Quando pensamos num oásis, imaginamos algo semelhante ao que nos habituamos a ver na sétima arte: um pequeno paraíso com vegetação exuberante, árvores de frutos, aves exóticas, lagos e belas quedas d’água. Porém, se a nossa imaginação partisse do zero, era possível que o nosso oásis fosse semelhante ao Dubai, capital do Emirado com o mesmo nome.

O Dubai desenvolveu-se a partir de 1973 com a descoberta do petróleo e, rapidamente, posicionou-se como um importante centro económico do mundo.

Foi a necessidade de atrair mão-de-obra para o território desértico que criou a oportunidade de construir uma cidade moderna, futurista, hoje habitada por pessoas de diferentes nações.

A cidade mais populosa dos Emirados Árabes Unidos é um produto dos nossos tempos, um oásis moderno que atrai amantes de luxo e turistas de todo o mundo.

Assim, para compreender a evolução do Dubai e tanto da sua extravagância, vale a pena explorar o Emirado para lá dos arranha-céus e do centro urbano e, felizmente, ainda é possível ter uma perceção de como viviam os beduínos na região.

Neste sentido, fomos até ao deserto com a Platinum Heritage que é também uma espécie de guardiã da Reserva de Conservação do Deserto do Dubai.

Deserto Dubai
créditos: Ana Oliveira

A Reserva de Conservação do Deserto de Dubai foi o primeiro parque nacional a ser criado nos Emirados Árabes Unidos. Nasceu para proteger espécies em vias de extinção e para a conservação do habitat e património natural do deserto.

As empresas a operar dentro da Reserva realizam excursões de dunas em rotas pré-determinadas de forma a não destruirem habitats. Cerca de 95% dos animais do deserto vivem debaixo de areia.

Encontre mais informação aqui.

A Platinum, a única empresa de ecoturismo a operar no deserto do Dubai, distingue-se de outras operadoras turísticas por ser a única naquele deserto a utilizar apenas energia solar no acampamento.

A empresa também contribui financeiramente para a Reserva e promove espetáculos tradicionais, ao invés da dança do ventre, que, embora seja um espetáculo bonito, não faz parte da cultura dos Emirados Árabes Unidos.

A operadora aposta ainda numa cozinha tradicional e autêntica e uma das suas iguarias pode causar estranheza a quem vem do Ocidente, mas já lá vamos.

Os passeios com a Platinum são, igualmente, lições sobre a fauna e a flora do deserto.

 Safari sustentável: a noite no deserto do Dubai em que nos sentimos beduínos e comemos carne de camelo
Guia a mostrar-nos a árvore Ghaf. Esta é uma árvore tolerante à seca e essencial para a sobrevivência tanto de espécies animais como de vegetais. créditos: Ana Oliveira

A Platinum Heritage é a primeira e a única empresa de safári no deserto do Dubai a oferecer passeios de vida selvagem. A subida e descida de dunas em alta velocidade (dune bashing) são a principal causa de desertificação severa, uma degradação ambiental onde a vegetação do deserto e a vida selvagem são perdidas.

As emoções que sentimos nesta experiência não derivam da adrenalina que nasce por se andar a alta velocidade num veículo todo-o-terreno ou por se subirem dunas, mas sim das novas descobertas: seja porque avistámos um órix-da-arábia ou porque, de repente, vemos um cervo a passar a correr ou até, porque, afinal, descer de um camelo pode ser mais emocionante do que esperamos à partida (que aventura!).

Não vão faltar emoções e novas experiências, mesmo à hora de jantar. Há que estar preparado e ter um espírito aberto pois o menu inclui leite e carne de camelo.

E, sim, também andamos de camelo.

Um safari para explorar a vida selvagem

Que o Dubai é uma cidade feita de cidadãos do mundo, já sabiamos. O que não esperamos é falar português no deserto, mas, para nosso espanto, temos um guia que fala a língua de Camões.

Tendo em conta que a empresa recebe viajantes de diferentes partes do mundo e sabendo que alguns podem não estar confortáveis com o inglês, a Platinum procura alocar guias que falem o mesmo idioma que o grupo de viajantes. Deste modo, se não se sentir confortável a ouvir e a falar inglês, informe a empresa no momento da reserva.

Embora não tenhamos solicitado um guia que falasse português, o James, que nos veio buscar ao 25 hours Hotel (unidade hoteleira onde estávamos instalados), apresenta-se em português. Que feliz coincidência, tão agradável que a viagem de cerca de uma hora da cidade até ao deserto parece menor.

Partimos do hotel às 16h horas e ficamos a saber um pouco mais sobre o nosso guia. É natural do Brasil e está a viver no Dubai há cerca de um ano e meio. O James quer ver e conhecer o mundo, por isso, vê o Dubai como mais uma paragem. E já viveu na Austrália e na Nova Zelândia. Qual será a sua próxima paragem? Não ficamos a saber.

O James desafia-nos a jogar um quiz sobre factos do Dubai durante a viagem. Também revela-nos algumas das coisas que vamos fazer no deserto.

Ao chegarmos à entrada para a Reserva, deparamo-nos com uma coleção de Land Rovers Vintage e com outros grupos de viajantes que, como nós, preparam-se para o safari. A Platinum oferece um lenço para os viajantes colocarem na cabeça e proteger do sol. As mulheres podem escolher a cor do lenço, enquanto que os homens só têm como opção lenços brancos e vermelhos.

