São cerca de 22 quilómetros de estrada, de olhos bem postos na serra, que separam a Covilhã de Belmonte, a vila do coração e da vida do voluntário da Gap Year Portugal, Bernardo Silva. “Não é bem Belmonte, mas é lá perto”, diz ele, mas não podia deixar de nos falar dos seus atributos e cantos especiais e de dar um pulinho à Covilhã connosco. Ou não tivesse o interior de Portugal o seu encanto.

Serra da Estrela
Serra da Estrela créditos: Bernardo Silva

Comecemos pela vila de Belmonte e pela influência que o Judaísmo tem na mesma. O Bernardo ensinou-nos que um dos melhores truques para aprender mais sobre a cultura judaica era falar com os habitantes da vila e esse é também o nosso conselho. Um gap year também se faz pelo contacto com outras realidades e através de trocas de experiências, e não há nada como aprender com o outro em primeira mão. “Quem tem boca vai a Roma”, já dizia o ditado popular. Neste caso, quem tem boca fica a conhecer Belmonte e a sua Comunidade Judaica como um local.

Mas não te vamos deixar sem alguma informação para te preparares e levares já algum conhecimento contigo que ajude a quebrar o gelo numa primeira conversa. Centro do criptojudaismo em Portugal, Belmonte é o sítio certo para poderes testemunhar e contactar com muitas das práticas, usos e costumes da religião judaica. Se subires ao castelo (de onde não podes sair sem parares para respirar, refletir e contemplar a vista à tua frente) e, a partir do largo, começares a descer, vais poder ver as marcas nos umbrais das casas de granito nas ruas, testemunhos de uma vida de perseguição e segredo. Poderás também visitar a Sinagoga Bet Eliahu e o Museu Judaico, onde é contada a história da herança hebraica deixada em Portugal.

Castelo de Belmonte
Castelo de Belmonte créditos: Pedro Baía

Depois de uma manhã de aprendizagem e contacto (ou de um dia completo, já que tudo depende do planeamento do teu gap year), a fome de certeza que já aperta. O Bernardo sugere o restaurante “O Brasão”, onde o farm-to-table é rei. A nova moda do litoral aqui é regra há muitos anos e todos os ingredientes saltam diretamente da natureza para o prato. E não é tão bom? Há muitos gappers e viajantes que seguem um estilo de vida alinhado com o que a natureza dá e quando dá, muito sazonal. Talvez seja uma boa possibilidade para ti, se fizer parte dos teus interesses e valores.

Chegada a hora de pores a mochila às costas e seguires caminho em direção à Covilhã, seja à boleia, de transportes públicos ou até mesmo a pé (esta é só para os corajosos), explora um bocadinho o que separa estes dois destinos. É o próprio Bernardo quem te aconselha a aventurares-te por lá, onde há vistas fantásticas e uma grande envolvência com a Natureza.

Praça do Município
Praça do Município créditos: Bernardo Silva

Bem-vindo à Covilhã, onde serás recebido na Praça do Município pela estátua de Pêro da Covilhã, um explorador português que ficou conhecido pela sua expedição por terra até à Índia, uns anos antes de Vasco da Gama ter traçado o caminho por mar. É por aqui que o Bernardo recomenda que comeces a tua visita, num passeio a pé pela parte histórica da cidade. Passa pela Igreja da Misericórdia, procura as janelas manuelinas, aplica o que aprendeste em Belmonte sobre a cultura judaica e procura os seus vestígios também por aqui, e visita o Museu dos Lanifícios. Ou não fosse a Covilhã uma das principais responsáveis pela produção da lã utilizada em criações de moda nacionais e internacionais.

E são a lã e a indústria têxtil em que se insere que nos fazem recomendar outra rota, desta vez para os amantes de arte urbana. Uma associação que não estávamos à espera de fazer e que tu também não esperavas ler, confessa lá. O Bernardo contou-nos que desde há uns anos para cá é dinamizado um festival de arte urbana na cidade que chama muito turismo. Na Covilhã, é possível encontrar paredes ilustradas que relacionam a lã com a pintura, que utilizam padrões utilizados na produção de tecidos locais, murais que aliam o antigo ao novo, e também um pedacinho de Bordalo II (procura por “Olhos de Coruja”) no centro histórico. E muito, muito mais. A arte a ser parte fundamental do teu gap year.

Arte urbana na Covilhã
Arte urbana na Covilhã créditos: Bernardo Silva

Se te moves pela natureza, pela reflexão interior e pela paz de espírito acima de tudo, fica a conhecer a organização Ananda Marga e o seu projeto, que assenta a sua filosofia no bem-estar e nas necessidades da população local, ajudando-a a desenvolver mecanismos pessoais e sociais para prosperar. Utiliza ferramentas e práticas como o yoga, a meditação e a agricultura para contribuir para o desenvolvimento social. Aqui poderás aprender mais sobre ti e sobre o outro.

Depois de uma sessão de meditação, por exemplo, e caso optes por passar pela Covilhã no teu gap year durante o verão, não percas a oportunidade de te deliciares nas lagoas, barragens e praias fluviais aptas a banhos que vais encontrar por toda a encosta da Serra da Estrela. Afinal de contas, o seu fascínio não se faz só de neve. Caso mais tarde optes por subir ao topo da serra, pára para comer no restaurante “A Varanda da Estrela”, nas Penhas da Saúde, que segundo o Bernardo “é imperdível”. E nós acreditamos!

E é assim que terminamos esta viagem, de barriga e de olhos cheios e mais ricos, sem sombra de dúvida. Visitar Belmonte e a Covilhã é, nas palavras do Bernardo, “uma das melhores maneiras de sentir a realidade do interior do país, sobretudo se se estiver disposto a conversar com populações mais rurais de aldeias mais pequenas. São vidas distantes que estão perto”. Não havia palavras melhores para te convencer.

Texto por Joana Firmino Ribeiro

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