Praias de areia branca e fina, mar com águas mornas e cores arrebatadoras e uma vegetação tropical exuberante. Conhecer as Seychelles ou a República das Seicheles, um idílico país constituído por 115 pequenas ilhas, quase perdido na imensidão do Oceano Índico, é transportar o melhor da nossa imaginação para a realidade. E a verdade é que o que os nossos olhos vêem supera as nossas melhores expetativas.

As praias de sonho que nos habituámos a ver nos catálogos de viagens existem e não precisam de retoques ou de filtros. As cores vivas e intensas de uma natureza praticamente virgem são muito mais belas do que as nossas câmaras, por muito boas que sejam, conseguem captar. Talvez por serem ilhas isoladas, talvez por terem sido colonizadas apenas nos últimos 300 anos, o certo é que muitas das paisagens das Seychelles se mantêm intactas desde há milhares de anos. Nós agradecemos.

A República das Seicheles é o país mais pequeno do continente africano. Situada a nordeste de Madagáscar, foi avistada pela primeira vez, de acordo com os registos europeus, pelo português Vasco da Gama, em 1502, numa das suas viagens à Índia. A ele se deve o nome das ilhas Amirante (de Almirante). Dada a falta de recursos, os portugueses não se interessaram pelas ilhas e foram os franceses, apenas em 1756, que iniciaram o controlo do arquipélago.

Foram, então, nomeadas em honra de Jean Moreau de Séchelles, ministro das Finanças de Luís XV. No final do século e até 1812, os britânicos disputaram com os franceses o controlo destas ilhas, que pertenciam às vizinhas Maurícias. Em 1903, a Grã-Bretanha assumiu o controlo das Seychelles até à independência em 1976.

A influência destes países é notória: aos franceses se deve a maioria dos nomes das ilhas e das praias e a religião católica, que é praticada por cerca de 95% da população; dos ingleses, ficou a condução à esquerda e uma réplica do Big Ben, colocada numa das rotundas principais da capital Victória, nome que também é uma homenagem à rainha britânica com o mesmo nome.

Localizado a sul do Equador, este país é constituído por ilhas graníticas, que são chamadas as ilhas internas e das quais fazem parte as principais Mahé, Praslin, La Digue e Curieuse, e por ilhas coralinas, que são planas e sem nenhuma água doce. São as chamadas ilhas externas e espalham-se por uma área que atinge os 1200 quilómetros.

Além das paisagens de cortar a respiração, as Seychelles têm temperaturas amenas durante todo o ano. O clima é tropical com humidade elevada, sendo mais fresco e seco entre maio e setembro, devido às monções vindas de sudeste. Em julho e agosto, é habitual as temperaturas baixarem até aos 28 graus. A estação húmida, que vai sensivelmente de novembro a abril, é influenciada pela monção de noroeste, mas é aqui que se registam as temperaturas mais elevadas (31 graus). A água do mar varia entre os 26 e uns impressionantes 30 graus em março e abril.

Foi precisamente esta a altura em que visitei as Seychelles. Durante 15 dias, percorri Mahé, a ilha principal, Praslin, a segunda maior, e La Digue, celebrizada pelo deslumbrante cenário de Anse Source d’Argent, que merece o título de uma das praias mais bonitas do mundo.

A entrada e saída deste país faz-se por Mahé, onde se situa o aeroporto internacional, mas decidi deixar esta ilha para último e seguir de imediato para Praslin, pelo que, à chegada, apanhei um voo interno pela companhia Air Seychelles, que dura apenas 15 a 20 minutos. Há também a possibilidade de apanhar um ferry para a ilha, mas os horários são mais reduzidos e a viagem demora mais tempo, cerca de 1 hora e 15 minutos. Nesta primeira parte da minha viagem, vou partilhar algumas curiosidades sobre a segunda maior ilha das Seychelles.

Praslin: a ilha do coco do mar

Com cerca de 40 quilómetros quadrados, Praslin é uma ilha granítica e, na maior parte do seu território, coberta por floresta tropical. Quer isto dizer que está garantido o cenário de praias paradisíacas com rochas de formatos originais e uma vegetação abundante, constituída essencialmente por coqueiros e palmeiras.

Estas formações rochosas têm cerca de 700 milhões de anos e devem-se ao facto de, nesse período, estas ilhas fazerem parte de um supercontinente que, mais tarde, se viria a separar. Não tão antiga, mas ainda do tempo dos dinossauros, a floresta de palmeira natural que se encontra nesta ilha é notável e impressionante. No coração de Praslin, encontramos o parque de Vallée de Mai (Vale de Maio), considerado Património da Humanidade pela UNESCO em 1983.

