Foto: Editoryhotels.com

De norte a sul de Portugal continental existem muitos e bons exemplos de Estações Ferroviárias aproveitadas para fins turísticos. Outrora abandonadas ou desativadas, estes imóveis transformaram-se em locais verdadeiramente acolhedores e convidativos para um fim de semana diferente ou miniférias. Agora, é possível comer, dormir, repousar e divertir-se em muitas delas. Deixo, abaixo, quatro sugestivas sugestões que, até ao momento, já experienciamos:

Estação de Esmoriz | Cork Train Station Guesthouse

Na linha do Norte é possível pernoitar numa Estação de Comboio ainda em funcionamento. Trata-se da Cork Train Guesthouse. Em agosto de 2021, optei por ficar duas noites nesta guesthouse quando fui fazer o Comboio Histórico do Vouga. O casal português, André Gomes e Mariana Oliveira, são os mentores deste alojamento local nas proximidades da barrinha de Esmoriz e da Lagoa de Paramos. Após uma [longa e demorada] viagem pelo Sudeste Asiático e pela Oceânia, este casal teve a ideia de dar um novo rumo à sua vida e abraçar um novo desafio profissional. Foi assim que decidiram abrir uma Guesthouse. Decidiram, assim, após contactos com a CP e a IP-Infraestruturas de Portugal, dar uma segunda vida [estava abandonado] ao primeiro piso desta Estação do concelho de Ovar. A cortiça está sempre presente e destaca-se na decoração deste espaço convidativo, bem decorado e acolhedor. No total, esta pequena guesthouse tem quatro quartos privativos, três estão disponíveis, com casa de banho privativa e uma pequena sala à entrada onde podemos ver televisão, ouvir música e tomar as refeições do pequeno-almoço. Chegamos como forasteiros e saímos como família, face à simpatia e pronta disponibilidade dos seus mentores. Aproveite para viajar no tempo, faça a edição especial do comboio histórico a vapor [da CP] e tenha uma inesquecível experiência ferroviária na Linha d Vouga, entre Aveiro e Macinhata do Vouga. Para mais informações, clique aqui.

Cork Train Station
créditos: Oliraf

Cork Train Station > R. Cais da Estação, 1, Edifício da Estação, 1º Piso, Esmoriz > T. 91 976 8672 / 91 651 8558 > quarto duplo €75 (desconto para estadias superiores a quatro noites)

Estação de Marvão-Beirã| Train Spot Guesthouse

A um passo da fronteira entre Portugal e Espanha, a antiga estação de Marvão-Beirã, do Ramal de Cáceres, era a última paragem antes da entrada na fronteira espanhola na ligação. Foi assim até o ramal de Cáceres ser desativado em 2012, pondo fim a mais de um século de ligações ferroviárias entre Lisboa e Madrid (desde 1880). As estações ferroviárias deixaram de ser locais de passagem, ficando entregues à sua sorte. Contudo, os projetos de turismo – alojamento local e de animação turística – atraem e cativam inúmeros viajantes para a região da raia luso-espanhola, particularmente, entre duas estações muito particulares: Castelo de Vide e de Marvão-Beirã, ambas no Distrito de Portalegre. Veja-se o caso da Guest House “Train Spot“, da “Pensão Destino” e do projeto Rail Bike Marvão. Estas três boas experiências da aposta deste nicho do turismo para fins de lazer e descanso muito características e especiais em pleno Parque Natural da Serra de São Mamede. Conheci esta guesthouse, em 2016, quando percorri os Castelos do Alto Alentejo numa roadtrip. Na histórica estação ferroviária de Marvão-Beirã, na aldeia de Beirã, construída no século XIX, fica agora o Train Spot Guesthouse. O espaço tem quartos duplos e triplos, com e sem casa de banho partilhada, e apartamentos para duas ou quatro pessoas. Há também uma cozinha e áreas de estar interiores e exteriores. Os preços por noite começam nos 40€. Se gosta de cultura ferroviária, recomendo este fabuloso espaço para pernoitar a poucos quilómetros da vila de Marvão. Num ambiente bucólico, deixe-se capturar pela história e beleza da antiga estação de comboios de Marvão-Beirã.

