Já foi bombardeado como parte de um conflito entre unidades rivais militares de Cuba, sediou um encontro de mafiosos, foi um local-chave da Crise dos Mísseis, e um lugar de férias para algumas das figuras mais excêntricas de Hollywood.

No entanto, durante 20 meses, este edifício que mistura elementos art déco e neoclássicos, esteve vazio por causa da pandemia - uma oportunidade para restaurar a fachada, e colocar pisos e janelas novas nos quartos.

"Muito trabalho foi feito para que, quando os turistas voltassem, encontrassem um hotel dos anos 1930, embora com maior conforto... revivendo o passado", diz Arleen Ortiz, especialista em história do hotel.

Encontro de mafiosos e bombardeios

Os hóspedes pedem, muitas vezes, para ficar em certos quartos, como o número 211 onde o gangster italiano Lucky Luciano permaneceu em dezembro de 1946 durante a reunião dos chefes da máfia. Foi um episódio imortalizado no filme de 1974 de Francis Ford Coppola, "O Padrinho II".

"Las Vegas não existia e Cuba era o lugar perfeito para o jogo devido à sua proximidade com os Estados Unidos, o clima, as praias, o rum", explica Ortiz.

Hotel Nacional de Cuba: estrelas de Hollywood, mafiosos e militares passaram por aqui
créditos: Adalberto ROQUE / AFP

Todo o hotel foi reservado pelos mafiosos para as suas famílias passarem o Natal na cidade, com um convidado especial para a ocasião: Frank Sinatra.

Empoleirado numa colina com vista para o Estreito da Flórida, o Hotel Nacional - com sua porcelana chinesa, relógios importados da Alemanha e lustres pendurados no teto - foi inaugurado em 30 de dezembro de 1930, supostamente financiado, em parte, com dinheiro da máfia.

Três anos depois, 400 oficiais do exército leais ao presidente deposto Gerardo Machado esconderam-se no hotel enquanto as tropas do governo o bombardeavam a partir da terra e do mar. Em desvantagem numérica e com pouca munição, os rebeldes foram forçados a render-se.

Ava Gardner bebeu daiquiris ao pequeno-almoço

O hotel sobreviveu, carregando os sinais do cerco, mas logo atrairia um tipo de atenção muito diferente.

Os salões e quartos estão repletos de fotos, objetos e cartas das celebridades que ali se hospedaram.

Hotel Nacional de Cuba: estrelas de Hollywood, mafiosos e militares passaram por aqui
créditos: Adalberto ROQUE / AFP

O cinco vezes campeão olímpico de natação e ex-ator Johnny Weissmuller foi um desses convidados, impressionando o staff ao saltar de uma janela do segundo andar para a piscina.

Na década de 1950, Ava Gardner bebeu daiquiris ao pequeno-almoço depois de uma noite de festa nos cabarés de Havana ao lado de pessoas como Ernest Hemingway.

O Duque e a Duquesa de Windsor, Winston Churchill, Marlon Brando, Errol Flyn, Rita Hayworth e Nat King Cole também passaram pelo hotel.

Crise dos Mísseis de Cuba

Mas após a revolução comunista de Fidel Castro de 1959, o hotel foi convertido num dormitório para 900 mulheres do campo que foram para a capital para aprender a costurar.

"Aquelas jovens, que nunca antes tinham saído das suas casas sem eletricidade e piso de terra", de repente, encontraram-se nos elegantes quartos do hotel, conta Ortiz.

As tensões logo aumentariam novamente com a Crise dos Mísseis de Cuba em 1962, quando soldados cavaram trincheiras e túneis sob os terrenos do hotel enquanto os Estados Unidos e a União Soviética estavam à beira de uma guerra nuclear.

Nos dias de hoje, é pela passagem de estrelas que o hotel ficou mais conhecido, atraindo visitantes cubanos e estrangeiros que se deixam conquistar pela magia do passado.