Ainda não amanheceu, mas Gonzalo Chiang e o seu cachorro já estão a recolher lixo no maior parque de Santiago do Chile, numa cruzada individual para promover o "plogging" num país que recicla menos que a média na América Latina.

Chiang, um advogado de 38 anos, aproveita há mais de dois anos o passeio matinal de Sam, um border collie, para realizar essa prática surgida na Suécia em 2016. O termo deriva da palavra 'plocka', que significa recolher em sueco, e 'jogging', que em inglês significa trote, uma corrida mais leve.

Embora seja popular em várias partes do mundo, Chiang e Sam apresentam-se como pioneiros do "plogging" no Chile, uma das economias mais competitivas da América Latina, em plena transição para energias limpas, mas em dívida com a gestão de resíduos.

"Do quotidiano, como o passeio diário do cachorro, (...) podem surgir grandes diferenças a partir de hábitos e da ação individual", e "podem ter impacto" na preservação do meio ambiente, assegura o advogado.

Dos resíduos não perigosos, o Chile recicla apenas 3,1%, abaixo da média de 4,4% na região, segundo a Comissão Económica para a América Latina e o Caribe (Cepal).

Mais de 27.500 embalagens recicladas

Chiang mantém um registo que partilhou nas suas redes: em 110 semanas caminhou ou correu 4.126 km e recolheu 19.071 e 8.512 latas para reciclagem.

Plogging
Gonzalo Chiang e Sam a praticarem plogging créditos: AFP/Rodrigo Arangua

As suas estatísticas incluem o material que retira do chão após cada jornada no Monte San Cristóbal, com 720 hectares e considerado o maior pulmão de Santiago, também conhecido como Parque Metropolitano (Parquemet).

O "binómio" advogado-cão realiza quatro caminhadas por semana, cada uma com duas horas de duração, entre as seis e oito da manhã. O humano recolhe o lixo usando um bastão com pinça e coloca-o em dois sacos que leva na mão. O restante vai para a alforge usada por Sam, treinado para carregar garrafas e latas.

"O objetivo (da contagem) é deixar um testemunho (...) de uma maneira concreta, de qual é o impacto que se pode gerar a partir da vida quotidiana para tentar melhorar o que é de todos", assegura.

"Super-herói"

Inspirado no nome do seu animal de estimação, Chiang incentiva no Instagram, X e TikTok o "Sambombazo Project", para promover o plogging, como uma contribuição pessoal para a preservação do meio ambiente.

Mais do que os já populares dias coletivos de limpeza de praias ou margens de lagos, Chiang quer reforçar a sua mensagem a favor da ação individual.

E nisso, Sam tem sido o seu principal aliado. "Exercitar com o Sam é algo que me diverte muito, mas ele atrai muito mais atenção do que eu, porque ele é muito mais amigável com as crianças, 'pega' muito mais", reconhece.

Plogging
O Sam a apanhar uma garrafa de plástico durante uma sessão de plogging créditos: AFP/Rodrigo Arangua

A sua popularidade levou à utilização da sua imagem em 2022 num guia ilustrado para promover a recolha de resíduos, onde o cão é mencionado como o "super-herói do Parquemet".

Quando terminam um passeio pelo parque, Chiang e o seu cachorro descarregam os seus sacos e a alforje de Sam num dos pontos de reciclagem.

No relatório mais recente do Banco Mundial sobre gestão de resíduos no mundo, elaborado em 2018, o Chile era superado apenas pelo México como o país na América Latina que gerava mais resíduos domiciliares per capita: 1,15 quilo por dia.

No entanto, os chilenos conseguiram reduzir esse número para 0,99 kg por pessoa, de acordo com dados de 2021 do Ministério do Meio Ambiente do Chile.