Chegar a Berna é perceber de imediato que esta não é uma capital como as outras. Não há aqui a agitação impaciente das grandes metrópoles. Em vez disso, a cidade recebe-nos com uma calma digna, um manto de telhados vermelhos abraçado por uma serpente verde-esmeralda: o rio Aare. A sua presença é tão forte que parece ditar o ritmo de tudo o resto.

A arquitetura medieval, Património Mundial da UNESCO, não é um cenário inerte para turistas; é uma casa vivida, um palco onde os habitantes desfrutam do seu dia a dia. Este é o relato de três dias numa cidade que convida a abrandar e a participar.

Dia 1. O peso da História e a leveza do rio

A eficiência suíça manifesta-se assim que se aterra em Zurique. O comboio desliza pela paisagem com uma pontualidade e organização que são, por si só, uma introdução ao país. Uma hora depois, estamos em Berna.

Onde ficar

Stay Kooook Bern Wankdorf: Conceito de alojamento moderno com estúdios e apartamentos equipados , situado junto à estação secundária de Wankdorf, com boas ligações ao centro.

Onde comer

Restaurant Dampfzentrale: Cozinha mediterrânea numa antiga central elétrica com um terraço sobre o rio Aare.

Restaurant Schöngrün: Cozinha com produtos regionais de qualidade, localizado na moradia histórica junto ao Zentrum Paul Klee.

Freibank Speis & Trank: Restaurante no antigo matadouro com um conceito "nose to tail" e ambiente social.

Restaurant Gurtners: Cozinha tradicional com um toque moderno no topo da montanha Gurten, com vistas sobre a cidade.

A nossa exploração começou a pé, porque é assim que a cidade deve ser sentida. Entrar na Cidade Velha é como caminhar sob o peso protetor da História. Os seis quilómetros de arcadas de arenito criam um corredor quase contínuo, um refúgio do sol ou da chuva, onde o som dos nossos passos ecoa juntamente com as conversas que saem dos cafés. O destino inicial foi a Zytglogge, a Torre do Relógio. Por fora, é enigmático. A verdadeira experiência, porém, está em subir as suas escadas de madeira gastas pelo tempo. Lá dentro, o cheiro a madeira antiga e óleo de mecanismo envolve-nos enquanto um guia explica o génio medieval que, a cada hora, põe em movimento um pequeno teatro de figuras.

O nosso passeio pelas ruas de arenito levou-nos a outros dois pontos fundamentais da cidade. Primeiro, a casa onde Albert Einstein viveu e desenvolveu a Teoria da Relatividade, hoje um pequeno museu que nos recorda a dimensão histórica desta cidade aparentemente tranquila. Pouco depois, ergue-se a imponente Catedral de Berna (Berner Münster). A sua arquitetura gótica domina o horizonte, mas é a subida à sua torre que oferece a verdadeira recompensa: depois de uma longa escadaria em espiral, a vista de 360 graus sobre os telhados vermelhos da cidade e os picos dos Alpes ao longe é um dos momentos altos da visita.

De volta à rua, vistiamos o Rosengarten. A subida é recompensada não apenas pela vista panorâmica sobre a cidade, mas pelo perfume subtil das centenas de rosas que dão nome ao jardim. De lá de cima, a cidade parece uma maquete perfeita, com a curva do Aare a delinear os seus contornos de forma irrepreensível.

Viajar em família seguindo a regra dos 3 S (Suíça, Sustentabilidade e Serenidade)

À noite, a margem do rio chamou por nós. O jantar no Restaurante Dampfzentrale, numa antiga central elétrica, foi a prova de como Berna integra o seu passado industrial com um presente presente — passe a redundância. O som da água a correr ali ao lado acompanhou a refeição, num terraço cheio de gente local, provando que os bernenses sabem, de facto, viver a sua cidade.

