Podia ser só mais uma fotografia engraçada de um esquilo a correr pelo chão da floresta, se não fosse o local, a Serra de Sintra, onde a espécie se julgava estar extinta há vários séculos.

O avistamento, anunciado pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), terá sido feito recentemente por uma equipa de Vigilantes da Natureza enquanto realizavam trabalho de campo no âmbito do Programa de monitorização de espécies da Direção Regional da Conservação da Natureza e das Florestas de Lisboa e Vale do Tejo.

O esquilo-vermelho estava extinto em Sintra desde o séc. XVI devido à acentuada degradação do seu habitat natural, causada pela intensa desflorestação do território nacional. Para o ICNF, a presença do Esquilo-vermelho no Parque Natural de Sintra-Cascais "é uma boa notícia, por contribuir para a biodiversidade desta área protegida, e também pelo papel que desempenha na cadeia alimentar do ecossistema".

Um sucesso acidental

O aparecimento do pequeno roedor em Sintra é tanto mais feliz quanto parece ter ocorrido naturalmente. No séc. XIX, o rei D. Fernando II chegou a ordenar a reintrodução da espécie na região, mas sem sucesso. A população de esquilos que foi introduzida na altura não sobreviveu.

Atualmente, o esquilo-vermelho tem uma ampla distribuição no território nacional, mas a região de Sintra levanta dificuldades associadas ao desenvolvimento urbano, a começar pelas estradas que servem de barreiras à passagem de animais. Em Lisboa, o esquilo-vermelho pode ser avistado no Parque Florestal de Monsanto, onde foi reintroduzido nos anos 90.

Esquilo-vermelho em Monsanto
Um esquilo-vermelho no Parque Florestal de Monsanto, em Lisboa, onde foi reintroduzido nos anos 90 créditos: Pedro Neves

O esquilo-vermelho habita preferencialmente florestas de coníferas e de outras árvores que fornecem sementes comestíveis e abrigo. É uma espécie herbívora e granívora que dedica grande parte do seu tempo à procura de alimento, constituído fundamentalmente por frutos, sementes e fungos, incluindo na dieta de forma ocasional, invertebrados, líquenes, flores e ovos.

Tem um comportamento particular de ocultar alimento nos buracos de árvores e no solo, que utilizam quando a disponibilidade alimentar é mais reduzida, contribuindo desta forma para a reflorestação natural. Em Portugal, as sementes de coníferas constituem o alimento mais consumido, representando 85 % da sua dieta, dos quais 75 % são de Pinheiro-bravo.

Enquanto espécie-presa, o Esquilo-vermelho faz parte da dieta de várias espécies de mamíferos e aves de rapina, contribuindo para a melhoria das condições de alimentação de várias espécies predadoras com estatuto de ameaça, salientando-se a Águia-de-Bonelli (Aquila fasciata), Águia-calçada (Hieraaetus pennatus), Bufo-real (Bubo bubo), Açor (Accipiter gentilis) e de espécies que, não estando ameaçadas, são raras em Sintra, como a Fuinha (Martes foina). Por esta razão, a recolonização natural da serra de Sintra por esta espécie, a concretizar-se com sucesso, representará também uma vantagem para a conservação de espécies ameaçadas.