Como gerir as expectativas no Sudeste Asiático

Texto e fotografias por Laura Silva

É fácil cair na armadilha de idealizar uma viagem, especialmente quando somos constantemente expostos a relatos entusiastas de outros viajantes. Acreditamos que a nossa própria experiência será necessariamente tão gratificante quanto a deles, sem considerar as nuances e desafios que cada jornada pode trazer.

Quando comecei a planear o meu gap year, fiz aquilo que provavelmente a maior parte das pessoas fazem: procurar informação em blogues, vídeos, podcasts, livros... Dei por mim já no fundo de uma via só de ida, imersa no mundo das viagens: comecei a seguir criadores de conteúdos, a ser ouvinte assídua de alguns podcasts e todo o feed das minhas redes sociais estava cheio de conteúdo de viagens. Era diariamente bombardeada com testemunhos de pessoas que diziam que ter vindo viajar foi a melhor decisão que fizeram na sua vida e que apenas desejavam poder viajar para sempre, ou que diziam que tinham zero arrependimentos em relação à sua própria decisão de terem vindo sozinhos viajar. Rapidamente dei por mim a romantizar toda a ideia do gap year e coloquei as minhas expetativas no céu.

Embarquei no avião com essa ilusão de que um ano sabático é a resposta a todos os meus problemas, que me vai salvar de todas as minhas inquietações e que vou ser mais feliz que nunca durante este ano. Coloquei imensa pressão em mim mesma e na viagem em si, e esse foi o meu primeiro erro.

Bangkok foi uma casa para mim durante duas semanas e meia. Fiz parte de um projeto de Work Exchange, a trabalhar numa escola internacional de artes. Começava às 8h e saía por volta das 14h/15h e tinha o resto do dia para explorar e deambular pela cidade. Então era por volta dessa hora que começava a minha busca intensiva por respostas, pelo êxtase que eu identificava nas expressões das pessoas que publicaram as suas experiências nas redes sociais, e procurava transportá-la para a minha própria experiência.

Bangkok
Lumphini Park, Bangkok créditos: Laura Silva

Chegava a casa no final do dia cansadíssima, mas mesmo assim forçava-me a escrever diariamente sobre tudo aquilo que tinha aprendido. Já teria encontrado as minhas respostas? Já teria solucionado os meus problemas? Mas não: Bangkok fez-me perceber que estar a 10 mil quilómetros de distância de casa não significa estar a 10 mil quilómetros de distância dos meus problemas. Eles afinal vieram na mala, comigo, e eu não estava a viver uma experiência tão incrível quanto esperava porque não soube gerir as minhas expectativas em relação ao poder transformador de um gap year. Em vez disso, perguntava-me todos os dias "o que é que estás aqui a fazer?".

Vim para Chiang Mai entusiasmadíssima por conhecer uma nova cidade e por começar a entrar no ritmo do backpacking: conhecendo novas pessoas, vivendo num hostel, estando menos tempo em cada local e, portanto, tendo dias mais intensos de exploração… Mais uma vez, má gestão de expectativas: adorei a cidade de Chiang Mai, mas eu não fui capaz de a espremer até ao seu núcleo, como queria ter feito, por ainda me sentir perdida e constantemente assoberbada por dúvidas e problemas vindos de casa.

Sentia-me perdida e sem motivação, pois pensava que era a única que vivia esta experiência, supostamente tão incrível, desta forma. Mas conforme fui conhecendo outros viajantes, apercebi-me que não estava sozinha na minha procura por respostas, com as minhas dúvidas e inseguranças. Descobri que a comunidade de viajantes é acolhedora e solidária, pronta para partilhar histórias e experiências sem julgamentos. Ao contar a minha história e o meu contexto, ninguém questionava as minhas motivações ou a razão pela qual eu estaria no sudeste asiático: porque haveria eu própria de questionar?

A partir do momento em que fui capaz de retirar todo esse peso de cima desta viagem, deste gap year, fiquei mais livre, mais leve. Já podia passar um dia só a descansar e a passear à volta do quarteirão sem me sentir culpada por não estar a viver ao máximo; já podia não gostar de uma cidade sem me sentir mal por não estar a aproveitar a experiência; já podia dizer que estou feliz ou triste sem sentir que deveria estar a sentir-me de outra forma.

Laos
Miradouro de Nam Xai em Vang Vieng, Laos créditos: Laura Silva

 O Laos foi o país onde estive depois e foi onde fui mais feliz desde que comecei a viajar. As pessoas que conheci, as paisagens que vi e as aventuras que vivi são atualmente memórias de semanas onde sorri e ri a toda a hora, sozinha ou acompanhada, com sol ou chuva. O Laos terá sempre um lugar especial no meu coração porque foi o país onde eu aprendi o que é ser viajante, o que é estar sozinha num país diferente e o que, no fundo, é ser um gapper.

Ao identificar e corrigir o meu primeiro erro - má gestão de expectativa - as respostas que procurava começaram a revelar-se naturalmente. Não precisei mais de as procurar, elas simplesmente surgiram ao longo do meu caminho. Descobri que as maiores lições de uma viagem não estão nos destinos que visitamos, mas sim nas jornadas pessoais que empreendemos.

Laura Silva, com 18 anos, vai viajar durante 7 meses pela Ásia, onde promoverá a igualdade e o feminismo, assim como o apoio e integração a comunidades locais. Podem acompanhar o seu projeto, intitulado "Era uma vez", no SAPO Viagens e no instagram.