Os alemães Claudia e Christian chegaram na quinta-feira à noite a Lisboa para dois dias de turismo e, indiferentes à presença do Papa na cidade, têm apenas um plano: "Ele vai para um lado, nós para o outro".

Os dois alemães confessaram à Lusa, quando passeavam por Alfama, terem ficado surpreendidos quando lhes disseram que por estes dias está a decorrer em Lisboa a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), o maior evento da Igreja Católica, presidido pelo Papa Francisco.

Claudia e Christian estão alojados em Alfama, um bairro do centro da cidade e a pouca distância da Praça do Comércio, um dos cenários das atividades da JMJ, em que participam centenas de milhares de peregrinos, com a organização a esperar mais de um milhão de pessoas na Jornada, que termina no domingo.

Os dois alemães disseram querer caminhar pelas ruas de Lisboa e evitar assistir a eventos da JMJ. Pelo contrário, o objetivo é mesmo manterem-se à margem da Jornada.

Numa padaria tradicional do bairro onde também se servem cafés, três moradoras de Alfama disseram à Lusa que não decidiram manter-se à margem da JMJ, como os dois turistas alemães, mas é isso que está acontecer no dia a dia de todas elas.

"O Papa não passa para estes lados", disse Fátima, 72 anos, nascida em Alfama, enquanto conversava com as vizinhas na padaria/café que é ponto de encontro de moradoras na rua todas as manhãs.

Da outra mesa, Glória, 59 anos, perguntou mesmo se o Papa ainda está em Lisboa ou vai ficar mais dias.

Dona de um pequeno restaurante tradicional no bairro, Glória disse que "adorava ver o Papa", mas a JMJ decorre noutros pontos da cidade e o trabalho não a vai deixar sair dali, pelo que continuará a ver Francisco na televisão, como sempre viu, estando ele em Portugal ou noutro país.

As centenas de milhares de peregrinos que andam por Lisboa nestes dias também não lhe entraram pelo restaurante.

No restaurante de Glória, a atividade segue, assim, a habitual "para um mês de agosto", quando muitos moradores de Alfama e trabalhadores no bairro ou nas imediações deixam a cidade por causa as férias e entram mais turistas.

"Anteontem fiz só dois almoços, mas ontem já foram 27", afirmou, para explicar como agosto pode ser irregular num restaurante como o seu.

A funcionária da padaria onde Fátima e Glória tomam o seu café confirmou que a JMJ "não prejudicou nem melhorou" as vendas.

Na mesma rua, moradoras como elas em Alfama vivem, aparentemente, a rotina de todos os dias, munidas com carrinhos de compras e com paragens na mercearia e no talho ou à porta dos cafés, para dois ou três comentários sobre o calor.

Os turistas misturam-se e confundem-se com os peregrinos da JMJ, identificados por mochilas, T-shirts ou credenciais do evento.

Um pouco mais abaixo, junto ao Museu do Fado, P., um motorista de 'tuk tuk' que não quer ver o nome publicado, disse à Lusa que há menos turistas em Lisboa do que no ano passado, mas não lhe parece que isso tenha a ver com a JMJ. Atribui mais ao efeito pós-pandemia que houve no verão de 2022, quando as pessoas tinham "dinheiro poupado" para gastar e houve uma certa "euforia" em viajar e sair de casa.

A JMJ também não passa pelos 'tuk tuk', que não têm peregrinos entre os seus clientes nem pedidos de turistas para se aproximarem dos locais onde decorrem os eventos ou por onde passa o Papa Francisco.

Os cortes de trânsito na cidade por causa da JMJ impedem a venda de alguns dos percursos que os 'tuk tuk' normalmente oferecem aos turistas, mas há várias opções à margem da JMJ e sem perturbações por causa do evento, como é o caso, precisamente, das zonas de Alfama, Graça ou Marvila.

Entre risos, P. contou que tem feito percursos com turistas que foram surpreendidos por estar a decorrer a JMJ em Lisboa ou que só depois de chegarem à cidade perceberam porque "os preços estavam tão caros" quando fizeram as reservas de alojamento para estes dias.

Angelique, o marido e o filho, uma família de Valência, em Espanha, confirmaram que não sabiam da JMJ em Lisboa quando reservaram o hotel em que estão alojados, perto do Campo das Cebolas, em frente ao Tejo, a apenas 500 metros da Praça do Comércio.

Parece-lhes uma vantagem encontrarem uma cidade "com tanta alegria nas ruas" por causa da JMJ, mas os planos que têm são os de visitar a cidade, afastados da Jornada e do Papa.

Segundo Angélique, nem tiveram de mudar os planos que traziam e, quando falou com a Lusa, a família preparava-se para ir até Belém e visitar os Jerónimos, por onde o Papa já passou, mas que já está livre para ser de novo visitado pelos turistas.