Poderíamos começar este texto com vários clichés sobre o amor e sobre as viagens, mas preferimos olhar para uma situação que pode acontecer com qualquer viajante: a maior facilidade que temos em socializar com pessoas desconhecidas quando estamos a viajar – é um dado comprovado pela ciência.

Nestes encontros, o amor pode aparecer, às vezes, à primeira vista, outras vezes, através de longas conversas em noites de chuva. Nestas viagens, podem surgir histórias de casais que se esbarraram por este mundo fora e, depois, tiveram de mudar de planos e até de país para continuarem juntos. É aí que o amor rouba o lugar à ciência e a magia acontece.

Carolina (Portugal) & Jacob (Nova Zelândia)

Onde se conheceram: Hanói, Vietname. Os dois estavam em viagem.

De países antípodas, mas com muito em comum

Eu tinha acabado de fazer Erasmus na Coreia do Sul e fui viajar pelo Sudoeste Asiático com uma amiga, e o Jacob estava de férias com amigos a fazer o mesmo roteiro. Choveu a potes durante quase toda a estadia em Hanói, portanto muitos backpackers gostavam de ficar a conversar e a jogar jogos na sala comum do hostel ao fim da tarde. Foi aí que conheci o Jacob, logo na primeira noite em que cheguei, e todas as noites ficávamos horas à conversa, a ouvir música e a falar de viagens! Apesar de sermos de países antípodas, descobrimos que tínhamos muito em comum.

Jacob e Carolina na Indonésia
Jacob e Carolina na Indonésia

Depois do Vietname, cada um voltou para o seu país; ainda éramos estudantes universitários e tínhamos os cursos para acabar. Não nos vimos pessoalmente durante um ano e meio, mas falávamos todos os dias por WhatsApp e FaceTime. Ficámos muito amigos neste tempo, não estávamos numa relação, mas sabíamos que havia ali qualquer coisa especial! Quando o Jacob acabou o curso, arranjou trabalho no Reino Unido e mudou-se para Manchester. Fui ter com ele a Manchester, passados 18 meses dessa viagem ao Vietname, e o resto é história. Entretanto, acabei também o curso e fui viver para Manchester com o Jacob. Agora vivemos juntos na Nova Zelândia. Em 2019, dissemos adeus à nossa vida no Reino Unido para viajar a tempo inteiro! Infelizmente, a pandemia acabou com os nossos planos mais cedo do que esperávamos.

Podem seguir as viagens deste casal aqui.

Cláudia (Portugal) e Pedro (Portugal)

Onde se conheceram: Paris, França. Os dois estavam a estudar na cidade.

As viagens fazem parte da nossa vida

Estávamos os dois a estudar em Paris. O Pedro estava a meio do doutoramento em Biologia. Eu fui (supostamente) só por um semestre de Erasmus em Arquitetura. As nossas áreas de estudo são completamente diferentes. Uniu-nos o facto de estarmos os dois no estrangeiro. Tivemos como ponto de encontro a Casa de Portugal (a residência de estudantes portugueses, na altura, ainda gerida pela Fundação Calouste Gulbenkian). O mais giro é que o Pedro sempre disse que ia para todo o lado menos para França. Chegou a ir a entrevistas em Inglaterra, mas no fim quis o destino que viesse para Paris. Eu, por outro lado, apaixonei-me por Paris com 14 anos quando cá vim pela primeira vez. Disse logo que um dia vinha viver aqui. Durante um ano, voltei a Paris (ou a outras cidades europeias) de dois em dois meses (o Pedro ia a Lisboa nos intervalos). Nesse ano fomos juntos, por exemplo, a Veneza e fizemos uma road trip no centro de França, na zona de Auvergne. No fim, acabei por vir fazer estágio em Paris e começamos a viver juntos.

Pedro, Cláudia e os três filhos em Paris
Pedro, Cláudia e os três filhos em Paris

Em Portugal, dificilmente nos teríamos conhecido. Comigo a morar em Sintra e a estudar na Ajuda e o Pedro a morar e a estudar na zona do Campo Grande não havia muitos pontos de cruzamento. Só nos conhecemos porque viajamos! Termos nos conhecido no estrangeiro também ajudou a definir o estilo de vida de que estávamos à procura. Desde cedo percebemos que o nosso futuro passaria por vivermos fora de Portugal, e que as viagens (cada vez para mais longe) fariam sempre parte da nossa vida. Adoramos viajar. Viajar é o nosso único vício e a nossa prioridade. Juntos visitamos cerca de 30 países, 25 dos quais com os nossos três filhos. Estamos permanentemente a organizar viagens, o Pedro é perito em milhas e pontos e até os nossos filhos nos perguntam se vamos apanhar o avião cada vez que lhes dizemos que se têm de despachar! Viajar faz parte da nossa vida, tanto que nem a pandemia nos parou. Visitamos cinco países com muitas máscaras e testes PCR à mistura, mas uma alegria imensa!

Podem seguir as viagens desta família aqui.

Ieva (Lituânia) e Matthew (Escócia)

Onde se conheceram: Vilnius, Lituânia. Os dois estavam em viagem.