O centro histórico de Berna
O centro histórico de Berna O centro histórico de Berna créditos: Foto de Alin Andersen | Unsplash

Dia 2. A ondulação da arte e o mergulho na alma da cidade

A manhã levou-nos ao Zentrum Paul Klee. O contraste do edifício de Renzo Piano, com as suas três "ondas" de aço e vidro a emergirem do campo verde, prepara-nos para a arte que alberga. No interior, não estamos apenas a ver a maior coleção de Klee do mundo; estamos a mergulhar no seu universo, nas suas cores e formas, numa atmosfera de silêncio e contemplação. O almoço, no vizinho Restaurante Schöngrün, prolongou o estado de espírito, com pratos cuidados que pareciam dialogar com a arte ao lado.

Depois do almoço, e antes do mergulho no rio, regressámos ao centro para um último passeio. Este caminho levou-nos à margem do Aare, onde se encontra o Bärengraben, o parque dos ursos. Sendo o urso o símbolo vivo e heráldico de Berna, a visita é quase obrigatória. No entanto, a observação de animais selvagens em cativeiro, mesmo que num espaço amplo e bem tratado, é sempre um momento que convida a uma reflexão pessoal sobre a nossa relação com a natureza. Foi, por isso, um momento de passagem, uma paragem breve antes de nos entregarmos à sensação de liberdade que o rio Aare prometia.

Como chegar

Voar para Zurique pela Swiss Air e apanhar um comboio direto para Berna (cerca de 1h15 de viagem).

Como se deslocar

Ao ficar alojado num estabelecimento turístico da cidade, recebe gratuitamente o Bern Ticket. Este bilhete dá acesso livre aos transportes públicos nas zonas centrais durante a sua estadia , incluindo o funicular Gurtenbahn.

Dica cultural

O Museum Card permite a entrada em todos os museus da cidade por um período de 24 ou 48 horas (a partir de 28 CHF~cerca de 30€).

A tarde de verão pedia a experiência que define Berna para os seus habitantes, o ritual que transforma qualquer um num local: deixar-se levar pela corrente do Aare. Adquirimos a indispensável mochila estanque, o "Aarebag", guardámos os nossos pertences e caminhámos até um dos pontos de entrada. O primeiro contacto com a água fria e cristalina provoca um choque breve, imediatamente substituído por uma sensação de liberdade absoluta. Flutuar ali, a ver os edifícios históricos, o Parlamento, as árvores e as outras pessoas a rir enquanto a corrente nos guia, é ver Berna a partir da sua alma. É uma experiência partilhada, uma comunhão silenciosa com a cidade. As instalações do Marzili, com os seus balneários e piscinas, permitem que este regresso à "civilização" seja feito com todo o conforto.

À noite, o jantar no Freibank Speis & Trank, no antigo matadouro, reafirmou a impressão de uma cidade que se orgulha das suas raízes, mas sem medo de as reinterpretar. O ambiente era, mais uma vez, genuinamente local e descontraído.

Dia 3. O olhar do topo e a despedida

Para o nosso último dia, subimos ao Gurten, a montanha de Berna. A viagem no funicular vermelho, a vencer a inclinação acentuada, já é parte da experiência. Lá em cima, a 858 metros de altitude, Berna volta a estender-se a nossos pés, mas desta vez com os Alpes a servirem de cenário distante. É um espaço amplo, verde, onde as famílias fazem piqueniques e o tempo parece ter outra dimensão.

O almoço de despedida foi no Restaurante Gurtners. Comer com aquela vista como pano de fundo foi a forma perfeita de fechar a viagem, revendo mentalmente os pontos por onde passámos.

No país do chocolate: um doce roteiro pela Suíça

Agora, dias depois do regresso, o que fica na memória é mais do que uma sucessão de lugares. É a recordação da alegria coletiva nas margens do Aare, do orgulho sereno com que os bernenses falam da sua cidade e da forma descontraída como a vivem. Talvez a vida, ali, se entenda como o seu rio: não é algo para se observar da margem, mas sim para se entrar na corrente e deixar-se levar.

Berna não é uma cidade para se visitar à pressa, com uma lista de coisas para riscar. É um convite para participar no seu ritmo, para caminhar sob as suas arcadas, para sentir a água fria do seu rio e para se sentar numa esplanada a observar como os seus habitantes a tornam única. A verdadeira viagem é essa: sentir a cidade a ser vivida.

*O Volto JÁ visitou Berna a convite do Turismo da Suíça.