Foi depois de ler um artigo do SAPO Viagens que entrar no Traveler’s Century Club se tornou num objetivo para Cláudia Viveiros. Na altura, 2021, ainda não existiam mulheres portuguesas no clube norte-americano para pessoas "bem viajadas". Bastou um ano para cumprir a missão. Para esta micaelense de 33 anos, que já visitou mais de 100 países e que conta as experiências em livros, a maior conquista foi a nível "pessoal".

Quem é a Cláudia Viveiros, o que gosta de fazer quando não está a viajar e como ou quando nasceu o “bichinho” das viagens?

Eu sou uma escrevivente que nasceu com o gene das viagens. Desde criança, lembro-me de desejar conhecer outros lugares. Mas foi aos 18 anos, por impulso e sozinha num avião, que viajei, ao encontro de uma amiga, para fora dos Açores. Numa correria, sem ainda ter uma mala de viagem, marquei a minha passagem aérea para Lisboa. Entretanto, consegui uma mala emprestada e no dia seguinte, logo de madrugada, parti para ganhar asas no lugar do coração. Esta impulsividade deixou os meus colegas de universidade perplexos e a pensar que eu estava a delirar, pois tinha faltado a trabalhos e a aulas determinantes para ir viajar. No entanto, a minha primeira grande viagem aconteceu aos 21 anos. Na companhia do meu namorado, agora marido, percorri o norte da Península Ibérica a pé. Peregrinámos por um dos caminhos que levam a Santiago de Compostela e terminámos em Muxía e em Finisterra. Partimos sem data de regresso e só voltámos a casa dois meses depois, quando liquidámos as nossas poupanças.

 Cláudia Viveiros
Equador. É na companhia do marido, Nuno Viveiros, que Cláudia vai explorando o mundo. créditos: Cláudia Viveiros

Até à data quantos países já visitaste?

Até ao momento, já visitei 102 países soberanos reconhecidos pela ONU.

Qual ou quais te conquistaram mais e porquê?

Marrocos, porque foi lá onde casei numa dimensão sentimental, recebendo a baraka dos berberes. Nepal, porque a cada passo, eu tropeçava num cascalho de cultura. Laos, porque me fez apaixonar pela vida das tribos. Islândia, porque me trouxe de volta ao sonho depois de ter estado vários meses sem conseguir viajar devido à pandemia. E é melhor ficar-me por aqui porque a lista seria longa.

Entretanto, em outubro de 2022, tornaste-te na primeira mulher portuguesa a integrar o Traveler’s Century Club. O que significou para ti esta entrada?

Alcançar a fasquia dos 100 países e territórios visitados foi uma grande conquista pessoal. Senti-me muito especial porque cada dígito ocultava dezenas de histórias vividas por mim.

Cláudia Viveiros
Panamá.

Entrar no clube era um objetivo? Tinhas noção de que ao passares a meta dos “100 países e territórios” serias a primeira mulher portuguesa do TCC?

Entrar no TCC tornou-se um objetivo após ter lido um artigo do SAPO.

O Travelers' Century Club, ou TCC, é um clube para quem já visitou 100 ou mais países e territórios do mundo. A organização foi fundada na Califórnia em 1954 e atualmente conta com mais de 1.400 membros de diferentes partes do mundo.

No artigo em questão, que surgiu no feed de notícias do meu telemóvel no início de 2021, salientavam que ainda não havia mulheres portuguesas neste clube considerado bastante exclusivo. Foi uma mera casualidade nenhuma outra mulher portuguesa ter ingressado primeiro do que eu.

Na tua opinião, e tendo em conta a tua experiência, o que pode justificar ou contribuir para a ausência de mulheres portuguesas no TCC até 2022?

Eu nunca ambicionei entrar em clubes de viajantes, mas considerei um privilégio tornar-me na primeira mulher portuguesa a integrar um clube prestigiado. Talvez, a ausência de mulheres portuguesas até 2022, se deva ao facto de o acesso a este grupo exigir uma taxa de iniciação e o constante pagamento de quotas anuais.

Para ti, seria relevante existirem mais portuguesas no TCC? Porquê?

A meu ver, seria prestigiante existirem mais portuguesas por se tratar de um clube destinado a pessoas bem viajadas.

E na comunidade de viajantes portugueses, sentes que fazem falta mais mulheres ou consideras equilibrado?

Não sei responder a esta pergunta porque não tenho o hábito de acompanhar muitos viajantes. Só posso dizer que, independentemente do género, as pessoas devem viajar porque sentem o impulso. Eu viajo porque viajar enche-me de vida e cada pessoa deve viajar tendo em conta os seus próprios propósitos.

Claudia Viveiros
Bolívia Cláudia Viveiros

E depois da entrada no TCC, quais são os objetivos/planos de viagem para 2023?

O plano é viajar sempre que possível. Em 2023, pretendo focar-me novamente no continente americano para participar em mais algumas cerimónias ancestrais.

Alguma viagem, rota, que gostavas de fazer e que também não será ainda este ano? Porquê?

Gostaria de concluir a Rota da Seda que iniciei, por etapas, em 2014. Mas só vamos à China quando a Coreia do Norte abrir as suas fronteiras. Esta viagem estava prevista para 2020, mas não se concretizou devido à pandemia de COVID-19.

Cláudia Viveiros nasceu em 1990. Frequentou a Universidade dos Açores, tendo concluído o 1º ano do curso de Sociologia e respetivamente o 1º ano do curso de Comunicação Social e Cultura. Em 2006 conquistou o título de Miss Concelho Ponta Delgada, representando no mesmo ano a sua cidade no concurso Miss Cidades da Europa. Publicou cinco livros de poesia e é autora de 13 cadernos de viagem. Já foi premiada com um Troféu Carlos Zemek e um título Magnum Opus na Academia Alquimia das Letras, no Brasil. Em 2022, após ter visitado 100 países e territórios do mundo, tornou-se na primeira mulher portuguesa a integrar o clube mais exclusivo de grandes viajantes - o Traveler's Century Club.

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