Neste nosso caminho avistamos o lago Bileća, o segundo maior reservatório artificial dos Balcãs e criado em 1968, aquando da construção da barragem Grančarevo no rio Trebišnjica. O lago esconde todo um universo subterrâneo de histórias e segredos, ou não tivesse há mais de meio século afundadas as aldeias de Panik, Orah, Čepelica, Zadublje e Miruše, incluindo um famoso lugar arqueológico romano chamado Leusinium ou o Mosteiro Kosijerevo, e por este motivo um dos lugares mais procurados por mergulhadores.

Durmitor, Montenegro : O amor, o grande truque da natureza
créditos: Viajário Ilustrado

Uma paragem era necessária para esticar as pernas e sossegar a barriga do Viajante X, pelo que decidimos encostar num restaurante à beira da estrada nacional chamado Starevina, pouco depois de atravessar a fronteira por Bileća. Ali fomos recebidos por um simpático senhor de nome Angelko, ou pelo menos do que percebemos. Não falando ele absolutamente nada de inglês, e tendo em conta que o nosso montenegrino estava, um tanto ou quanto “enferrujado”, lá por gestos nos entendemos, sendo que o maior desafio esteve relacionado com a sopa do Viajante X.  Não por quaisquer problemas de comunicação, nem sequer por falta de micro-ondas, mas sim por ausência de eletricidade! Mas porque “a necessidade aguça o engenho”, entre um fogão e uma botija de gás, o X lá se safou, enquanto nós bebemos um dos piores cafés de sempre! Mas tal a boa vontade do senhor que até nos ofereceu os seus aposentos para ali passarmos a noite, algo que tivemos de recusar ou não estivesse à nossa espera a maravilhosa família do Etno Village Vojnik, pelo que seguimos em direção a Niksic.

Nesta região são tradicionais as cabanas de madeira, pequenas estruturas em formato de “V”, construídas com recurso à abundante madeira por ali existente. A sua dimensão poderá variar, indo desde uma estrutura pouco maior que uma tenda de campismo, onde apenas cabem uma ou duas camas de solteiro, até um pequeno chalet, com uma varanda, sala, casa de banho no rés-do-chão, e camas no andar superior. Super simples, e perfeito para descansar!

Já perto do nosso destino final, acabamos por visitar Žabljak, a cidade mais alta dos Balcãs, a 1450 metros de altura, sendo um centro turístico de montanha do país, amplamente procurado por amantes de desportos de inverno e entusiastas da natureza, uma vez que se encontra no Parque Nacional Durmitor. Neste acabamos por visitar o deslumbrante Crno Jezero, ou Lago Negro, um dos 18 lagos glaciares existentes em Durmitor, apelidados de Olhos das Montanhas. Este é formado por dois corpos de água: Veliko Jezero e Malo Jezero (Lago Grande e Pequeno, respetivamente), que estão ligados por um pequeno estreito que seca no verão.

Mas a verdade é que se os pais não viam a hora de encostar o carro, e apreciar os produtos caseiros fantásticos do Etno Village Vojnik, o Viajante X, um amante incontestável da natureza e de animais, estava sim inquieto para chegar aquele alojamento rural absolutamente adorável, pronto a entregar-se à vida de campo. Porém, ficou certo por estes dias que “o amor está em toda a parte da natureza, como emoção, mas também como recompensa” (Ralph Waldo Emerson), ou não tivesse o X encontrado colo, a dobrar, nas bonitas e doces irmãs gémeas Milena e Milica. Será caso para dizer: Ainda agora aqui cheguei, e não sei como vou conseguir partir…

Durmitor, Montenegro : O amor, o grande truque da natureza
Viajário Ilustrado créditos: Viajário Ilustrado