Segundo um despacho publicado hoje no Diário da República, a camisola poveira recebeu a 19 de fevereiro a aprovação para integrar o registo nacional de produções artesanais tradicionais, ficando a sua manufatura protegida através de um caderno de especificações, incluindo a delimitação geográfica da área de produção.

Com esta decisão, que já tinha sido ratificada por uma comissão consultiva, a Câmara da Póvoa de Varzim, como entidade promotora da iniciativa, pode agora avançar para um registo da denominação da produção, junto do Instituto Nacional da Propriedade Industrial, estabelecendo, com base na história, geografia e tradição, as características desta peça de vestuário.

Ficou estabelecido que a área de produção da camisola poveira abrange todo o concelho da Póvoa de Varzim, conforme delimitado no caderno de especificações, que também detalha as características e técnicas de produção, para garantir a autenticidade e preservação da identidade deste produto artesanal.

Ainda assim, foram também estabelecidas condições para inovação responsável, permitindo a utilização de cores diferentes da tradicional [branca], desde que observadas algumas diretrizes específicas, com o objetivo de, preservando a tradição ancestral, incentivar a sua produção, valorização e divulgação.

Com mais de um século de existência, a camisola poveira, cujo uso original estava relacionado com atividade dos pescadores, foi-se transformando numa peça de traje festivo masculino, como um símbolo emblemático da Póvoa de Varzim e da sua iconografia.

A peça é feita em lã natural de ovelha, de cor branca, e decorada com bordados a ponto de cruz, em preto e vermelho, evocando motivos marítimos, sobretudo ligados com a pesca.

O processo de certificação das características e da área de geográfica de produção da camisola poveira começou a ser espoletado em 2021, quando a estilista norte-americana Tory Burch, lançou na sua coleção uma peça muito semelhante, promovida como de inspiração mexicana.

A empresária colocou o produto à venda na loja online da sua marca, com um preço de 695 euros, como sendo design próprio e sem fazer qualquer referência ao facto de se tratar de uma peça tradicional da Póvoa de Varzim.

A situação foi descoberta através das redes sociais, tendo mais tarde merecido uma reação da autarquia poveira, à qual se associou o Ministério da Cultura, que deu seguimento a uma acção judicial, para "reparação dos danos para a cultura portuguesa e da Póvoa de Varzim”.

A estilista acabou por retirar a peça de venda, e pedir desculpa pelo sucedido, trabalhar em conjunto com a Câmara Municipal da Póvoa de Varzim de forma a encontrar as melhores soluções para apoiar os artesãos locais.