Visitar o interior da terra, percorrendo grutas de dimensão diversa, é possível em diferentes pontos do globo terrestre, Portugal incluído. E nos Açores esta aventura de explorar o interior da terra pode ir ainda mais longe. É possível visitar a cavidade de um vulcão há muito extinto. O Algar do Carvão localiza-se a 12 quilómetros de Angra do Heroísmo e é uma porta aberta aos visitantes para o interior da terra. Uma visita que se faz, contudo, acompanhada com um guia.

No interior de um vulcão nos Açores
O cone vulcânico, que alberga no seu interior o Algar do Carvão, situa-se sensivelmente no meio da ilha Terceira, a norte da cidade de Angra do Heroísmo, distando desta cerca de 12 Km por estrada. créditos: DR

A associação Montanheiro, entidade responsável pela manutenção e gestão deste local no interior da terra, tem guias para acompanhar os visitantes nesta descoberta da natureza que começa numa cratera de 15x20 metros e termina 90 metros abaixo numa lagoa de águas límpidas. A chuva que cai incessante é bebida pela terra e goteja no interior dessa mesma terra. Esses pingos tornam-se banda sonora nesta descoberta das profundezas da Terceira.

O nome algar advém da sua semelhança com uma gruta e carvão porque é o nome da montanha, no centro da ilha, onde o Algar do Carvão se formou. A primeira erupção aconteceu há três mil anos e era constituída por lava densa que subiu lentamente e solidificou no exterior. Neste momento ocorreu uma grande concentração de gases que criou esta bolha, o algar.

No interior de um vulcão nos Açores
O primeiro relato de uma descida ao Algar do Carvão de data 1893. créditos: DR

Há dois mil anos houve uma nova erupção, com lava mais líquida que derreteu a rocha deixando um rastro de imperfeições na pedra visíveis ainda hoje. Parecem rugas desenhadas na pedra que alimentam a imaginação e permitem visualizar a terra a arder e a ser expelida para o exterior com fúria. Nesta segunda erupção há um recuo da lava que acaba por solidificar a câmara magnética e extingue assim o vulcão.

Os voluntários da associação Montanheiro garantem ser seguro estar aqui. O vulcão está extinto e tiveram maior certeza disso em 1980, quando um sismo violento abalou a ilha. Registaram-se muitas réplicas e os Montanheiros estiveram vários dias sem visitar o Algar do Carvão com medo que pudesse reativar. Contudo, passada a atividade sismológica, regressaram a este local e verificaram que tudo estava intacto. O que antes ali estava em ebulição, dava definitivamente lugar à serenidade.

As visitas organizadas ao interior do vulcão acontecem desde 1963. À medida que se descem as escadas, por vezes íngremes, aproximamo-nos da lagoa e conseguimos ter uma perceção do cone que termina na cratera.

No interior de um vulcão nos Açores
O Algar do Carvão é um sítio de interesse geológico. créditos: DR

Nas paredes formam-se estalactites e estalagmites de sílica amorfa de cor branca leitosa ou veios férricos avermelhados, produzindo alguns, por oxidação, depósitos de limonite. Estas estalactites e estalagmites precisam de cem anos para crescer um centímetro.

A chuva alimenta a lagoa onde termina esta viagem ao interior da terra. Depois é subir novamente a escadaria e atravessar o estreito corredor, construído pela associação Montanheiros, que desemboca na loja. A lagoa imprime uma beleza singular ao local, refletindo as suas calmas águas nas paredes raspadas pelo fogo. No seu fundo foi encontrado um fóssil de uma ave marinha perfeitamente conservada e coberta de sílica.

Apesar dos vestígios deixados pelo fogo, há vida em todo o algar. Na cavidade é fácil ver algas e bolores, mas a vida adensa-se no cone vulcânico revestido de vegetação que se estende até à superfície. Também os animais procuram este recanto na terra. De noite é possível observar pardais, o melro-preto, o tentilhão. Fauna e flora que habitam um local singular no centro da ilha Terceira.