Antes de entrar no território de “nuestros hermanos”, vindo de Elvas, opto por fazer uma paragem num peculiar marco de fronteira: a histórica Ponte da Ajuda. Este exemplar da arquitectura manuelina – militar e civil – era o único meio de comunicação, no rio Guadiana, entre Elvas e Olivença. Daí, a sua destruição no contexto da Guerra da Sucessão Espanhola (1701-1714).

Há projectos para a sua reconstrução, mas em virtude das querelas fronteiriças entre Portugueses e Espanhóis, tal não foi possível ainda. Assim, entre 1709 a 2001, quem quisesse visitar Olivenza, teria de passar a fronteira do Caia em Badajoz.

Ponte da Ajuda
Ponte da Ajuda créditos: OLIRAF

Actualmente, o viajante pode transpor, sem qualquer dificuldade, o território português, graças à nova ponte da Ajuda, em betão armado e sem qualidade estética da anterior, construída e financiada integralmente pelo Governo de Portugal.

Olivença
créditos: OLIRAF

Porquê a escolha da (des)conhecida Olivenza?

São muitos, e todos eles merecedores de atenção, os “Castillos” existentes ao longo da fronteira luso-espanhola, bem como em todo o Reino de Espanha. Há centenas deles. Isto se acrescentarmos também as fortalezas que entretanto se fundiram no seio da arquitectura militar medieval, nomeadamente Ciudad Rodrigo, Badajoz, entre outras.

Olivença está próxima das cidades de Badajoz e de Elvas, bem no centro da antiga província romana da Lusitânia, na actual comunidade autónoma espanhola da Extremadura. Não vem nos roteiros turísticos ou guias de viagem tradicionais, como a cidade de Badajoz, mas não precisava de tal distinção para merecer uma visita. É aqui que encontramos um dos maiores e preservados “Castillos” da região fronteiriça luso-espanhola. Todavia, a riqueza não é apenas histórica e arquitectónica, mas também paisagística. Dentro do seu acolhedor centro histórico, começamos logo por descobrir histórias, pedras e símbolos familiares, de origem portuguesa.

Olivença
créditos: OLIRAF

Sem recurso a mapas, uma vez que o posto do Turismo estava fechado (a famosa hora da "siesta"), aproveitei para “mergulhar” em pleno coração da cidade e nas artérias do “Casco Histórico”, onde, no meio do mesmo, ergue-se a silhueta do imponente Castillo de Olivenza.

Ao percorrermos as ruas encontramos vários edifícios com arquitectura manuelina e placas toponímicas, em azulejo, com os nomes em português e castelhano, inúmeras chaminés alentejanas misturadas com portas e janelas cobertas de grades de ferro forjado espanhol. Constatamos, através destes exemplos, que Olivenza é fusão de cultura luso-espanhola, fruto de uma longa história secular de ocupação portuguesa e espanhola. De facto, este é um lugar para (re)encontrar-se.

A Igreja de Santa Maria Madalena é um dos testemunhos vivos de um dos períodos mais fascinantes e ricos da História de Portugal: os descobrimentos. Segundo o Turismo de Olivença, a Igreja de Santa Maria Madalena é considerada o ex-libris de Olivenza. E, pelo exterior, apercebemos-nos desta atribuição. Trata-se de uma das mais belas obras arquitectónicas e estéticas da arte manuelina, tipicamente portuguesa, logo a seguir ao Mosteiro dos Jerónimos.

Igreja de Santa Maria Madalena
créditos: OLIRAF
Igreja de Santa Maria Madalena
créditos: OLIRAF

Deambulando pelas ruas, o viajante depara-se com um portal invulgar. Trata-se do singular portal em estilo manuelino do Palácio dos Duques do Cadaval, localizado no actual edifício do Ayuntamento. Ainda hoje, este portal é o símbolo identificativo desta cidade extremenha. Num olhar mais atento, o viajante pode identificar a Esfera Armilar e Cruz de Cristo, ambas símbolos das aventuras ultramarinas dos Portugueses durante os séc. XV e XVI. Ainda nas proximidades, a Praça de Espanha é um locais onde podemos encontrar e usufruir de um belo espaço de lazer e convívio, onde existe calçada típica portuguesa a dar forma e cor.

A impressionante Ciudadella e um pouco de história

O Castelo Medieval de Olivença, vulgo “Ciudadella”, é um excelente testemunho da herança do património edificado pelos portugueses. O que mais impressiona é a monumentalidade e a escala da sua “Ciudadela”. Mandado construir, em 1306, pelo rei D.Dinis (1279-1325), no seguimento da afirmação fronteiriça face ao reino de Castela com a assinatura do Tratado de Alcanises (1297), que, em 1298, outorgou foral à povoação portuguesa.

