Luís Antunes foi diretor de Recursos Humanos numa empresa de software. "A minha formação de base é em Psicologia Social das Organizações", conta durante o Fórum Turismo & Paixão que aconteceu esta quinta-feira, dia 3 de outubro, no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), em Lisboa. "Depois fiz uma pós-graduação em Gestão de Pessoas e Felicidade Organizacional e acho que cheguei à conclusão que não era assim tão feliz naquilo que estava a fazer", desabafa.

Dado ter tido sempre a vontade de ser empreendedor e de "abraçar uma paixão" perguntou a si mesmo: "qual é a paixão que tenho que um dia me fará sair do mundo corporativo após 25 anos?".

"A paixão foi de facto os gelados artesanais", partilha. Assim, juntou-se a Miguel Pereira, que trabalhou como enfermeiro do bloco operatório de emergência do Santa Maria durante 18 anos. Em conjunto e por partilharem o mesmo gosto, criaram a Lumi Geladaria, que fica no bairro de Benfica, na capital.

Tal como o Luís e o Miguel, também o casal Carlos e Inês Oviedo e Sérgio Pardal, outros dos oradores da mesa-redonda, decidiram empreender com base na sua paixão. Todas as histórias encontram-se no livro “Empreendorismo de Estilo de Vida”, de Álvaro Lopes Dias, que foi apresentado durante o evento.

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IScte Mesa-redonda: "Empreender com paixão no Turismo" créditos: Ana Oliveira

"Fiz este livro porque tenho investigado esta área do Lifestyle e cheguei a conclusões importantes. Achei que era importante, de alguma forma, dizer isso para o mercado e alertar até às autoridades qual é a sua a importância", explica o autor do livro.

De acordo com Álvaro Lopes Dias, em Portugal, 96% da faturação em turismo vem de microempresas, ou seja, de empresas com menos de nove de trabalhadores. "Dos estudos que tenho feito, tenho perguntado aos empreendedores em turismo qual é a orientação Lifestyle", explica o também professor e investigador do ISCTE. "Quarenta e três por cento destas microempresas seguem uma orientação do estilo de vida como objetivo do seu negócio", ou seja, não se focam no lucro, mas sim em trabalharem em algo que os apaixona e os realiza a nível pessoal.

Segundo o docente, estes valores representam 6,5% do PIB Nacional. "Temos aqui um tipo de empreendedorismo que não se comporta da mesma forma que ensinamos nas faculdades", comenta. "Há aqui uma chamada de atenção para a relevância deste tipo de empreendedor", acrescenta.

Para Álvaro, a mais-valia dos empreendedores de estilo de vida, que define como alguém que escolheu "ganhar uma vida" ao mesmo tempo que "ganha a vida", está igualmente no contributo para o sector do turismo: "se calhar estão mais empenhados em oferecer serviços mais autênticos, produtos autóctones, mais autenticidade nas experiências que oferecem aos turistas e mais igualdade".

Álvaro Lopes Dias durante o lançamento do livro Empreedorismo de Estilo de Vida
Álvaro Lopes Dias durante o lançamento do livro Empreedorismo de Estilo de Vida Álvaro Lopes Dias durante o lançamento do livro Empreedorismo de Estilo de Vida créditos: Ana Oliveira

Em relação às experiências mais imersivas, onde o turista não é mero espetador, o professor questiona: "são os grandes hotéis que vão oferecer isso? São as grandes empresas multinacionais?".

Deste modo, Álvaro Lopes Dias acredita que para além de diferenciador, este tipo de empreendedorismo contribui para uma maior distribuição de turistas pelo território nacional. "Não sei se é o caminho, mas é um caminho para a estratégia do turismo em Portugal", afirma.

Numa altura em que se prevê que o turismo atinja novos recordes em Portugal, Carla Salsinha, presidente da Entidade Regional de Turismo da Região de Lisboa, ressalvou numa mensagem enviada para os presentes no fórum que mais do que nunca, o país precisa de apostar num "num turismo diferente, sustentável, baseado nas experiências imersivas, na modificação".

A presidente que não pode marcar presença no evento por motivos de agenda, acredita que este tipo de empreendedores "são, seguramente, uma nova versão do turismo".

"Estamos a falar de empreendedores que numa fase da sua vida com carreiras brilhantes decidem começar, obviamente, a desenvolver um projeto que tem que ter alguma rentabilidade, mas que são projetos onde as pessoas se envolvem pela paixão, seja por uma arte, atividade ou local. São projetos em que se dedicam de corpo e alma e de uma forma totalmente apaixonada e que transmitem a cada turista que vive a experiência dos projetos que desenvolvem, essa paixão e essa experiência imersiva", finaliza a presidente.

O livro "Empreendedorismo de Estilo de Vida" de Álvaro Lopes Dias já se encontra disponível nas livrarias.