Bilhete-postal por Filipe Branco

Gosto muito de viajar sozinho e já o confessei aqui muitas vezes.

Também gosto de viajar acompanhado. Aliás, vivi grandes aventuras com outros companheiros de viagem.

Só que partir sozinho para um sítio desconhecido tem sempre algo de redescoberta. Um cliché sempre que se fala de viagens, bem sei.

Mas acordar só num lugar novo, numa cama de hotel que nos é estranha, traz sempre consigo infinitas possibilidades. Não há ninguém connosco. Ninguém sabe quem somos. Podemos até ser bem quem nós quisermos, sem amarras, sem obrigações sociais. Se nos perguntarem algo sobre nós e se, por acaso, não dissermos a verdade, isso nem sequer é mentira, pois essa verdade nem sequer existe.

Desta vez vim para Riga, a bonita capital da Letónia.

No terceiro dia fui finalmente a Majori, a vila costeira, para ver o mar báltico pela primeira vez. A tranquilidade, o sossego daquelas águas, trouxeram uma dose de calmaria.

Era para ficar menos tempo, mas deixei-me por lá estar umas belas horas. Estava bom tempo. O Sol convidou-me a ler deitado na areia e assim fiz. O silêncio das águas a embalar-me.

Quando mais tarde regressava a Riga no comboio regional (que já viu melhores dias), era outro.

O Filipe vive em Berlim e nos seus tempos livres adora ler e escrever, incluindo no seu blog, onde este artigo foi publicado originalmente. Recentemente, publicou um livro intitulado "Deixa-me ser".