Train Spot Guesthouse
créditos: Oliraf

Garantimos que só se vai perder de encantos, pela História do Ramal de Cáceres, pela arquitectura industrial e pelos famosos azulejos (de Jorge Colaço) desta antiga estação fronteiriça desativada, que deu lugar a um projeto de alojamento local em espaço rural. É, seguramente, uma viagem pela História e pela arte portuguesa.

Estação de Porto – São Bento | The Passenger Hostel

De partida ou de chegada ao Porto? Se quiser ficar um pouco mais tempo (ou se estiver cansado depois de uma viagem de longo curso), pode dormir na Estação de São Bento. Com todo o conforto, claro. The Passenger Hostel é uma boa sugestão. Trata-se de uma das estações mais bonitas do nosso país. A Estação de São Bento é um dos mais visitados edifícios da cidade do Porto. É um verdadeiro “salão de visitas” para quem chega de outras latitudes à cidade do Porto. Este imóvel está classificado e integrado no Centro Histórico do Porto, património mundial da UNESCO. Veio substituir, a partir de sete de novembro de 1896, as instalações provisórias para passageiros em madeira. Nos dias de hoje, faz parte da identidade urbana do Porto. Com um gosto inédito, os seus milhares azulejos que revestem as paredes do átrio da Estação, da autoria de Jorge Colaço, parecem uma “Banda Desenhada” da História de Portugal, dos meios de transporte, dos mitos da nacionalidade e figuras históricas, bem como cenas de trabalho campestre e costumo etnográficos da região Duriense.

The Passenger Hostel
créditos: Oliraf

Por pequenos instantes, o viajante perde-se no tempo e nos acontecimentos cronológicos da História de Portugal. Uma autêntica aprendizagem pelo olhar. É assim desde a sua inauguração a cinco de outubro de 1916. Uma ode aos caminhos-de-ferro em Portugal.

Estação de Lisboa-Santa Apolónia | The Editory Riverside Santa Apolónia Hotel

No dia 01 de maio de 1865 o comboio chegou a Lisboa. A Estação de Santa Apolónia, inaugurada no reinado de D. Luís I, foi sofrendo alterações com o passar do tempo. À época, as obras custaram 255.164$00 réis, o equivalente a 255 escudos (1,27€). Servia a ligação por caminho-de-ferro de Lisboa ao norte do país, a Espanha e França. É, sem dúvida, uma das maiores e mais antigas estações ferroviárias de Portugal. Milhares de Portugueses usam-na no quotidiano habitual e para viagens de longo curso, apesar de ter perdido importância para a Estação do Oriente. É também marco de importantes acontecimentos históricos como a chegada de Humberto Delgado (Presidenciais 1958), de Mário Soares ou de Álvaro Cunhal, ambos em 1974. Aos 157 anos de longevidade, a Estação de Santa Apolónia ganhou uma nova vida. Para tal, foi necessário uma ampla campanha de obras e de renovação arquitetónica para receber a recente unidade hoteleira do Grupo The Editory Collection: The Editory Riverside Santa Apolónia Hotel (Sonae Capital Hotelaria). O exterior, do lado do rio Tejo, é marcado pelo tom vermelho escuro. Esta nova unidade cinco estrelas da capital, que convida a um embarque pela história de um dos mais icónicos edifícios da ferrovia portuguesa, tem três pisos com 11 tipologias distintas de quartos de decoração clássica, com pormenores temáticos e detalhes vintage inspirados nas antigas carruagens que chegavam à estação ferroviária. Nos corredores estão patentes imagens do fotógrafo catalão Jordi Llorella, que passou por antigas estações de caminho-de-ferro e apeadeiros para captar a memória e as histórias destes imóveis arquitetónicos que carregam e transmitem, ainda hoje, um valor arquitetónico, de originalidade, de uma memória de relevância social. O restaurante do The Editory Riverside Santa Apolónia Hotel, a funcionar diariamente entre as 7h00 e a 1h00, tem capacidade para 122 lugares sentados e dispõe de um espaço amplo para almoços executivos e jantares à carta, onde os pratos são inspirados nos produtos endógenos das várias linhas ferroviárias que partem de Santa Apolónia. Todas elas selecionadas pelo rigor do Chef André Silva.

The Editory Riverside Santa Apolónia Hotel
créditos: Oliraf

Um imponente bar, ao centro, recria o ambiente do interior bucólico e vintage de uma antiga carruagem-bar. Porque não beber um “expresso” pela manhã? Deixo a sugestão.

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Artigo originalmente publicado no blogue OLIRAF