A manhã ainda parece tímida mas o dia promete

Hoje começamos a subir de barco a Ria de Arousa e a foz do Rio Ulla em direção a Pontecessures no que é conhecido como “La Translatio” em homenagem ao percurso lendário feito pela barca de pedra que trouxe as relíquias de Santiago até à Galiza.

A beleza da Ria ao amanhecer é deslumbrante e convida ao silêncio e reflexão. Vamos subindo acompanhando o trabalho da apanha do mexilhão nas bateas - viveiros flutuantes - e do berbigão nos fundos arenosos. O trabalho árduo destes pescadores inspira-nos a ser também nós esforçados nos nossos exercícios do Survival Kit. E a pureza da água - indispensável a produzir bivalves de qualidade - alimenta a pureza do trabalho interno que o Survival Kit exige.

Esta subida de barco é um momento de descanso merecido. E como nos aproximamos das etapas finais, começa também a trazer à tona o que de melhor fomos recolhendo nestes dias, à semelhança dos pescadores que pela sua arte e esforço vão recolhendo das areias os bivalves que asseguram o seu sustento.

A proximidade de Santiago e do fim do Camiño vão fazendo o seu efeito

Chegados a Pontecessures seguimos a pé em direção a Hebron e continuamos na margem sul do Ulla, em que almoçamos um piquenique. Pouco depois cruzamos o Rio Ulla para norte para a nossa estadia deste dia, mais curto mas muito intenso.

Na Casa Marcelo somos acolhidos pelo Manuel e pela Dolores que sabem realmente o que significa acolher - a simplicidade só faz com que a qualidade de tudo brilhe ainda mais. A proximidade de Santiago e do fim do Camiño vão fazendo o seu efeito e as gargalhadas dos miúdos vão contagiando os graúdos. Sentimo-nos todos em casa e a cumplicidade entre os participantes parece de anos, apesar de só termos começado esta aventura há 6 dias.

O despertar no último dia de caminhada é vibrante com a expectativa da chegada à meta. Aqui optamos mais uma vez por um caminho que evita os caminhos marcados e as multidões que podem abafar a verdadeira experiência do Camiño. Entramos em Santiago através de bosques e todos bem frescos para saborear ao máximo este momento. O troço final, tal como o 1º deste camiño, é feito por cada dupla de pai/mãe e filho(a) - afinal é sobre esta relação que andamos a trabalhar a semana inteira.

A chegada ao Obradoiro é sempre um momento muito especial - o km 0 que tanto marca o fim do caminho como o início do próximo. Porque o fim é sempre o principio de algo novo e o trabalho que fizemos sobre a relação só produz efeito se for posto em prática no dia-a-dia os participante são encorajados a usar o tempo livre até ao jantar e no dia seguinte para o que quiserem fazer em conjunto.

walking mentorship
créditos: Nuno Fernandes

O jantar, cozinhado pelas crianças, é o momento de fecho do programa

As emoções estão à flor da pele e as partilhas refletem a verdadeira profundidade da semana vivida. Muito mais que umas férias, esta semana foi vivida plena e intensamente no momento. E todos já sentimos as saudades do cansaço e das dorzinhas do Camiño, e também das alegrias, das conquistas, das superações e gargalhadas. Entre brindes e risos, partilhas e cumplicidades rolam também algumas lagrimas. Cada um retira desta experiência exatamente o que precisa e está preparado para levar para a sua vida. E é claro para todos que os efeitos desta semana que mais pareceu um mês se vão fazer sentir por muito mais tempo.

Eu já me estou a preparar para voltar a este Camiño no final de agosto, desta vez com o meu filho mais velho que vai para a universidade no estrangeiro, e com quem quero partilhar esta transição da adolescência para a idade adulta neste exercício tão natural mas hoje tão esquecido pela espécie humana - andar para desfrutar da paisagem e da experiência - retirando daí tantos outros benefícios.

Saiba mais sobre este programa no site Walking Mentorship