Um setor que polui

A má reputação dos cruzeiros deve-se à sua pegada ecológia, especialmente por poluir a atmosfera. A grande maioria dos navios de cruzeiro é movida a combustível pesado, que é barato, mas cheio de substâncias tóxicas nocivas, como enxofre, nitrogênio e partículas finas, que aumentam o risco de doenças respiratórias e cardiovasculares.

O uso de combustíveis pesados é proibido atualmente na Antártida.

Segundo um relatório do Transport & Environment, 203 navios de cruzeiro na Europa emitiram mais de 10 milhões de toneladas de CO2 em 2017, o equivalente às emissões anuais de Luxemburgo e Chipre.

O estudo também demonstrou que estes navios expeliram 20 vezes mais óxido de enxofre do que 260 milhões de carros em rodovias europeias.

Embora algum progresso esteja a ser feito, ainda é lento.

"Apenas uma pequena proporção das frotas está mudar de paradigma, enquanto a indústria continua, de longe, a depender de combustíveis pesados e falha ao usar tecnologia de exaustão", reportou a ONG europeia Nabu no seu ranking de cruzeiros de 2019.

Segundo as novas regras da Organização Marítima Internacional (IMO, na sigla em inglês), que entram em vigor no dia 01 de janeiro de 2020, o nível de enxofre permitido no combustível de navegação será limitado a 0,5%, exceto para navios equipados com filtros de gases de exaustão, conhecidos como "scrubbers", em comparação com os 3,5% permitidos atualmente.

Em algumas regiões, como nos Mares do Norte e Báltico, o nível máximo autorizado já é de 0,1%.

Até mesmo os "scrubbers" são controversos porque, em geral, a maioria dos estaleiros opta por um sistema aberto no qual, depois de separados os poluentes perigosos, são libertados no mar ao invés de serem estocados a bordo.

Vários países, especialmente na Europa e na Ásia, ou já baniram ou vão banir em breve os sistemas abertos nas suas águas e portos.

Diferentes alternativas na ementa

Os "Prius dos mares"

O primeiro navio de cruzeiro híbrido diesel-elétrico, o Roald Amundsen, foi lançado este verão pela empresa norueguesa Hurtigruten.

De forma similar ao Prius, carro híbrido da Toyota, o navio tem dois jogos de bateria de íon-lítio que complementam os quatro motores a diesel.

As baterias fornecem a energia necessária para atender a picos de demanda sem se ter de ligar outro motor e reduzem tanto o consumo de combustível quanto as emissões de CO2 em 20%, segundo a Hurtigruten.

Híbrido 2

O estaleiro francês Ponant optou por um motor híbrido que combina diesel e gás natural liquefeito (GNL) com geradores elétricos para o navio de cruzeiro quebra-gelo Le Commandant Charcot, atualmente em construção.

Aguardado para ser entregue em 2021, a embarcação, que navegará até o Polo Norte geográfico, vai gerar zero emissões quando funcionar no modo elétrico, o que poderá fazer durante várias horas.

Quando alternar para o modo GNL, as emissões de CO2 serão reduzidas em 25%, de óxido de nitrogénio em 85%, e de partículas finas em 95%, segundo a companhia. Assim como a Hurtigruten antes dela, o Ponant parou voluntariamente de usar combustível pesado na sua frota este ano.

100% a gás

Lançados em 2018 e 2019, os gigantes Aida Nova e Costa Smeralda, capazes de transportar 6.500 passageiros cada um, superam o ranking do Nabu. Da italiana Costa Cruises, estes dois navios são os primeiros totalmente movidos a GNL, o que significa que geram níveis muito baixos. Vários outros navios a GNL estão na lista de encomendas.

Velas ao vento

Alguns estaleiros estão a voltar-se para a energia das velas. O francês Chantiers de l'Atlantique desenvolveu uma nova série de navios de cruzeiro a vela, denominada Silenseas, usando a sua tecnologia "Solid Sail" em conjunto com outras energias limpas, como baterias e GNL, para reduzir as emissões.

Conectados

Algumas empresas, como a alemã Aida e a americana Princess Cruises, decidiram modificar os seus navios de modo a conseguir conectá-los à rede elétrica em terra quando estiverem atracados, ao invés de ligar seus motores, que é uma grande fonte de poluição nos portos que visitam. Embora ainda seja rara, este tipo de infraestrutura baseada em solo está se tornando mais comum.

Compensação

A suíça MSC Cruises visa tornar-se a primeira grande companhia de cruzeiros neutra em carbono, ao compensar as suas emissões em todo mundo a partir de 1º de janeiro de 2020.