Amor à primeira vista e muitas viagens pelo meio

Ieva: Estava a fazer o mestrado em Lisboa e tive uma oportunidade única de participar num projeto europeu que ia decorrer na Lituânia. Não era só uma grande oportunidade académica e profissional, mas também poderia ver a minha família. Estava a mostrar a vida noturna de Vilnius aos colegas do projeto, à entrada de um bar, quando alguém se aproximou, interrompeu a nossa conversa e perguntou se eu era irlandesa! Como tinha trabalhado num bar irlandês em Albufeira, tinha sotaque que, às vezes, parecia irlandês. Fiquei bastante irritada com a falta de educação por nos ter interrompido e estava pronta virar a cara e responder: “acha normal interromper as pessoas no meio de uma conversa?”. Mas quando me virei e vi o Matthew, só consegui dizer “ah, olá, não, não sou e tu?”. Rapidamente ficamos a saber que o Matthew estava lá sozinho e sem grandes planos para a noite, então convidamo-lo para se juntar a nós. Era domingo, tínhamos planeado uma noite curta porque trabalhávamos no dia a seguir, mas só nos separamos de madrugada… Gostei dele à primeira vista, mas nunca pensei que ele sentisse o mesmo. Eu era a única no grupo que percebia lituano e ouvi uma menina a dizer que “gostaria de levar o Matthew para a sua casa”, como amiga que tentei ser, traduzi-lhe isso. Para meu espanto, ele respondeu que “preferia ir para casa comigo”. Nem sonhei que ele poderia gostar de mim e quando ele disse isso, senti-me a menina mais feliz e sortuda do mundo! Para dizer a verdade, cinco anos depois, ainda me sinto assim!

Matthew: Uma escapadinha low cost de fim de semana levou-me a Vilnius, um lugar que mal conhecia, mas que pressentia que o que ali acontecesse daria uma história. E esta história ainda está apenas no início. Eu sei que é um cliché mas foi amor à primeira vista no momento em que Ieva se virou para trás. Senti faíscas no ar. Apaixonei-me perdidamente por ela.

Matthew e Ieva na Bulgária
Matthew e Ieva na Bulgária

Ieva: Dois dias depois de nos termos conhecido, chegou o dia para ele ir embora e eu ficar. Despedimo-nos e ele pediu para trocarmos contactos - eu disse que preferia não o fazer. Preferia guardar uma memória espetacular de um fim de semana mágico! Para a minha surpresa, uns dias depois, o Matthew encontrou-me no Facebook e perguntou se não queria ir com ele às montanhas da Bulgária, a viagem era daqui a três meses, mas eu, sem pensar duas vezes, disse que sim! Pouco tempo depois da viagem à Bulgária, ele visitou-me em Portugal. Pediu-me em namoro no Dia dos Namorados através de uma carta com um poema que me escreveu sobre as nossas aventuras e viagens e um mês depois voltamos à Bulgária – comprámos lá um carro clássico e fizemos uma Eurotrip da Bulgária até a Escócia. Conhecer um ao outro durante as viagens, num ambiente desconhecido e em situações às vezes extremas, permitiu-me conhecê-lo de uma maneira extraordinária e logo vi que ele era (e é!) o homem com quem queria passar a minha vida! Como eu tinha estudos para acabar em Lisboa e ele tinha recentemente terminado o curso dele em Edimburgo e ainda não tinha arranjado emprego, ele tomou a decisão de se mudar para Lisboa, onde já estamos a morar durante anos.

Matthew: Passamos tanto tempo a sonhar com viagens e lugares que queremos ir, é quase metade da diversão! Há tantos lugares que queremos mostrar um ao outro e visitar juntos – acho que há poucos lugares que não queremos visitar, até brincamos de planear uma lua de mel na Coreia do Norte!

Ieva: Acho que viajar é o nosso grande amor e temos ainda muitos planos e muitas viagens para fazer. Nunca mais acaba a COVID para podermos matar as saudades de viajar!

R (Portugal) e P (Portugal)

Onde se conheceram: Cox's Bazar, Bangladesh. A P estava em viagem e o R a trabalhar temporariamente na cidade.

Viajar é uma necessidade, uma urgência

A relação não existiria se eu não tivesse concretizado esta viagem. Foi fundamental. Eu viajei a trabalho e acabei por conhecer o R e partilhar o apartamento com ele, facto que permitiu que tivéssemos o tempo e o espaço para nos conhecermos aprofundadamente ao longo de vários dias. Por outro lado, foi também possível explorar conjuntamente a cidade onde nos encontrávamos e o R foi essencial para o desenvolvimento do trabalho que eu estava a concretizar em Cox's Bazar. Durante os primeiros meses [após a viagem], funcionou totalmente através das redes sociais até termos tido a oportunidade de nos encontrarmos em Portugal e perceber que queríamos manter a relação. O R viajava bastante a trabalho e eu vivo fora de Portugal, portanto entendemos que para manter a relação viva alguém teria de se mudar. O R acabou por dar esse passo e atravessar o oceano.

Creio que dizer gostar não caracteriza na perfeição a forma como nos posicionamos perante a palavra viajar. Para mim e para o R é, mais do que um prazer, uma necessidade, uma urgência. Pela busca de culturas distintas e diferentes formas de viver, pelas paisagens esmagadoras, pelo entendimento maior que nos fornece do mundo e das pessoas, dos contextos políticos, económicos e sociais, pela oportunidade de nos desafiarmos, pela magia da descoberta da gastronomia, do mundo, do outro e do eu e, sobretudo, sublinho, pelas pessoas que temos a oportunidade de encontrar que tanto nos oferecem sobre o que é a humanidade. Para nós viajar é saltar para o interior de mil livros e cremos que sem isso dificilmente saberemos compreender o mundo em que vivemos.

Para inspirar viagens futuras, deixamos na galeria de fotos abaixo dicas dos próprios casais de lugares a visitar nas cidades onde se conheceram.