Mais tarde, em 1335, no reinado de D.Afonso IV (1325-1357), as obras foram retomadas com a exporpiração de casas em redor da povoação, tendo em vista a sua edificação do conjunto fortificado constituído por um traçado rectangular e dotado de uma imponente torre de menagem de planta quadrada, seguindo o modelo dos antigos acampamentos romanos (quadrilátero). No fim de cada eixo, abriam-se as portas de São Sebastião (Norte), dos Anjos (Sul), da Graça (Poente) e de Alconchel (Leste). As portas de Sul e Lestes possuem torres semi-circulares, conservando, ainda hoje, os apoios de matacão e os buracos para a tranca para fechar a porta. Ao todo, o castelo era constituído por 14 torres com 3 metros de largura e 12 de altura. É obra!

Castelo Medieval de Olivença
créditos: OLIRAF
Torre e Menagem de Olivença
créditos: OLIRAF

O que também impressiona o viajante é a Torre e Menagem de Olivença, mandada construir por Dom João II (1481-1495), em 1488, para afirmar a autoridade do “Príncipe Perfeito” face aos Reis Católicos de Castela, Isabel de Castela e Fernando de Aragão. Com uma carga simbólica, esta é a torre medieval mais alta da fronteira, com cerca de 40 metros, sendo acessível por 17 rampas até ao topo. Daqui, contemplamos a paisagem em redor e a monumentalidade de Olivença, o que demonstra a sua importância histórica, política e militar para o antigo Reino de Portugal, face a Castela. Afinal, foram mais de cinco séculos como território de Portugal. Através deste exemplo, podemos comprovar que as fortalezas medievais eram formas de ostentação social, económica, militar e de autoridade dos seus senhores.

Durante a Guerra da Restauração (1640-1668), Olivença foi palco de diversas escaramuças e cercos durante os 28 anos em que durou esta guerra de independência. As muralhas medievais foram reforçadas por revelins e baluartes adaptados às novas exigências e estratégias de combate, obras desenhadas pelo padre jesuíta Cosmander. Em caso de assédio ao território nacional, Olivença estava na primeira linha das operações contra os Castelhanos, mas estava num plano secundário face à importância das fortificações abaluartadas de Juromenha e Elvas. Em 1657, as tropas castelhanas comandadas pelo Duque de San Germán conquistaram a vila ao Reino de Portugal. Mais tarde, em 1668, Olivença foi devolvida a Portugal com a assinatura das Pazes de Lisboa (1668).

Olivença
Portal em estilo manuelino do Palácio dos Duques do Cadaval créditos: OLIRAF

Durante a Guerra de Sucessão Espanhola, em 1709, Olivença foi novamente palco de escaramuças, um facto comprovado pela destruição da Ponte da Ajuda pelas tropas de Felipe V de Bourbon. Em Maio de 1801, o exército espanhol conquista “pacificamente” a vila fronteiriça de Olivença. Conhecida como a “Guerra das Laranjas”, como afirmou o historiador e comunicador José Hermano Saraiva, um simples ramo de uma laranjeira foi única vitima desta Guerra, visto que o “primeiro-ministro” Manuel de Godoy ofereceu à rainha Maria Sofia.

Perdia-se, para sempre, Olivença. Todas as outras vilas conquistadas foram devolvidas ao Reino de Portugal. E foi, assim, que começou a “eterna” Questão de Olivença. Sabia que Manuel de Godoy (1767-1851), o príncipe da paz, era Conde de Évora-Monte em Portugal? Uma das muitas curiosidades da nossa História que tive oportunidade de comprovar ao visitar o património edificado na vila fronteiriça de Olivença.

O que pode fazer:

1. Se gosta de fotografia de paisagem, o melhor será subir ao topo da Torre de Menagem e contemplar o meio envolvente. Daqui poderá avistar Elvas, Juromenha e Alconchel;

2. Comprar caramelos nas inúmeras lojas locais;

3. A caminho de Olivença, poderá visitar as ruínas da ponte manuelina da Ajuda;

4. Visitar o Castelo de Alconchel, a poucos quilómetros de Olivença;

5. Sugerimos uma visita ao Museu Papercraft, junto à Ciudadela, o único museu de papel de Espanha e da Europa.

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Artigo originalmente publicado no blogue OLIRAF

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