Quirino Tomás
O Quirino deixa 12 recomendações a quem tiver pouca prática de caminhar na natureza.

Texto por Quirino Tomás

Na atualidade, no momento de planear as suas férias ou alguns dias de descanso, cada vez mais pessoas optam por caminhadas na natureza. Porém e infelizmente, muitas dessas pessoas não consideram que esse tipo de atividades acarretam certos riscos. Veja-se, por exemplo, o caso de algumas levadas na Madeira ou de algumas cascatas no Gerês, onde pode existir o risco real de queda. Desejo também transmitir-lhe que um planeamento pobre, ou pouco cuidado, e/ou o excesso de confiança, poderá facilmente colocá-lo numa situação delicada e mesmo em risco.

Assim, quanto melhor planear antes de partir, maior é a probabilidade de tudo correr bem quando estiver a usufruir do contacto com a natureza. Desse modo, o objetivo principal deste artigo será ajudá-lo a adquirir alguns conceitos sobre segurança e deixar-lhe algumas dicas práticas e recomendações sobre que comportamentos deverá adotar, para minimizar eventuais riscos e para que possa tomar melhores decisões.

1. Antes de sair de casa

Para realizar caminhadas em segurança, necessita de prudência e planeamento. Antes de mais, deve saber para onde vai, pois apenas desse modo irá saber: que roupa levar; quanto tempo irá caminhar; e que clima pode esperar. Para além disso, deve sempre avisar alguém para onde vai.

2. Avise alguém

Antes de partir, avise alguém — um membro da sua família, um amigo, uma pessoa local — do seu possível itinerário e da hora de regresso prevista. Esta simples ação irá permitir que alguém fique de prevenção caso não tenha regressado após uma ou duas horas após o horário combinado, podendo avisar os meios de socorro e emergência. Em resgates, todos os minutos são importantes, e esta ação de prevenção irá facilitar o trabalho dessas equipas para que, em caso de necessidade, possam encontrá-lo mais facilmente e numa situação (à partida) mais favorável.

3. Informe-se sobre a meteorologia

Deve verificar sempre a previsão das condições meteorológicas. Estas serão a sua linha orientadora para saber que quantidade de roupa e que tipo de equipamento adicional deve levar consigo. Saiba que, por vezes, adiar uma saída, se o tempo não estiver de feição, é a melhor decisão. Com efeito, se o seu percurso for técnico, se tiver zonas expostas, se exigir visibilidade para orientação, se tiver zonas que, ao ficarem escorregadias, se tornem perigosas, ou se passar em zonas de rios e ribeiros, é melhor rever os seus planos. Isto não significa que não possa ir caminhar, talvez signifique, que terá de ser flexível e ajustar os seus planos iniciais. Se for caminhar sozinho ou com crianças, então seja «duplamente» prudente.

4. Experimente o seu equipamento

Quando começamos a caminhar na natureza, a pressa de estrearmos as nossas primeiras compras faz-nos pisar os espaços naturais sem verificarmos, no dia a dia, como o equipamento se comporta: se as botas estão bem ajustadas, se a mochila é confortável ou se o casaco é realmente impermeável. Por isso, antes de sair para uma atividade, deve experimentar tudo várias vezes. A título de exemplo, lembre-se que nunca deve utilizar calçado novo numa caminhada.

5. Na Natureza. No trilho

Na natureza, não são apenas os acessos que por vezes são difíceis. Em certas ocasiões, as comunicações são mesmo inexistentes. Quero por isso que tenha sempre presente que, quanto mais afastado da «civilização» estiver, ou quanto mais remota for a zona para onde for caminhar, mais bem preparado terá de estar em termos globais (física, mental e emocionalmente); mais bem equipado terá de estar em termos de vestuário e calçado, bem como a sua mochila, que deverá estar preparada para «tudo»; e terá de planear melhor a sua atividade.

6. Aprenda a gerir a hidratação e a alimentação

Leve sempre mais água do que aquela de que pensa que necessitará. Independentemente de utilizar garrafas/cantil ou uma bolsa de água, não espere até sentir sede para se hidratar, pois quando tal acontecer já estará a ficar desidratado. Para se hidratar convenientemente durante a caminhada, beba um golo de água com frequência (de hora a hora), em vez de grandes quantidades apenas quando tiver sede. É indispensável levar água suficiente para toda a duração da caminhada (no mínimo um litro e meio por pessoa, este valor terá de ser aumentado caso caminhe no verão e com temperaturas mais elevadas). Quanto à alimentação, e mesmo em caminhadas curtas, não hesite em levar sempre alguma comida consigo: alimentos energéticos e calóricos (frutos secos, chocolate, barras de cereais...) e fruta (bananas, tangerinas, maçãs e fruta da época).

Livro
Em julho, o Quirino publicou "O poder de caminhar", um guia para desacelerar, ser mais saudável e viver o agora através da caminhada.

