Chama-se simplesmente a Colina das Cruzes. É um fenómeno curioso, sem gestão ou organização própria. Ninguém sabe ao certo quantas cruzes foram aqui deixadas. Os peregrinos e turistas visitam o local, provenientes das mais variadas partes do mundo, simplesmente para ver ou também para ali deixarem uma cruz, que assim se junta às restantes e faz aumentar, a cada dia que passa, o amontoado de crucifixos e figuras sacras que inundam o local.

Mas a colina tem uma história conturbada. Foi destruída uma e outra vez para que, de novo e com persistência, as cruzes voltassem a ser colocadas no local, tornando-se um símbolo da resistência e espiritualidade de um povo.

Colina das Cruzes
créditos: Rimijas | Dreamstime.com

Passaram-se 27 anos desde a separação deste estado báltico face à extinta União Soviética. Cerca de 80% da sua população de quase três milhões de habitantes é católica e a religião desempenhou, ao longo da história do país, um importante papel.

Pensa-se que a primeira cruz terá sido aqui colocada em 1831, na sequência da revolta armada contra o domínio russo do território. Esta revolta foi violentamente esmagada e o território anexado ao então Império Russo. Incapazes de localizar os corpos dos seus entes queridos, que tinham perdido a vida no levantamento armado, as famílias começaram então a deixar cruzes em sua homenagem.

A colina adquiriu um significado especial durante o período soviético, quando a colocação de cruzes não era tolerada, tornando-se um lugar proibido, de oposição simbólica à ideologia soviética.

Quase 250 mil lituanos foram mortos ou exilados durante os anos de chefia de Estaline, instigando a que mais e mais cruzes fossem colocadas na Colina. Agentes no KGB foram destacados para o local de forma a impedir que a população colocasse novas cruzes, à revelia das ordens dadas e por três vezes a colina foi arrasada pela polícia secreta, sendo novamente reconstruída pelos esforços da população. Obstinadamente, as pessoas traziam cruzes durante a noite, ignorando os perigos, proibições e perseguições das autoridades.

Através das cruzes e da religião, este local era uma forma de luta. A arte de esculpir cruzes em madeira nunca esmoreceu e é hoje um dos mais tradicionais artesanatos lituanos, reconhecido pela UNESCO como Património Cultural Imaterial da Humanidade.

Colina das Cruzes
créditos: Rimijas | Dreamstime.com

Quando a Lituânia retomou a sua independência, este tornou-se um local de peregrinação, símbolo da identidade do povo lituano. As cruzes estendem-se já até ao sopé da colina, e entre elas encontram-se também rosários, imagens de santos e fotografias de heróis patrióticos lituanos, entre mensagens e preces escritas daqueles que visitam o local. A sua existência seria depois divulgada pela visita do Papa João Paulo II, em 1993, que daria à Lituânia o epíteto de “o país das cruzes”.

Foto principal: Gorshkov13 | Dreamstime.com

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