"Os dados são uma coisa, mas ver os corais a morrer perante os meus olhos provocou uma emoção que nunca havia sentido", confessa o cientista francês durante uma entrevista à AFP.

De volta desde o final de fevereiro ao território francês da Nova Caledónia, onde reside, Jucker relata a sua aventura em conferências e trabalha em artigos científicos.

O primeiro dos artigos vai abordar o estado de saúde dos recifes de coral nesta área remota do Pacífico Sul, danificados por uma onda de calor marinho de uma escala inédita neste oceano.

"Um terço do recife está morto. A temperatura da água permaneceu em 30,5ºC durante mais de cinco semanas, mesmo a seis metros de profundidade", explica.

O biólogo prepara igualmente duas publicações sobre o titi, uma ave endémica do arquipélago polinésio de Tuamotu, cuja população passou de 185 exemplares em 2003 para quase 60 em 2024.

"Sentimo-nos tão insignificantes"

Para o cientista, a longa estadia permite uma observação muito mais refinada, impossível nas missões científicas clássicas de tempo limitado.

Para além dos resultados, a expedição representou para o biólogo uma viagem interior. A duração, o isolamento, o ambiente mutável com tempestades que, numa noite, arrastavam enormes quantidades de areia e modificavam completamente a fisionomia da ilha... tudo isso gerou em Matthieu uma espécie de vertigem.

"Sentimo-nos tão insignificantes no meio da lagoa, à noite, sob o céu estrelado", explica. A solidão, às vezes, torna-se algo violento, "como um punhal no ventre", mas também um forte sentimento de pertença à natureza.

"Eu estava hipersensível ao ambiente", explica o biólogo, estimulado pelo desejo de contribuir para a preservação do meio ambiente.

A experiência foi brevemente interrompida durante um mês e meio por uma insurreição na Nova Caledónia em maio de 2024. Devido aos distúrbios, Matthieu Juncker não conseguia entrar em contato com a família e, por isso, decidiu deixar o atol para verificar se estavam todos bem.

Com a missão concluída, o cientista participa agora em conferências para contar a sua aventura, convencido de que "uma expedição não vale nada se não for partilhada".

Graças à visita, moradores dos atóis próximos ao seu criaram, em janeiro, uma associação dedicada a proteger os ecossistemas frágeis, que já possui 180 membros.

E, em alguns meses, a história de Matthieu deverá ser exibida nos cinemas de França com um documentário montado a partir de quase 300 horas de gravações da sua experiência solitária.