Texto e fotografias por Cláudia e Fábio

Pois é. Chegou ao fim esta nossa grande aventura pela Europa com 742 dias de estrada, no qual totalizámos 85 mil quilómetros a bordo de uma Fiat Doblo, que transformámos nós mesmos da forma mais prática e simples possível.

Depois de termos visitado 43 países, de termos passado por situações menos boas e outras que nos vão marcar para sempre, estamos de volta à “base”, de volta à nossa casa e de volta à rotina, o qual já esperávamos dado que já íamos com a ideia do tempo necessário e com orçamento atribuído para esta viagem. Mas sejamos sinceros o conforto de uma casa é inigualável, o corpo e a mente já estavam a acusar a sua falta.

Como começou esta ideia de viajar numa carrinha? A ideia surgiu em 2018, naquelas típicas férias de 15 dias em que não dá para conhecer verdadeiramente um país. Estávamos num parque de campismo em Pisa (Itália), vimos uma carrinha transformada em autocaravana que despertou o nosso interesse. Olhámos um para o outro e dissemos: “Porque não?” A partir daí, começámos a trabalhar para o objetivo de viajar pela Europa por pelo menos um 1 ano, que acabou por se transformar em 2 anos.

A carrinha em que a Cláudia e o Fábio viveram durante 700 dias
A Fiat Doblo na qual o casal viajou e viveu ao longo de mais de 700 dias créditos: instagram.com/fabio.traveldiaries/

2020 era o ano da partida, mas como todos sabemos, o Covid veio assolar as nossas vidas e pregou-nos uma partida que nos levou a adiar o sonho por mais um ano. Janeiro de 2021, fronteiras começam a abrir e aproveitámos o momento para partir na nossa tão aguardada aventura. E aí fomos nós. Durante uma pandemia, em busca do desconhecido, da aventura, dos desafios, da felicidade… mas era o nosso sonho!

Primeira noite que dormimos na carrinha, fomos logo postos à prova. Tempestade de neve com temperaturas de -15ºgraus algures em Espanha. E seguimos caminho até à Turquia onde mais uma vez fomos testados, mas desta vez com vagas de calor com temperaturas a rondar os 47º graus. Desistir nunca foi opção e escolhemos os nórdicos (Finlândia, Suécia e Noruega) para passarmos o inverno. Presenciámos o verdadeiro poder da natureza. Temperaturas aproximavam-se dos -30º graus e todos os dias era um desafio. O frio é uma força poderosa, uma simples tarefas como lavar a loiça e cozinhar era duro, nem a mecânica escapou. Mas sobrevivemos e assistimos a paisagens que ainda hoje nos marcam, foi simplesmente impressionante.

Regressámos a Portugal em fevereiro de 2022, para resolver alguns problemas pessoais e também para fazer a inspeção da carrinha. Problemas resolvidos, a estrada esperava por nós novamente para visitar os países que não tínhamos conseguido visitar na 1º fase e para regressar a alguns que nos tocaram e ficarão para sempre nosso coração, mas também íamos com uma missão: chegar à China!

Depois de termos visitado a Geórgia e a Arménia, estava na hora de tentar entrar no Azerbaijão, mas os planos não saíram como estávamos à espera. Fronteira terrestre fechada e sem data prevista de abertura. Estávamos tão perto, a 3 países de chegar à China. E agora? Tivemos de abandonar a ideia. No entanto surgia outro plano que era conhecer Bósnia, Sérvia, Reino Unido e Irlanda que ainda não tínhamos visitado e que foram uma boa surpresa. Conclusão, os planos nunca correm como esperamos, mas rapidamente nos adaptamos.

A nossa estadia pela Sérvia foi muito curta e a única coisa que nos lembramos nitidamente, foram as 2h de espera para atravessar a fronteira  (entrámos pela Bulgária) debaixo de um sol abrasador, com a temperatura a atingir os 40 graus.

Bósnia Herzegovina brindou-nos com paisagens deslumbrantes. Rio Drina, Parque Natural de Blidinje, Parque Nacional de Una, Cascatas de Kravica, entre muitos outros lugares que nos deixaram impressionados com a beleza natural do país e sem nunca esquecer a tão famosa cidade de Mostar.

O outono foi passado no Reino Unido, onde tivemos muita sorte com o tempo que se fez sentir. Nunca pensámos gostar tanto de lá estar e a Escócia ganhou um lugar muito especial no nosso coração pela beleza natural, um sem fim de cenários magníficos para explorar, como a Ilha de Skye ou as Highlands, que não podíamos deixar de visitar, e também pelos locais que foram sempre muito simpáticos connosco.

Fronteira portuguesa
A passarem a fronteira portuguesa créditos: instagram.com/fabio.traveldiaries

E por fim demos o último check a um país novo: Irlanda, onde permanecemos o mês de Dezembro e pelo qual nutrimos um sentimento de amor/ódio. Foi onde passámos as piores noites de toda a nossa viagem. Todos os dias estava vento, todos os dias chovia, todos os dias dormíamos mal (a van abanava a noite toda) e era uma luta diária para conseguirmos aproveitar o país e conseguir visitar o máximo possível. Fizemos toda a Wild Atlantic Way, vimos as falésias mais impressionantes de toda a nossa vida, os Faróis com as melhores vistas, os sinais “Eire” que serviram de marcação durante a II Guerra Mundial e as colinas mais verdejantes. Mas estava na hora de começar a fazer o regresso a casa.

Ao fim de tantas aventuras, de mais de 2 anos de estrada, a Europa para nós está fechada.

Como seria de esperar, tomámos o gosto a este estilo de viagem e já estamos a planear a nossa próxima aventura: Alasca-Ushuaia. Planeamos enviar uma van com matrícula portuguesa da Bélgica para os EUA e daí começar mais uma grande aventura. Podem seguir-nos no nosso instagram.