A BBC descreve o Saara de há 10 mil anos, no norte de África, como uma região de savanas e pradarias com alguns bosques, lar de caçadores e coletores que viviam de vários animais e plantas, graças aos lagos e à chuva abundante.

Ao olharmos hoje para o Saara, o maior deserto quente do mundo, custa-nos imaginar que ali já choveu de forma abundante.

Com base em alguns estudos publicados nas últimas décadas, identificamos dois lugares do mundo atual que nos aproximam do Saara de há 10 mil anos e que nos dão uma ideia de como era o clima e a vegetação desta região nesse tempo.

Sahel

Sahel
Sahel créditos: Olivier Bory | Pixabay

A vegetação do Saara pode ter sido semelhante com a da atual região sul do Senegal, de acordo com Francesco Pausata, climatologista da Universidade de Estocolmo que, em conjunto com as universidades de Columbia e do Arizona, analisou a sedimentação marinha no norte da África à procura de um padrão de chuvas.

O Senegal, na costa oeste da África, faz parte do Sahel, uma faixa de 500 a 700 quilómetros de largura, em média, e 5,4 mil quilómetros de extensão, protegida por um cinturão verde de flora altamente diversificada, que a protege dos ventos do Saara.

É uma zona de transição entre o deserto do Saara no norte e a savana sudanesa no sul, que se estende do oceano Atlântico até ao mar Vermelho.

O Sahel atravessa a Gâmbia, o Senegal, a parte sul da Mauritânia, o centro do Mali, Burkina Faso, a parte sul da Argélia e do Níger, a parte norte da Nigéria e de Camarões, a parte central do Chade, o sul do Sudão, o norte do Sudão do Sul, a Eritreia, a Etiópia, o Djibuti e a Somália.

Serengueti

Serengueti
créditos: Pixabay

Outros investigadores, como David McGee, acreditam que a vegetação era mais densa, com árvores e lagos. Citado pela BBC, David McGee, professor do departamento de Ciências Atmosféricas, Planetárias e da Terra do Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos, não tem dúvidas quanto a densidade da vegetação. Segundo este professor, "a evidência fóssil e de pólen é bastante evidente".

O lugar que melhor define o Saara de outros tempos? Para McGee, Serengueti, no norte da Tanzânia e sudoeste do Quénia, que abriga a maior migração animal de mamíferos do mundo.

McGee defende esta teoria com base nos fósseis encontrados de grandes animais que hoje não vemos nesta região como crocodilos, elefantes e hipopótamos e nas pistas deixadas pelos assentamentos humanos que indicam que existiu ali uma grande fauna. O investigador recorda a arte rupestre que ilustra girafas no meio do Saara e os antigos anzois que se encontraram por ali. Verificamos que o estilo de vida era diferente daquele que é possível existir naquela área do deserto nos nossos dias.

Saara, de mar profundo a árido deserto

Em 2019, um estudo revelou que, há mais de 50 milhões de anos, existiam peixes-gato de 1.6 metros e cobras marítimas que ultrapassavam os 12 metros.

Diz-nos a autora da investigação, Maureen O'Leary, que, nos períodos Cretáceo e Paleolítico, os animais experienciaram o gigantismo.

Mas como é que isto aconteceu no maior deserto do mundo? Nessa altura, o areal do Saara era coberto por um mar de 3 mil quilómetros quadrados com a água a atingir mais de 50 metros de profundidade. Era aí que viviam as cobras marítimas e os peixes-gato gigantes.

As conclusões de O'Leary vão de encontro à tese de McGee. Segundo a cientista, o leite marítimo do Saara era preenchido por moluscos, plantas e árvores. As reconstruções paleontológicas de fauna da investigação de Maureen O'Leary mostraram uma floresta rica e verde. Há milhões de anos, conforme o estudo, encontravam-se no Saara algumas das maiores espécies aquáticas do mundo e inúmeros predadores. A água do mar seria quente.

De acordo com este estudo de 2019, o mar do Saara ficava entre as atuais Argélia e Nigéria, estando, por isso, isolado de outros canais de água, distante de predadores e com muitos recursos para os animais. Em conjunto, estes fatores permitiram o crescimento das espécies.

De acordo com a CNN, o Saara dos nossos dias foi formado há cerca de sete milhões de anos, depois de uma falha nas placas tectónicas ter “fechado” a região dos mares que o envolvia.

Atualmente, as temperaturas no Saara, que fica no continente africano, podem chegar aos 50 graus.

Na lista das maiores regiões desérticas, o Saara só fica atrás da Antártida e do Ártico. No total, são 9,2 milhões de quilómetros quadrados de extensão.