Quase no seu estado original, aqui encontramos várias espécies de palmeiras endémicas das Seychelles, das quais se destaca a que produz o coco de mar (coco de mer é o nome original), árvore que pode chegar aos 25 metros de altura. Praslin e Curieuse são os únicos locais do mundo onde podemos ver esta árvore no seu estado selvagem. Com um formato muito curioso, como se fossem uns glúteos femininos, o seu fruto é a maior semente do mundo e pesa entre 15 a 30 quilos. Mas esta curiosa palmeira, produz também uma semente masculina, que é comprida e estreita.

É um dos maiores atrativos deste parque com 19,5 hectares. Aberto a partir das 8.30 horas e até às 16 horas, tem três trilhos que podemos percorrer livremente com a ajuda de um mapa que nos é fornecido à entrada ou recorrendo a um guia. De qualquer das formas, nos locais considerados mais interessantes, encontram-se placas informativas que nos vão ajudando a saber mais sobre esta floresta encantada.

Além das plantas, há também animais endémicos, que só encontramos nesta ilha, como o papagaio preto, considerado o pássaro nacional das Seychelles. Existem apenas entre 500 a 900 exemplares desta ave. Para chegar a este parque, cuja entrada custa cerca de 20 euros, podemos facilmente apanhar um autocarro. O bilhete, seja qual for o destino, custa cerca de 50 cêntimos e é a forma mais barata de nos deslocarmos.

Depois desta viagem por um passado que nos faz lembrar o filme Parque Jurássico, é hora de renovarmos energias na praia. Fiquei instalada numa guest house junto a Côte d’Or e foi uma agradável surpresa. Esta é uma das zonas mais bonitas da ilha, com um areal extenso quando a maré baixa e com vista para as ilhas Curieuse e St. Pierre. A água é quente e, na maior parte das vezes, calma. As cores são intensas e revigorantes.

Para conhecer outras praias da ilha, o ideal será alugar um carro. Um dia é suficiente para percorrer tanto a costa leste como a costa oeste. A única preocupação é ter de conduzir à esquerda. Anse Consolation, Anse Possession e Baie Ste. Anne são zonas que merecem uma paragem para apreciar a vista e tirar umas fotografias, mas o lugar que impõe uma pausa mais prolongada é Anse Lazio, no norte da ilha.

Esta é das praias mais belas das Seychelles e, se na maior parte dos locais, o mar apresenta tonalidades esverdeadas, muito devido à intensa vegetação, nesta zona, a água é intensamente azul. Tem a profundidade certa e a tranquilidade necessárias para desfrutarmos do melhor que a natureza nos oferece. E, como bónus, podemos ainda fazer snorkeling para vermos alguns peixes coloridos.

Nesta praia, vale a pena almoçar no restaurante Bonbon Plume, um dos melhores da ilha. A oferta é diversificada embora o destaque vá para a cozinha crioula, que tem como base o caril. Os produtos são frescos e muito bem confecionados, ao contrário de outros locais da ilha. O preço é elevado, mas está dentro do praticado nas Seychelles. Aliás, o nível de vida neste país é muito elevado, o que se deve, sobretudo, ao facto de aqui não se produzir praticamente nada e ter de se importar quase tudo.

E é em Anse Lazio que encontramos as famosas tartarugas terrestres, que podem viver até aos 250 anos. É uma experiência mágica poder estar perto destes animais tão pacatos e quase indiferentes à presença humana, mas que apreciam bastante o nosso afeto. Podia ficar horas a dar festas a estas tartarugas gigantes que, se pudessem falar, teriam certamente histórias muito interessantes para contar.

Voltei a encontrar mais tartarugas na ilha Curieuse, a cerca de 500 metros de Praslin, uma ilha para onde foram levados os leprosos quando as Seychelles foram fustigadas por esta doença, no século XIX. É também nesta ilha que encontramos a maior comunidade de tartarugas, cerca de 300, numa espécie de santuário, depois da sua população ter sido exterminada com a chegada dos franceses.

Na ilha, encontramos um museu de ecologia que conta a história da ilha e foi neste local que li que o coco de mar foi assim nomeado pelos portugueses, que pensavam inicialmente que o coco crescia no fundo do mar quando o avistavam a flutuar ao largo das Maldivas. A ilha Curieuse merece uma visita e tem praias absolutamente deslumbrantes. Este passeio fica completo com uma paragem junto à ilha St. Pierre para fazer snorkeling. Apesar de se encontrarem alguns peixes exóticos, olhar para o fundo do mar é uma desilusão, já que os corais estão praticamente mortos. Voltei a fazer snorkeling em La Digue, mas isso fica para o próximo artigo.

Por Helena Simão, blogger do Starting Today