Como/quando começou o “bichinho” das viagens?

Marcelo: Quando em 2007 decidi ir para a Suíça, sozinho no meu carro, sem dominar a língua do país, mas cheio de sonhos (e alguma maluquice à mistura), senti que era esta sensação que queria continuar a ter durante muitos e muitos anos. Aquela liberdade e adrenalina, em conjunto com todas as vivências dessa experiência na Suíça, fizeram-me crescer imenso como pessoa, ajudaram-me a definir caminhos e a ganhar o “bichinho” das viagens. Confirmei também como podemos ter uma capacidade infinita de adaptação aos lugares e às várias provas que cada um deles nos trazem. Depois disso, nunca mais parei.

Vera: Há dois momentos que são marcantes para mim. Em pequena, as viagens de férias grandes, com os meus pais e o meu irmão, para o Algarve, ao som de uma qualquer música dos Beach Boys. Aos dezoito anos, as primeiras viagens pela Europa, para ir a Encontros Mundiais de Juventude. A partir daí não parei mais de (querer) viajar. Contudo, percebi que podia viajar de forma diferente quando fui a Nairóbi, ao Fórum Social Mundial, que me instigou a fazer voluntariado em Luanda, Angola (2007).

Quando nos conhecemos, juntou-se a “fome com a vontade de comer” e transformamos os nossos blogues individuais num projeto de vida comum a que chamamos Ir em Viagem. O blogue nasceu em 2018, com o objetivo de ser um espaço de partilha das nossas aventuras e experiências em viagem. A Vera escreve, o Marcelo tira as fotografias e o tripé é o nosso melhor amigo!

Além de viajar, gostam muito de…

Se há algo que gostamos mesmo é de partilhar. Partilhar torna-nos melhores, faz de nós pessoas mais completas e muito mais felizes. Por isso, um maravilhoso pôr do sol na companhia um do outro, um jantar com a família em amena cavaqueira, uma boa noite a falar de viagens com os amigos, de preferência acompanhado de um bom vinho. O que podemos pedir mais?

Além disso, o Marcelo adora fotografar, fazer trilhos de natureza e andar de bicicleta. Em 2013, fez Suíça-Portugal de bicicleta. A Vera gosta muito de ler e escrever, dançar, ouvir música, fazer yoga e do seu cão Bart.

Quantos países já visitaram?

Desde que estamos juntos (2017), visitamos 9 países, mas cada um de nós, individualmente, já conta com algum mundo na mochila. Neste aspeto, temos dois objetivos, um deles é fazer uma viagem para um destino menos turístico e mais desafiante, a que o nosso amigo Rui Barbosa Batista (Bornfreee) chama de destinos B; o outro é tirar um bilhete só de ida...

Viagens mais marcantes e porquê?

Essa resposta não é nada fácil. Temos várias viagens marcantes e por diferentes razões. Mas vamos selecionar três viagens e a Vera vai destacar uma que é muito importante para ela.

A Índia será a primeira. Foi aqui que nos conhecemos (em 2016) e, só por isso, já a torna uma viagem inesquecível. Além disso, foi uma das viagens mais marcantes que fizemos até hoje. Tudo é imenso, intenso e diverso. É uma viagem à fronteira de tudo o que conheces.

O Caminho  de Santiago será a nossa segunda escolha. Foi a concretização de um sonho comum (2018). Escolhemos o Caminho Português, percorremos  cerca de 160 quilómetros a pé, divididos em sete etapas. Como escrevemos no nosso diário de viagem “se nós permitirmos, o Caminho pode ser um mestre exímio em lições de superação, sofrimento, partilha, solidariedade, humildade, gratidão e simplicidade (...) porque, na realidade, o Caminho está em nós”.

Caminho de Santiago
Caminho de Santiago créditos: Ir em Viagem

São Tomé e Príncipe, a nossa terceira escolha, é o sorriso fácil das pessoas, o assombro das roças e a natureza exuberante, como não se apaixonar? Fomos em 2019 e gostamos tanto desta viagem que a escolhemos para fazer parte do livro “Viagens de uma Vida”, organizado pela ABVP. Chamamos-lhe “São Tomé e Príncipe: gente doce em mar salgado”.

