Ramalho Ortigão não foi o único a enaltecer a praia que, para outros, era “o paraíso das praias”.

Ainda nas palavras do escritor do autor do Guia do Banhista, na altura havia poucas casas, a marginal era a rua principal e distinguiam-se as árvores e o palácio dos Arcos, que terá dado nome ao lugar.

Praia Paço de Arcos
Hotel Vila Galé Palácio dos Arcos créditos: andarilho.pt

Hoje também se destaca pela cor amarela e é um hotel. No palácio ficaram hospedados, por exemplo, o rei D. Manuel e um dos lugares frequentados era o jardim que tem uma magnifica varanda para o mar.

Praia Paço de Arcos
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O acesso ao jardim é público. É um refúgio com várias estátuas de poetas e poetisas portuguesas.

Praia Paço de Arcos
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Da varanda vemos os pequenos barcos encostados no areal da Praia Velha que, no passado, era a eleita pela nobreza e a coroa. Era a praia chique.

Hoje é diferente. “Em tempos foi. Agora tem mais pessoas e é onde também estão as embarcações pequenas. No Verão junta-se ali muita gente. A outra também tem muita gente.”

Praia Paço de Arcos
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O testemunho é de quem conhece bem Paços de Arcos, Dionísio Andrade, e que aponta para uma “nódoa” no postal ilustrado: “sinceramente a água na Praia Velha não é a melhor porque tem um esgoto próximo. Não é dos melhores sítios para se tomar banho.”

Praia Paço de Arcos
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Enaltece, sim, a outra praia, que está um pouco mais à frente, em direção a Oeiras. “A praia principal é boa. Recebe muita gente e, como tem o Passeio Marítimo, é juntar o útil ao agradável. Quem quiser vai para a água, outros preferem o Passeio Marítimo, é ótimo.”

Praia Paço de Arcos
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Dionísio Andrade tem quase toda a vida dedicada ao mar e nos último 37 anos as suas incursões são na zona de Paço de Arcos. Primeiro como patrão de salva-vidas e a última década a ir quase todos os dias ao mar à pesca. Na volta, gosta sempre de contemplar a costa.

Praia Paço de Arcos
Dionísio Andrade créditos: andarilho.pt

É gratificante porque vemos a beleza da terra. Esta zona, a margem Norte, é muito bonita. Até de noite. Ver tudo iluminado, é muito bonito! Temos coisas bonitas e por vezes não damos valor e atenção. Por exemplo, no sítio onde eu estou, à noite, vejo passar cidades flutuantes.”

Praia Paço de Arcos
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No exato momento em que Dioniso Andrade falava comigo, estava de costas para o mar e fui eu que o avisei que, curiosamente, nessa altura estava a passar um paquete. “Mas à noite, os grandes paquetes, todos iluminados, são autênticas cidades flutuantes. É digno de se ver.”

No final do século XIX Ramalho Ortigão dizia que a praia tinha muitas barracas, era a que “mais desafogadamente vê o mar” e “as árvores da quinta do conde de Alcáçovas facultam-lhe um pequeno fundo fresco de verdura”.

Praia Paço de Arcos
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Hoje há muitas outras zonas arborizadas para além dos Arcos. É o caso do jardim principal, junto à marginal, com árvores altas, espaços de lazer e vestígios de prédios de traça antiga.

Nas proximidades da praça e do jardim está o Clube Desportivo de Paço de Arcos cuja origem remonta a um outro clube que faria agora um século.

Praia Paço de Arcos
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No tempo de Ramalho Ortigão a fama era de outra coletividade, o Clube de Paço de Arcos, inaugurado em 1875. Os portugueses pagavam uma quota. Os estrangeiros e as senhoras espanholas eram convidadas para o baile da noite. Dançar com uma espanhola seduzia não só os banhistas de Paço de Arcos como também os das praias vizinhas.

Praia Paço de Arcos
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Outra diferença relevante é que a descrição de Ramalho Ortigão é feita com elementos recolhidos de uma viagem no barco a vapor entre Cais do Sodré, em Lisboa, e Cascais. Meio século depois chegou a linha do caminho de ferro que impôs, em alguns locais, uma separação com as praias.

Praia Paço de Arcos
Passeio Marítimo créditos: andarilho.pt

Hoje um dos lugares mais procurados é o Passeio Marítimo, junto à Praia Nova ou das Fontainhas, que nos reaproxima do mar. Vai até Oeiras com uma extensão de 4km. No entanto, Dionísio Andrade prefere passear de barco.

A sua rotina é entre a Praia Velha, onde tem o barco, e o mar. “Sim. Se puder ir todos os dias é ótimo. Não é só a ideia de ir apanhar o peixe. É o prazer que me dá, mesmo quando não apanho eu sou feliz porque estou a fazer uma coisa que gosto. Pensar antecipadamente, antes de ir para o mar, que amanhã vou entrar no barco e vou à pesca, vou navegar, enche-me o coração de alegria. Vou num barco pequeno, de 5 metros, com motor e afasto-me até ao farol do Bugio, Carcavelos, até à Torre. Ando por aqui. Não me afasto muito.”

Praia Paço de Arcos
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O resultado da pesca é secundário. Durante o ano o que mais consegue apanhar é polvo e robalo. “O peixe, normalmente é para casa porque hoje já não há a quantidade que havia antigamente. Há também sempre um amigo que gosta de um peixe fresco, distribuo também a vizinhos amigos.”

Praia Paço de Arcos
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Nos 26 anos que trabalhou como patrão de salva-vidas em Paço de Arcos refere que um dos maiores problemas eram as comunicações e o outro era uma ilha próximo do Farol do Bugio.

Praia Paço de Arcos
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“Há cerca de 20 anos havia uma ilha enorme. Até tinha arvoredo, ervas, feno... Aí sim, estava muito perto do canal de entrada da barra, às vezes havia navios e embarcações mais pequenas, principalmente os veleiros que encostavam e ficavam lá. Nós íamos por atenção a um very light, lançado de noite, ou porque a autoridade marítima nos dava conhecimento e chegámos a tirar algumas embarcações que estavam encalhadas.”

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Sobre Paço de Arcos ver trabalho de Alexandra Carvalho Antunes, Lugares da Boa Viagem, Caxias, Laveiras e Paço d’Arcos: veraneio e vida em sociedade no séc. XIX e Os Bardinos

Paço de Arcos – “a praia aristocrática dos subúrbios de Lisboa” faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.