Após uma viagem de cerca de 2h40 a partir do Porto, mergulhamos no verde do interior da Galiza que nos recebe com ar puro, entre bosques de carvalhos e castanheiros que, nesta época do ano, estão frondosos, criando cenários bucólicos que nos embalam com o canto alegre dos pássaros.

Estamos em plena Ribeira Sacra, uma região da província de Lugo, localizada entre os rios Sil e Minho. Reduto de natureza e tranquilidade, sem esquecer o património românico, aqui também se encontra o maior edifício civil da Galiza: o Palácio de Sober, atualmente uma unidade hoteleira quatro estrelas com o selo Áurea Hotels da Eurostars, que se distingue por reunir lugares históricos no seu portefólio de hotéis.

Com uma torre de menagem que nos transporta imediatamente para a Idade Média, o Áurea Palácio de Sober impõe-se na paisagem verdejante, rodeado por elegantes jardins que continuam a passar a ideia de nobreza, embora de outras épocas mais recentes. Como nos explica Raquel Nunes, diretora do hotel, “o palácio remonta ao século VII”. Era parte integrante do feudo López de Lemos, senhores de Sober e Ferreira.

O Palácio de Sober remonta ao século VII e foi encontrada na propriedade uma ruína do século VI créditos: Alice Barcellos

Dormir num palácio

Assim, os que sonham em passar uma noite num palácio encontram aqui a oportunidade ideal, ficando hospedados num lugar onde se desenrolaram batalhas contra os mouros – o brasão de 13 roéis faz referência às 12 donzelas que foram ali resgatadas do poder dos mouros. Na altura, Fernán López de Lemos adicionou ao único roel do seu brasão mais 12, fazendo referência a este feito.

Além disso, o Palácio de Sober foi também um dos palcos da Revolta Irmandinha de 1467, uma das maiores revoltas europeias do século XV. Diego de Lemos foi um dos que se ergueu contra a alta nobreza galega, derrubando o palácio de seu pai.

Além do ar puro do campo, respira-se muita história entre as paredes da propriedade e a imaginação leva-nos a viajar no tempo.

Não se sente, contudo, o peso dos séculos. Os tons claros e a decoração discreta adotada nos 43 quartos do hotel trazem conforto e serenidade, sem aquela sensação de antiguidade que é normal transparecer em espaços deste género. A própria reconstrução do edifício, realizada em 2010, foi bem conseguida ao deixar muitos espaços para a entrada de luz natural, denotando as diferentes etapas históricas da construção.

O “nosso quarto de princesa” era espaçoso e confortável, com uma cama king size, ar condicionado, casa de banho com todos os itens necessários para a estadia e uma vista desafogada para uma das estrelas dos espaços exteriores: um chafariz envolvido por um jardim ao estilo clássico. Atrás, vacas pastavam livremente. São da raça cachena (que também existe em Portugal), conta-nos Raquel durante uma visita guiada pela propriedade.

Vista do quarto no Áurea Palácio de Sober créditos: Alice Barcellos

Passear pelos diversos e cuidados jardins, aprendendo mais sobre as plantas, é, aliás, uma das atividades disponibilizadas pelo hotel aos hóspedes. O Botanic Tour termina com a plantação de uma árvore autóctone. De um bosque encantado, na entrada da propriedade, a jardins mais intimistas pontuados pelo som da água, um deles com um belo lago com nenúfares, não precisará sair do hotel para estar em contacto com a natureza. Aliás, estes vários recantos, tanto dentro como fora, contribuem para a sensação de tranquilidade e isolamento, mesmo durante a época alta.

A piscina, ideal para os dias de verão, e o spa que oferece uma experiência exclusiva, visto que só pode ser reservado por um quarto de cada vez, complementam os momentos de relaxamento.

A experiência fica completa com uma refeição no restaurante do hotel que aposta nos produtos da região. No mesmo espaço é também servido o pequeno-almoço (incluído na diária) que brinda os hóspedes, todas as manhãs, com vários enchidos regionais, doçaria tradicional e artesanal, pães, frutas e iogurtes.

Da viticultura heroica aos desfiladeiros do Sil

Outro dos ex-líbris da Ribeira Sacra são os seus vinhos, não só por serem néctares ali produzidos há vários séculos – conta a história que os vinhos da região eram enviados para os imperadores romanos –, mas pela forma como as uvas são cultivadas.

Ver vinhas em socalcos é algo usual para os portugueses, principalmente, para quem já visitou a região do Douro. Contudo, na Ribeira Sacra, existem vinhas que são cultivadas em socalcos quase verticais, desafiando as leis da gravidade e o próprio trabalho na vinha. É a chamada viticultura heroica.

Escultura à entrada da Regina Viarum créditos: Alice Barcellos

E a melhor maneira de compreender esta forma tão singular (e dura) de cultivar uvas é visitar uma quinta na região de Amandi. Na Regina Viarum ficamos a saber mais sobre a história vinícola da Ribeira Sacra numa visita guiada dinâmica. Há um belo vídeo que nos mostra as características únicas deste território marcado por montanhas, desfiladeiros e rios; há um exemplar de uma videira com as suas raízes profundas que têm de espalhar-se pelo solo pedregoso; há painéis informativos que indicam a evolução da viticultura na Ribeira Sacra.

A visita termina com uma prova de vinhos Regina Viarum, emoldurada por uma vista panorâmica sobre as vinhas e o rio Sil. Para os amantes do enoturismo, é mesmo uma atividade imperdível.

A vista a partir da sala de provas e terraço da Regina Viarum créditos: Alice Barcellos

Outra forma de conhecer melhor a Ribeira Sacra é percorrer através de um passeio de catamarã os desfiladeiros (canyons) do Sil. Nos últimos 25 quilómetros, antes de desaguar no rio Minho, o rio Sil percorre uma profunda garganta, criando uma paisagem impressionante, um dos ícones deste território.

O cenário é esmagador, mas, ao mesmo tempo, o passeio de barco pelas águas tranquilas envolve-nos numa atmosfera serena. Manuel, nosso guia e skipper do barco, já navegava nestas águas com o avô, e vai contando durante o passeio histórias e curiosidades sobre esta zona “muito protegida e com pouca atividade humana”, destaca.

Nesta Reserva da Biosfera, convivem espécies tipicamente mediterrânicas como os sobreiros e os medronheiros que acompanham as manchas florestais de carvalhos e castanheiros. A águia-real e o falcão-peregrino também encontram o seu habitat nas rochas de mais difícil acesso. Pelo meio, também podemos observar viticultura heroica com pequenas explorações verticais que nos deixam a pensar como é possível chegar até lá e, ainda, trabalhar nas videiras.

Percorrer a rota dos mosteiros medievais, descobrir miradouros, fazer caminhadas, percorrendo trechos dos Caminhos de Santiago, e visitar localidades históricas são outras atividades a incluir num roteiro pela Ribeira Sacra. Sem dúvida, um dos tesouros mais bem guardados da Galiza que merece ser descoberto.

O SAPO Viagens visitou a região a convite do Áurea Palácio de Sober