Os pilotos continuam a evitar o Triângulo das Bermudas ou o mistério já foi resolvido?
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Também se diz que é o Triângulo do Diabo pois nesta área já desapareceram barcos e aeronaves de forma misteriosa, o que inspirou teorias da conspiração, filmes e livros.

O Triângulo das Bermudas, uma área de 500 mil quilómetros quadrados entre as Bermudas, Porto Rico e Miami, era assim um dos grandes mistérios da humanidade.

“Durante grande parte da segunda metade do século XX, era impossível fazer zapping na televisão sem encontrar pelo menos um documentário sobre o Triângulo das Bermudas”, recorda com ironia, no IFLScience, James Falton, autor de livros como “52 Times Britain was a Bellend”, “Sunburn” e  "You Don’t Want to Know".

Porém, o mistério que fascinou o mundo durante décadas começou a perder peso à medida que os desaparecimentos começaram a ser explicados pela ciência.

A probabilidade de barcos e aeronaves terem sido levados por extraterrestres ou de existirem portais para outras dimensões tornou-se quase nula para desilusão de muitos.

Entre as várias teses científicas que foram surgindo, a descoberta, em 2016, da existência de nuvens hexagonais na região – que podem causar “bombas de ar” capazes de derrubar aviões e barcos – pareceu resolver o mistério.

Mais recentemente, um cientista sueco de 74 anos a residir na Austrália, Karl Kruszelnicki, acredita que encontrou a resposta definitiva. O cientista defende que os barcos e aeronaves desapareceram sem deixar rasto devido à proximidade com o Equador e os Estados Unidos. De acordo com a tese do Kruszelnicki, isto indica que "há muito tráfego".

Muito fascínio, pouco mistério

De forma a desmistificar e a sustentar a sua teoria, Kruszelnicki também olhou para dados estatísticos. “De acordo com a [seguradora] Lloyd’s de Londres e a Guarda Costeira dos EUA, o número de desaparecimentos no Triângulo das Bermudas é o mesmo que em qualquer outra parte do mundo", partilhou ao As.com .

Citada pelo Travel and Leisure (T& L), a Marinha dos EUA estima que tenham sido cerca de 50 navios e 20 aeronaves a desaparecer nesta área. Apesar dos números, nenhum dado revela que os desparecimentos sejam mais prováveis neste local. 

Por explicar estão o desaparecimento do voo 19, em 1945, e o do USS Cyclops, em 1918. Ainda assim, o Triângulo das Bermudas não se encontra no top 10 das águas mais perigosas para o transporte marítimo. Existe ainda um documentário britânico, do Channel 4, que ao analisar incidentes ao redor do Triângulo das Bermudas concluiu que "um grande número de navios não se tinha afundado lá".

Triângulo das Bermudas
Triângulo das Bermudas

Devemos ou não ter medo de passar por esta área?

De acordo com a Administração americana Nacional Oceânica e Atmosférica (ANOA), a maioria das explicações científicas incluem as muitas tempestades tropicais e furacões que passam por esta área e a Corrente do Golfo, que podem causar mudanças repentinas e extremas no clima.

A ANOA admite a hipótese de existir uma "anomalia geomagnética particular nesta área que possa fazer com que a navegação de um navio ou avião aponte para o norte 'verdadeiro' ao invés do magnético", o que pode levar a falhas na navegação. Contudo, este tipo de anomalia não acontece só nesta área e regista-se em várias partes do mundo. 

Tal como explicado pela T& L, a área do Triângulo das Bermudas é entendida como tendo mais desaparecimentos ou acidentes trágicos do que outras partes do mundo, contudo, tal não corresponde à realidade. 

Quanto à ideia de que os pilotos evitam sobrevoar esta área do oceano, também está errada. Se assim fosse, quase ninguém conseguiria passar férias nas Caraíbas. Quem não ficar convencido, pode espreitar o Flightradar24 que mostra vários voos a passar no Triângulo das Bermudas. 

O controlo do tráfego aéreo também acompanha os voos para que, em caso de falha, os pilotos tenham ajuda e antes de um avião levantar voo, analisam-se as condições meteorológicas. 

Deste modo, se algum piloto evitar atravessar esta área será mais por por acreditar em superstições ou no sobrenatural, uma vez que, do ponto de vista científico, não existem razões para considerar que há maior probabilidade de ter um acidente se passar pela zona do Triângulo das Bermudas do que por outra área.