7. Caminhadas curtas e em percursos pedestres oficiais

Nos seus primeiros passos na natureza, não necessita de caminhar logo nas serras mais elevadas nem percorrer os trilhos mais difíceis e conhecidos de Portugal. Se não está habituado a caminhar na natureza, muito menos por mais de três ou quatro horas seguidas, ficará demasiado cansado rapidamente e poderá desanimar com facilidade. Caso queira realizar de forma autónoma, comece por escolher percursos pedestres de Pequena Rota®. Da minha experiência pessoal, posso adiantar-lhe que, dependendo da autarquia, estes percursos podem estar muito bem sinalizados e em excelente estado de manutenção, de forma razoável ou mesmo péssima. Por isso, escolha bem o seu percurso e informe-se, preferencialmente junto das entidades locais.

8. Caminhe (preferencialmente) com luz natural

Não comece a caminhar se estiver a menos de quatro a cinco horas do pôr do sol, a não ser que o percurso seja de muito curta duração (realizável em três ou menos horas). Quanto mais cedo, melhor. Deve começar o mais cedo possível, pois nunca se sabe o que poderá acontecer no decorrer da caminhada. Desse modo, terá alguma margem de segurança e tempo para terminar o trilho ainda de dia. Este conselho torna-se mais relevante no inverno, quando os dias têm menos horas de luz.

9. (Idealmente) não caminhe sozinho

Ir sozinho pode ser muito prático, mas é também muito mais arriscado se surgir algo imprevisto. Assim, e enquanto tiver pouca experiência, não recomendo que faça caminhadas sozinho. E mesmo em alguns locais ou zonas do país, por mais experiência que tenha, aconselho-o a ir sempre acompanhado. Idealmente, deve realizar alguns dos trilhos com três ou mais pessoas. Em caso de acidente, um de vós pode ficar com o acidentado e a outra pessoa pode ir pedir ajuda. Uma das regras de ouro em caso de emergência é nunca abandonar um acidentado, deixando-o sozinho, para ir procurar ajuda.

10. Mantenha a concentração

Ainda que caminhar não exija uma preparação física excecional, envolve bastante energia, pelo que é essencial que aprenda a respeitar o ritmo do seu corpo. Nas caminhadas, os acidentes tem tendência a acontecer em dois momentos distintos: ou depois de uma zona que exigiu muita concentração; ou praticamente no final da caminhada, quando se aproxima a chegada e muitas vezes o terreno se torna mais acessível, o que nos torna mais confiantes e, por vezes, faz acelerar a passada. Não tenha dúvidas: o cansaço pode torná-lo mais distraído e os seus reflexos mais lentos. Por este motivo, mantenha-se concentrado durante toda a caminhada e ao longo do percurso, faça pausas, hidrate-se e alimente-se convenientemente para recarregar a sua energia.

11. Mantenha-se visível

Deve ter consigo uma peça de vestuário que tenha uma cor garrida ou mais viva, pois irá torná-lo mais visível em caso de acidente. Mas não só. Em caso de deterioração das condições meteorológicas, pode ficar pouco visível (por exemplo, debaixo de chuva forte ou nevoeiro cerrado), pelo que a sua roupa garrida poderá fazer a diferença.

12. Orientação e GPS

Hoje, o uso de aplicações móveis, como o Wikiloc ou a cartografia digital, substituiu quase na totalidade o uso de mapas em papel. Se quiser caminhar realmente mais orientado e explorar a natureza fora de trilhos marcados, aconselho-o vivamente a comprar um GPS, de preferência com cartografia incorporada e que funcione com pilhas. Da minha experiência, depender de aplicações móveis para se orientar pode parecer, à primeira vista, conveniente, mas não o recomendo. Na minha opinião, há pelo menos dois problemas graves associados: um é que se o smartphone não tiver GPS incorporado, assim que falhar a rede da sua operadora, estará literalmente no "vazio"; o segundo motivo prende-se com o elevado consumo de bateria, pois gravar o seu trilho durante horas consome bastante carga. Nessa circunstância deve levar na sua mochila um powerbank carregado.

Depois destas dicas e conselhos, espero que sinta mais preparado para ir «a correr» em direção ao Gerês profundo, conhecer as suas inesquecíveis cascatas e os seus fantásticos poços de águas límpidas e cristalinas, ou até conquistar o topo de Portugal na montanha do Pico. Porém, não se esqueça: prepare-se convenientemente, tanto em termos físicos, como mentais e emocionais, e, claro, carregue consigo todo o equipamento necessário e adequado para tais cumprir tais "missões" com sucesso.

O Quirino Tomás é guia de caminhadas na natureza na Hike Land e podem segui-lo no instagram. O seu primeiro livro, "O Poder de Caminhar", está disponível nas livrarias.

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