente, estamos num mundo Vista Alegre. No lobby, deparamo-nos com uma construção abstrata de porcelanas do artista francês Sam Baron. É moderna, mas se seguirmos com o olhar para o lado direito, encontramos vestígios do passado – uma parede de pedra arenito. Percebemos que, aqui, o antigo e o moderno estão ligados de forma harmoniosa.

Este cenário espelha aquilo que é hoje a Vista Alegre, uma marca com quase dois séculos que se soube modernizar sem esquecer as suas raízes. Nas palavras do diretor do hotel, António Machado Matos, atualmente a Vista Alegre é “como as aventuras do Tintim” ao agradar dos sete aos 70 anos. “Temos porcelanas que vão ao encontro dos mais jovens e que, naturalmente, continuam a ir ao encontro dos mais velhos.”

Não estranhamos por isso que considere o hotel “um showroom da Vista Alegre”. Mas, atenção, aqui não se faz propaganda, celebra-se a marca que acompanha a vida de muitas famílias portuguesas. Afinal, e como refere Machado Matos, “é sempre escolhida para momentos especiais, para um prenda especial ou para termos um serviço que utilizamos em dias especiais”.

Por todo o hotel encontramos elementos da Vista Alegre que procuram deixar-nos com vontade de saber mais e a fazer perguntas sobre a marca e a indústria da cerâmica. Sem percebermos, envolvemo-nos com a temática e – mal sabemos – ainda temos uma “vila” por uma descobrir.

Montebelo Vista Alegre, um lugar para ficar e regressar

Para além de “showroom”, o Montebelo Vista Alegre é também um lugar de experiências que oferece diferentes tipos de alojamento. “É um hotel que no fundo está distribuído”, explica-nos o diretor durante a visita guiada a este espaço composto por três áreas distintas de alojamento, um restaurante e uma área dedicada ao bem-estar. “Não é uma estrutura vertical em que há uma figura central e tudo gravita à volta da mesma”, conclui.

Inaugurado no último trimestre de 2015, o hotel começou por oferecer apenas 72 quartos na área que corresponde à Ala Nova, que é onde se encontra a receção, o restaurante e bares Vista Alegre e o espaço wellness que conta com piscina interior e spa. Em relação aos quartos, na Ala Nova encontram-se distribuídos por três pisos que mostram a produção das peças de porcelana. Assim, no primeiro piso estão os elementos alusivos aos Moldes e Formas das peças, no segundo, onde tudo é em branco, apresenta-se o resultado final da cozedura da porcelana e, no terceiro, Peças Decoradas.

Da Ala Nova, pela escada em espiral, passamos para o Palácio Residencial que abriu pouco tempo após a inauguração. “A parte do palácio já é mais conservadora porque era a casa da família do fundador da fábrica, José Ferreira Pinto Basto”, conta o diretor. “Tinha 14 quartos e, neste momento, tem 10, porque cada quarto tem uma casa de banho”, acrescenta enquanto mostra o edifício secular que mantém a traça original. “É interessante porque temos duas casas de banho que só têm três janelas”, diz em tom de brincadeira, salientando o facto de então receberem muita luz natural, o que acaba por ser “sempre uma mais-valia”.

Depois ainda existe o Palácio do Mestre Pintores, que foi casa do primeiro pintor da marca portuguesa, o francês Victor Rousseau. Com acesso por escadas ou pelo exterior, o Palácio oferece 13 quartos com decoração inspirada na fauna e na flora. Inaugurados em novembro de 2018, os quartos deste Palácio oferecem uma atmosfera mais intimista por causa da independência do edifício da Ala Nova.

Entretanto, e a partir de junho de 2021, a oferta hoteleira passou praticamente para o dobro. De 95 alojamentos, o Montebelo Vista Alegre passou a oferecer 173 quartos ao dar nova vida às moradias onde habitavam os trabalhadores da Fábrica. No Bairro Vista Alegre existem quartos, studios e apartamentos T1, T2 e T3.

O encanto do lugar da Vista Alegre

O Montebelo Vista Alegre faz parte do projeto de recuperação do espaço fabril da Vista Alegre que, para além do hotel, tem a capela de Nossa Senhora da Penha de França, um teatro e um museu. Entre estas atrações, existe ainda uma loja Vista Alegre, do Bordallo Pinheiro e um outlet.

Para além de nos permitir viajar pela história, descobrir a evolução da marca e dos seus processos, o complexo revela também uma marca social de José Ferreira Pinto Basto, que criou o bairro operário, escolas, creches, centro de saúde, bombeiros. Pode ficar a saber mais aqui.

Existem várias possibilidades para passar um dia ou uma tarde no Vista Alegre. Desde usufruir do spa ou da piscina exterior com vista para a ria (e água aquecida), a uma visita ao museu, lojas e ao contemplar da Bela Sombra. Pode ainda fazer um workshop ou seguir um dos roteiros disponibilizados pelo hotel.

A partir do Vista Alegre, também pode explorar as praias da Costa Nova e o centro de Aveiro, tendo em conta que se encontram a menos de sete quilómetros de distância.

Para terminar o dia em elegância, jante no restaurante do hotel que conta com pratos de bacalhau como o à brás e Confit de bacalhau com puré de grão e ovo a 62º, risotto de gambas, lima e gengibre e Cachaço de porco ibérico com molho de mostarda e mel e brás de espargos.

A fonte da Vista Alegre

“Acredito que quem, nos nossos dias, vem à Vista Alegre, pensa que tudo é Vista Alegre por causa da fábrica, mas é Vista Alegre por causa do local.”, revela António Machado Matos junto à Fonte do Carapichel, mandada construir em 1696 e restaurada em 2015, integrando o hotel.

Envolta em várias lendas milagreiras, a fonte continua a deixar água correr. E é ao recuarmos no tempo e ao lermos o final do poema esculpido na pedra frontal que descobrimos a origem do nome da fábrica e do hotel:

“bebe, pois, bebe á vontade
acharás que é (muitas vezes)
tão útil para a saúde
quão para a vista alegre”

Fonte do Carapichel
Fonte do Carapichel créditos: DR

“Estar aqui neste local refrescante” – naquela altura despovoado – “ a beber esta água e contemplando [o rio Boco] era realmente uma vista muito bonita”, partilha António Machado Matos. “E o nome Vista Alegre vem, portanto, desde então. A fábrica [Fundada em 1824] depois adota o nome: Real Fábrica de PorcelanaVidros e Processos Chimicos da Vista Alegre ”.

*O SAPO Viagens visitou o Montebelo Vista Alegre a convite do hotel