A pintura rupestre de um grande javali e três figuras humanas em seu redor será a obra de arte mais antiga do mundo, com cerca de 51.000 anos, segundo uma equipa de cientistas.

A descoberta arqueológica foi anunciada pelo grupo que, em 2019, já havia encontrado a pintura de uma cena de caça numa outra caverna próxima, então estimada em 44.000 anos.

Este novo achado, feito com pigmentos de cor vermelha, "é a evidência mais antiga de uma narrativa", afirma à AFP Maxime Aubert, arqueólogo da Griffith University, na Austrália.

"É a primeira vez que ultrapassamos a barreira dos 50 mil anos", acrescentou o co-autor do estudo publicado na revista científica Nature esta quarta-feira (3).

"A nossa descoberta sugere que a narrativa de histórias era uma parte muito mais antiga da história da humanidade... do que se pensava antes", disse outro autor, o arqueólogo Adam Brumm.

Novo método de datação por laser

Para estabelecer a data da pintura, os investigadores adotaram um novo método que utiliza uma combinação de lasers e avançados algoritmos. É uma técnica de ablação a laser mais precisa, fácil, rápida, barata e que requer amostras de rochas muito menores do que o método anterior de datação por urânio, explicou Aubert.

A equipa de cientistas aplicou esta nova tecnologia a laser numa pintura ainda sem datação encontrada numa caverna da ilha de Sulawesi, na Indonésia, identificada em 2017, tendo chegado à conclusão de que tinha pelo menos 51.200 anos, superando o recorde anterior.

A pintura, em mau estado de conservação, mostra três pessoas cercando um javali.

"Não sabemos exatamente o que eles estão a fazer", admitiu Aubert.

Para ele, as pinturas provavelmente foram feitas pelo primeiro grupo de humanos que se deslocou pelo Sudeste Asiático antes de chegar à Austrália, há cerca de 65.000 anos.

"Provavelmente é apenas uma questão de tempo até encontrarmos amostras mais antigas", acrescentou.

Mistério

Os humanos evoluíram pela primeira vez na África há mais de 300 mil anos.

As primeiras imagens conhecidas feitas pela humanidade são linhas simples e desenhos em cor ocre, encontrados na África do Sul, com cerca de 100.000 anos.

Há uma "enorme lacuna", todavia, na arte humana até as pinturas rupestres indonésias, 50.000 anos depois, afirmou Aubert. "A questão é: por que razão não estão por todo o lado?", diz.

Uma teoria é que a arte noutros locais não sobreviveu a todos estes milénios. Outra é que a arte pré-histórica ainda pode estar por aí, à espera de ser descoberta.

Anteriormente pensava-se que a primeira arte narrativa havia surgido na Europa. Uma estátua do "homem leão" encontrada na Alemanha tem cerca de 40.000 anos.

A data atribuída a esta arte rupestre indonésia é "bastante provocante" porque é muito mais antiga do que o que foi encontrado noutros lugares, incluindo a Europa, disse Chris Stringer, antropólogo do Museu de História Natural de Londres.

Stringer, que não esteve envolvido na investigação agora divulgada, disse que as descobertas por esta experiente equipa parecem ser sólidas, mas precisam de ser confirmadas por mais datações.

"Na minha opinião, esta descoberta reforça a ideia de que a arte figurativa foi produzida pela primeira vez na África, há mais de 50.000 anos, e o conceito se estendeu à medida que a nossa espécie se dispersou", afirmou à AFP.

"Caso isto esteja certo, ainda falta descobrir muitas outras evidências de apoio noutras partes do globo, incluindo África...", conclui.