“Hey, thank you, está ótimo. Espera, perdi-me”. Noto que várias pessoas estão por perto e que ela vai sendo interpelada. Quem conhecer a Beatriz, sabe que terá os melhores momentos de conversa com esta portuguesa. E sem olhar para o relógio. Mas assertividade também é com ela. Por exemplo uma coisa que a Beatriz Caetano (@beatrizccaetano) não gosta no México: a obrigatoriedade de dar gorjetas. Isto lembrou-me logo o estilo norte-americano. Muito típica essa prática, mas também de países da Europa Central tal como Áustria. Entre um café e um momento de viagem, a gorjeta ‘obrigada’, por vezes, cai mal no estômago. Também o acho. Senti isso na Áustria e em Guatemala.

Comenta e sublinha que é mais feliz no México do que no país anterior onde esteve nesta sua jornada pelo mundo que dura desde janeiro. Peço-lhe detalhes nesta entrevista-viagem. Agora fala-me das mulheres e das crianças. Uma intromissão cómica no nosso diário de bordo: “um gato saltou de surpresa para a mesa”- continua - “as mulheres muito simpáticas, nada territoriais e as miúdas pequeninas sempre a olhar para mim… deve ser porque sou loirinha”. Bem, minha querida e não só as crianças, pois de repente um rapaz ficou pasmado a olhar para ela. Como o sei? Como escritora e boa ouvinte noto cada pista do comportamento… no áudio dela. Como diário que já se prolonga há dois meses: ouço momentos que ela não se apercebe, mas que são permitidos aqui. Que são esperança como um búzio bom de se ouvir, sorrateiramente. O que nesta viagem é tão interessante é o facto da Bia ir falando comigo como se eu estivesse ali sentada com ela. A qualquer hora, no mesmo fuso, na mesma energia.

E praias? “Areia branca parece farinha, búzios não, muitas algas, a água é limpa. Transparente e quente. Ultimamente a areia está mexida pelo vento”. Adorei esta descrição. E a água despertou mesmo a atenção da Bia porque ela sublinha a sua luz cristalina várias vezes.

Souvenirs? Ela reserva à sua mãe um colar de pedra vulcânica [mãe da Bia já sei que se tornou ávida leitora do SAPO, graças à filha fugida no mundo… mas que não leia apenas este artigo] e comenta em jeito de quem perdeu a contagem dos dias “eu nem sei quando volto, quanto mais!”. Que felicidade esta de dispersão pelo tempo enquanto nós andamos a fazer contagens decrescentes. Ainda continua a falar, embriagada pelas praias: “Na praia vendem de tudo, amiga – continua a portuguesa enquanto toma um pequeno-almoço gostoso - bebidas, cadeiras, roupa de todo o tipo - e já gastei imenso dinheiro com eles [os vendedores].”

O que sabem de Portugal? Confundem com Brasil! E a que nos associam: Cristiano Ronaldo. A Bia considera que eles ficam a imaginar Portugal como “se fosse Marte”. E confundem as duas variantes do português: brasileira e europeia.

Saudades de cá após quase dois meses? “Sandra, tenho tantas saudades da comida portuguesa (…) aqui também se come bem, muito à volta do picante. Mas, tenho saudades do polvo à lagareiro com batatas e azeite (…) (não escrevas isto!). Risos plenos sobre o que ‘escondemos’ nesse parêntesis.

Depois pergunto-lhe como está a mochila desde que saiu de Lisboa. Querem saber? Vale a pena.

Boa tarde Beatriz, seja qual fora a tua hora aí.