São Tomé e Príncipe
São Tomé e Príncipe créditos: Ir em Viagem

Para a Vera, o Brasil é, até ao momento, o seu destino de eleição. Já perdeu a conta das vezes que lá foi e desconfia que se vidas passadas houver as suas foram passadas na terra do sol, do calor e das raízes. Convenceu o Marcelo a ir com ela uma vez e ele rendeu-se ao Brasil! “O que é que a baiana tem?”, cantaria Carmen Miranda.

Destinos que querem regressar e porquê?

O Marcelo viveu durante 8 meses na Guadalupe. Continua com muita vontade de regressar para continuar a descoberta, e mostrar à Vera todos os encantos desta ilha das Caraíbas.

Próximos destinos e expectativas. Tendo em conta a atual conjuntura, como acham que vão ser as viagens durante e pós-Covid-19?

Se o COVID-19 deixar, pretendemos fazer a viagem que tivemos de cancelar o ano passado à Indonésia. Já não vamos conseguir ir tanto tempo como tínhamos inicialmente planeado, mas vamos no mesmo espírito, de mochila às costas a ficar onde o coração pedir.

Pretendemos regressar a São Tomé e Príncipe mas, desta vez, num outro papel. O Marcelo será líder de viagem, pela Agência 100 rota. Na pandemia não foi tudo mau! Houve projetos a sair da gaveta!

Além disso, queremos continuar a explorar Portugal, que tem sido uma verdadeira caixinha de surpresas. O ano passado, a COVID-19 cancelou-nos o Sudeste Asiático, mas deu-nos a rosa-dos-ventos e uma campervan para explorar Portugal. Inspiramo-nos no livro "Viagem a Portugal" de José Saramago (1981) e chamamos à nossa aventura #iremviagempelaraia, com direito a hastag e tudo! Quinze dias, de Trás os Montes ao Algarve, sempre pela fronteira, percorrendo parques naturais, aldeias históricas e praias fluviais. Viajamos ao ritmo do interior, com a casa às costas, a experimentar o conceito da "vanlife". Vamos querer repetir, isso é certo!

A pandemia veio trazer muita incerteza e instabilidade a quem quer viajar, e esses são, certamente, os maiores desafios que se colocam neste momento. Projetos cancelados, viagens adiadas, férias frustradas. A que se junta o facto de não sabermos quando será o “pós-COVID-19”. Mantemos, contudo, a esperança que no fim disto tudo as pessoas passem a viajar de forma mais consciente.

Dica de viagem mais valiosa que podem dar

Podem ser duas? A primeira dica é que o mais importante é IR, só assim podemos atravessar novos horizontes, viver outras experiências e (re)colorir a vida. É quando saímos da nossa zona de conforto que a magia acontece. A segunda dica é “viagem devagar, sem pressas”. O melhor de um destino é o quanto dele vem agarrado a nós e isso só acontece quando lhe damos (do nosso) tempo.

Lugar preferido em Portugal

Marcelo: O meu local preferido em Portugal continua a ser o Parque Nacional da Peneda-Gerês. Aqui continuo a encontrar muito do que me identifica e preenche em viagem. A perfeita sintonia com a natureza, a beleza das coisas simples, a constante descoberta a cada caminhada ou uma fotografia com “vida” a cada disparo.

Vera: Portugal é tão diverso que se torna difícil escolher, mas há dois locais que conseguem, sempre, arrancar-me um suspiro. O Douro, que é tão lindo que até a palavra miradouro parece ter sido feita para ele. E os Açores que, nas suas cinquenta sombras de verde, são uma dádiva da natureza.

Mas aqui entre nós, que ninguém nos ouve, onde estivermos os dois é sempre o lugar preferido.

Açores
Açores créditos: Ir em Viagem

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