Já te ouço a perguntar desse lado: mas se já explorámos o sudeste e o centro do Sotavento, o que há ainda de especial para ver? O sudoeste, claro! Mais conhecido como Barlavento Algarvio.

A zona interior e litoral vale cada segundo do teu itinerário. No teu gap year é importante que dês atenção não só aos locais comerciais que todos os guias de viagens conhecidos te dizem para não perder. Há que equilibrar a experiência e criação de novas memórias através dos mapas, mas também dar espaço a improvisos e sair da rota, de quando em vez.

Nos recônditos da serra, entre Alferce e Marmelete, eis que surge da densa floresta que forra a estrada, o nosso primeiro destino. Monchique, curva acima e curva abaixo. E qualquer monchiquense que se preze, veste simples, protege a cabeça do sol e faz-se à vida! Por ali vive-se das minas, dos sobreiros, das oliveiras, cestaria, ferragens e criação animal. Além disso, ainda no tempo do domínio Romano, já andava na boca do povo o poder curativo das águas de Monchique. As gentes faziam uso terapêutico das nascentes e proveito das águas para atividades de setor secundário como a tecelagem em lã e linho. Não admira que D. Sebastião a tenha elevado a vila em 1773 e que, no final do séc. XX, tenha restaurado as termas para um SPA de tratamento.

E foi nesta ambiência que o senhor Varela e a sua família me receberam de braços abertos. Foi um dos dias mais bem passados de que me lembro. À chegada dei conta de uma casa rústica, cheia de amigos de todas as idades, que se entreajudavam a preparar o festim. Uns tratavam das galinhas, outros aqueciam os deliciosos enchidos da região e a melhor parte foi ver como o dono da casa produzia e servia um copo da sua própria aguardente de medronho. Mais genuíno que isto é improvável.

Monchique
Preparação do Medronho créditos: Andreia Prino Pires

Em viagem, é crucial que a cultura local seja a protagonista do teu guião. De que outra forma vais conhecer e aprender sobre as tradições daquela terra? Se não for pela observação dos costumes e das pessoas, duvido que consigas compreender a sua essência! Na minha opinião, é isto que faz com que ganhemos respeito pela singularidade de cada país visitado da nossa lista.

Não nos devemos esquecer que a população e os habitats naturais do Barlavento sofreram muito com o maior incêndio florestal da Europa em 2018. E estas mesmas pessoas estão de bondade e porta escancarada, à espera de que uma onda de positivismo volte às suas vidas. É precisamente nestas partes envelhecidas do país que o movimento jovem deve contribuir. E se queres deixar a tua pegada, o que não faltam são projetos fixes! Sabe como pôr mãos à obra com a iniciativa Renature Monchique e com a ONG ambiental A Nossa Terra. Também acabei de encontrar na plataforma Worldpackers, a oportunidade de voluntariar conscientemente e de forma sustentável na quinta rural do Wolfgang. Terás estadia, refeições e roupa lavada, em troca de ajuda para tratar dos animais, de pequenas reparações domésticas e até mesmo de fazer jardinagem.

Com a barriga a dar horas, seguimos caminho da montanha até ao mar, e a nossa próxima paragem é em Burgau, no restaurante A Barraca, para umas iguarias do mar, com direito a uma vista da varanda como nunca presenciaste! À tua frente tens uma paisagem tipicamente mediterrânea. Vila piscatória, de areia fina e banhada por um mar turquesa. Burgau tem a capacidade de nos teletransportar para uma esquina amalfitana ou cipriota.

Burgau
Burgau créditos: Andreia Prino Pires

Contorna as ruas da calçada, caiadas de branco e decoradas com as mais coloridas flores. Há uma leveza no ar que te faz percorrer esses corredores de gelado na mão e de sorriso na cara, não há? Aproveita.

Se és do tipo aventura, terrestre ou aquática, então Sagres é definitivamente uma boa aposta. Seja por caminho pedestre ou de bicicleta, o caminho até à praia da Barriga é de tirar o fôlego a quem se atreva ir para esses lados. O que te espera do outro lado? Um dos tesouros mais bem guardados do Sul. Se tens paixão por surf, bodyboard, stand up paddle ou skimming, esta é a tua praia!

Cerâmica Paraíso Mó
Cerâmica Paraíso Mó créditos: Andreia Prino Pires

E como é difícil falar em praia sem falar em pôr-do-sol, deixo-te esta dica preciosa. Se queres assistir a um pôr-do-sol mágico, vai até à Ponta de Sagres, esse gigante dedo de pedra que aponta para o Atlântico. Inspira-te com aqueles que, outrora, seguiram daí para descobrirem novos continentes. Ah, e os dois últimos must do, prometo, deixa-te perder na Cerâmica Paraíso Mó e na labiríntica câmara de som da Fortaleza de Sagres.

Câmara de som da Fortaleza de Sagres
Câmara de som da Fortaleza de Sagres créditos: Andreia Prino Pires

Texto e fotografia: Andreia Prino Pires

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