Começou, em 2011, com uma viagem de Portugal a Singapura por terra, esteve "na estrada" quase dez meses e percorreu 50 mil quilómetros. Quis chegar a mais um “canto” do mundo e partiu de bicicleta de Portugal até a África do Sul, pedalou durante 15 meses. Para mudar o registo, a sua última grande viagem foi percorrer toda a América Central, do Panamá ao México, à boleia.

É muita estrada. Não é à toa que o seu nome de viajante é Pedro on the road. Foi à boleia que se estreou nesta vida das grandes viagens e nunca mais parou. “A primeira vez que andei à boleia foi aos 27 anos e, desde então, quase que não parei mais, já devo ter feito 100 mil quilómetros à boleia”.

E como é que se percebe que se tem o perfil de viajante a tempo inteiro? No caso de Pedro, psicólogo de formação, foi numa viagem à Índia, em 2009, quando se cruzou “com uma data de viajantes que andavam a viajar há um ano, dois anos ou sem termo”. “Isso fez-me perceber que se eles conseguiam, eu também conseguia”, conta ao SAPO Viagens. Agora, depois de ter percorrido 93 países, Pedro sente-se com “propriedade” de dizer às pessoas “que elas também conseguem”.

Destas três viagens nasceram três livros e, apesar de afirmar que não viaja para escrever livros, a forma como decide conhecer o mundo propicia o aparecimento de histórias, ou seja, matéria-prima para escrever. “Costumo viajar em baixo custo, primeiro poupamos dinheiro, o que é sempre agradável, depois, acabamos por experienciar mais ao ficar em casa de alguém local e andar à boleia também, ao estar com pessoas”, explica. “A verdade é que quanto mais rica for a viagem, mais rico vai ser o livro”, completa.

Adepto do couchsurfing e das boleias, Pedro reconhece que ainda existem alguns preconceitos e mitos sobre estas formas de viajar. “Tento sempre mostrar o quão acessível viajar está para a maior parte das pessoas”. Por exemplo, durante os quatro meses em que percorreu todos os países da América Central gastou cerca de 800 euros. “As pessoas vão percebendo que, afinal, não precisam de ser ricas para viajar, não precisam de ser grandes malucos para viajar”.

Mas é preciso ter a coragem de ir e estar preparado para lidar com situações imprevisíveis que acontecem pelo caminho. Como ter estado dois dias preso no Laos, “a minha pior experiência em viagem”. Pedro recorda que durante o périplo por África foi “parado pela polícia 23 vezes” só na Nigéria. “Foi muito duro, porque tinha o princípio de chegar até África do Sul sem pagar um único suborno, paguei um só e para mim foi uma vitória. Por causa disso, sabia que ia ter de passar mal algumas vezes. Fui detido na Serra Leoa, fui enganado uma ou duas vezes”.

Ao mesmo tempo, durante a travessia pelo Gabão, recorda-se de chegar às aldeias e ser sempre recebido com hospitalidade. “Há muito preconceito sobre como é a vida em África. As pessoas dizem que lá a vida não vale nada, vão te matar ou vão te roubar, mas, na verdade, essas pessoas ofereciam-me o pouco do que tinham todos os dias”.

Foi precisamente no Gabão que viveu a experiência mais dura em viagem. “Tropecei numa tribo que me convidou para uma cerimónia e eu voluntariei-me para tomar o lugar de xamã. Quando descobri o que ia fazer, já tinha comido uma dose copiosa de uma substância alucinogénia. Foram 12 horas de pura agonia, mas, quando passou, colocou-me mais próximo da aceitação da minha própria mortalidade”.

Para Pedro, viajar é também ganhar a consciência desta finitude e de como somos parte de algo maior. Teve essa epifania no Belize, quando estava prestes a atingir a marca de 90 países visitados. “Apercebi-me que viajo para aprender a lidar com o meu medo de morrer. Foi um insight que me deixou estupefacto comigo mesmo porque a verdade é que este medo, este problema da minha própria mortalidade, é algo que me acompanha desde há muito tempo”.

Viajar é um “tónico brutal” que nos faz “estar concentrados no momento presente”. “A viagem é como a vida normal, mas a 500 por cento, na nossa vida normal também temos algumas epifanias, mas em viagem é tudo tão intenso que elas acontecem mais vezes e com mais potência”, salienta.

Além das viagens em nome próprio, Pedro também dá a conhecer as aventuras de outros viajantes no programa Metamorfose Ambulante. Reconhece que há cada vez mais pessoas que deixam tudo para realizar uma grande viagem, o que é muito positivo, já que ao fazer isso cada pessoa “encerra em si o potencial de inspirar mais pessoas”, “mostrando que é possível”, conclui.