O acesso a Fajão, por si, já merece uma viagem.

Fajão
créditos: andarilho.pt

Por exemplo, no caminho com ligação a Arganil, encontramos paisagens fabulosas da serra do Açor.

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Encostas que mergulham em vales profundos. As serras cobertas de verde e as linhas castanhas traçadas por caminhos e pela estrada a serpentear as encostas são dos poucos sinais de intervenção humana.

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Esta é uma das zonas mais esquecidas do centro de Portugal, mas uma renovação urbana realizada em Fajão, em 2003, (quando da integração na rede das Aldeias de Xisto,) deu-lhe uma nova graça, descrita por Cláudia Simão que nasceu e vive em Fajão.

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"Veio o dinheiro da União Europeia para restaurar as casas por fora. Deram uma pequena percentagem e as pessoas custearam o resto. A muitas casas brancas tiraram o reboco. As que se vêm agora em pedra eram rebocadas. Antigamente a casa de pedra era sinal de pobreza. Agora é ao contrário.

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O chão também não era assim. Também arranjaram o piso com estas pedras porque antigamente era tudo em cimento. Noutros sítios colocaram lousa como foi o caso da nossa praça.”

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A maior parte das casas têm dois ou três pisos. O tom castanho e ocre do xisto faz sobressair as flores colocadas em vasos na rua ou pendurados nas varandas.

A aldeia estende-se pela encosta da serra e as ruas são inclinadas, outras têm escadas. No ponto mais alto da aldeia estão as piscinas ao ar livre.

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Alongam-se num socalco da encosta. São o terraço de Fajão com vista para o casario e as serras. “É uma mais valia no verão porque parece que estamos numa cidade lá em cima, mas no meio de toda esta natureza”.

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O adro da Igreja Matriz é o ponto de confluência da aldeia. A igreja é dedicada a N. Sª da Assunção e próximo tem a Fonte Velha, que ainda deita água, e um freixo cuja sombra é aproveitada essencialmente pelos mais idosos. A população permanente ronda meia centena de pessoas e os mais novos estão quase todos empregados.

“O Lar da Santa Casa emprega as raparigas da aldeia e não só, vêm outras de fora também. A Junta de Freguesia de Fajão emprega alguns homens dessas moças, temos ainda o destacamento dos bombeiros, há cerca de um ano, que dá emprego a dois funcionários e voluntários. As pessoas da aldeia têm todas emprego e atividades dentro da nossa aldeia, o que é muito bom.”

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Muitas destas atividades pouco têm a ver com a rotina do passado dominada pela agricultura. “Sim. Era do que vivíamos. E muito gado. Estes terrenos em volta eram cultivados. Estávamos sempre a colher o que produzíamos. Era batata, depois era a altura da palha em setembro. Recordo-me muito bem.

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Cláudia Simão créditos: andarilho.pt

Vinha a trovoada e tínhamos de ir a correr para apanhar a palha. Ainda não havia estas estradas de alcatrão. E era lá no fundo. Era uma festa para nós. Íamos buscar os molhos de palha para trazer para aqui, para os currais, que era para depois darmos ao gado durante o inverno.”

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Um dos ilustres de Fajão foi Monsenhor Nunes Pereira que se destacou pela sua capacidade criativa e o apreço pelo património imaterial. Produziu esculturas, pinturas e xilografias. Parte do seu trabalho está no Museu com o seu nome no Seminário Maior de Coimbra. Alguns dos seus trabalhos também podem ser vistos no Museu de Fajão, que lhe é dedicado.

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O edifício em xisto e madeira tem dois pisos e mostra ainda os primeiros telefones da aldeia, faiança antiga, instrumentos de carpintaria e mobiliário de uma casa tradicional da serra do Açor. Mesmo em frente está outro museu dedicado ao Rali de Portugal.

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Quem tiver vontade pode ler os Contos de Fajão. São contos populares e uma das personagens que se destaca é o juiz. A ironia, a ingenuidade ou a astucia do saber popular dão origem a histórias como ir todos os dias ao outro lado da serra buscar a manhã, ou ir a Coimbra à procura da verdade e trazê-la dentro de um pote.

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O envolvimento natural da aldeia pode também ser aproveitado para percursos pedestres. Há, por exemplo, dois que vão entre os 4 e os 6 quilómetros e que “eram usados antigamente pelos nossos bisavós e avós para irem para os terrenos, guardarem o gado. Hoje em dia são caminhos pedestres. É muito bonito.”

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Para a descoberta de outros lugares em Fajão, Cláudia Simão sugere ainda “um caminho romano, todo em pedrinhas, e é muito bonito. O rio Ceira com lagos naturais e onde nos podemos banhar como por exemplo o Poço da Cesta. É um sítio muito lindo.”

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A caminho desta piscina natural no rio Ceira, no Casal Novo, tem de parar no alto da encosta e contemplar Fajão. Como a aldeia se protege do vento. Repare também nas cristas quartzíticas no topo da serra. Há milhares de anos que desafiam outros elementos da natureza para protegerem o vale onde Fajão se refugiou.

Fajão da serra do Açor faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.