Safari no deserto com a Platinum Heritage

O que vestir:

Recomenda-se roupa leve, confortável e comprida. Aconselha-se que use protetor solar e ande com óculos de sol.

O que levar:

Apenas o essencial. Se jantar no acampamento, pode levar um casaco pois o deserto arrefece à noite. A Platinum oferece um kit que inclui uma garrafa de alumínio com água fresca e um lenço para usar na cabeça.

Preparados, entramos no jipe vintage e seguimos para a reserva.

Logo no início da aventura, avistamos um órix-da-arábia, um animal protegido pela Reserva e que já esteve em risco de extinção. A viagem continua e somos surpreendidos por adoráveis cervos.

Ao contrário do que julgávamos, há muita vida neste deserto.

Mais à frente, vemos a entrada para um resort de luxo cuja experiência deverá ser bem exclusiva (e cara). Falamos do Al Maha.

Apreciamos também as típicas árvores do golfo pérsico, Ghaf, que pintam parte daquela paisagem feita de dunas douradas e que parecem não ter fim. Vemos ainda um lago e percebemos que sim, é possível viver no deserto, mas, tal como as tribos beduínas, é preciso saber interpretar os sinais e a natureza envolvente.

Paramos num “miradouro” para tirar fotografias e, depois, um pouco mais à frente, para assistir a um espetáculo de falcoaria e a um magnífico pôr-do-sol.

A falcoaria é uma tradição que nasceu com as tribos beduínas e o espetáculo ajuda-nos a compreender melhor a importância deste pássaro que é também símbolo do Emirado, ao lado do camelo e da palmeira.

A noite em que comemos carne de camelo

Chegamos, finalmente, ao acampamento da Platinum, onde somos recebidos com um copo de café árabe que, ao estar semicheio, indica que somos bem-vindos. Para além do café, recebemos também uma tâmara.

Antes de nos colocarmos à vontade, o James faz-nos uma tour pelo acampamento. Há a área do buffet onde podemos ver o pão a ser feito, tendas com mesas para refeição, zona lounge para assistirmos aos espetáculos tradicionais e fumar shisha aromática, quartos para quem quiser passar a noite (quando visitámos não estavam disponíveis devido ao calor), uma área para quem quiser fazer tatuagens com henna e ainda casas de banho. Junto ao acampamento, existem camelos para quem quiser dar um curto e intenso passeio.

acampamento da Platinum
Acampamento. créditos: Platinum Heritage

Começamos a refeição com uma deliciosa sopa de lentilhas e entradas com sabores orientais como Húmus, Fatuche e Quibe, sem faltar pão e Sambousek, um pastel muito popular no Médio Oriente.

Enquanto que as entradas são servidas na mesa, os pratos principais encontram-se na área de buffet. Entre as várias opções, destaca-se o tradicional Ouzi de cordeiro, que simboliza a hospitalidade da região e que mostra também como as tribos nómadas faziam uso das condições climáticas extremamente quentes.

Como tinham de viajar sem muita bagagem devido ao calor, as tribos acabaram por encontrar soluções alternativas para cozinhar, como debaixo da areia. E é assim que o Ouzi é cozinhado (e garante a sua tenrura): depois de temperado, é colocado num buraco onde fica a cozinhar durante mais ou menos seis horas. Antigamente, o processo levava mais tempo, 24 horas, mas graças à utilização de papel de alumínio (para enrolar o cordeiro), reduziu-se o tempo.

Para além do cordeiro, existem opções vegetarianas, Tagine de frango, Harees e aquela que poderá ser a iguaria mais "difícil" de provar: carne de camelo – especialmente se antes se esteve a passear em cima de um. Com alguma hesitação, provamos, mas não repetimos, uma vez que a carne não era muito tenra – pelo menos não tanto quanto esperávamos.

Platinum Heritage
Pão a ser feito no acampamento. créditos: Ana Oliveira

Ainda que possa causar estranheza, é neste tipo de momentos que nos devemos distanciar da nossa realidade e ter em conta o contexto histórico-cultural.

Para os beduínos, grupo semi-nómada de habitantes do deserto, os camelos eram muito importantes para a sua sobrevivência. Conhecidos como “navios do deserto”, os camelos serviam de meio de transporte, eram fonte de alimentação e símbolo de riqueza. A pele do animal também era aproveitada para fazer tendas, sapatos e roupa quente para os meses frios de inverno, enquanto que o pelo servia para fazer tapetes.

Satisfeitos, fazemos uma pausa na zona lounge onde experimentamos a shisha aromática.

Com tudo às escuras, observamos as estrelas que, noutros tempos, indicavam o norte aos beduínos, e aprendemos a identificar constelações.

Seguem-se as sobremesas que incluem as saborosas lugaimat, também conhecidas como donuts do Médio Oriente.

Quem quiser, pode terminar a refeição com um café arábe ou leite de camelo que, ainda que nutritivo, não nos atrai como digestivo. Deixamos para uma próxima vez, é sempre mais uma razão para regressarmos.

Entretanto, chega a hora de regressar à cidade.

 *O SAPO Viagens viajou a convite do Turismo do Dubai

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